Depois de Manoel Oliveira ter sido afastado pela justiça em setembro, agora foi a vez de seu sucessor, Ricardo Souza, mais conhecido como Ricardinho, anunciar a renúncia ao cargo de presidente da Confederação Brasileira de handebol (CBHb). O cartola foi suspenso por dois anos pelo conselho de ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) por conta de uma acusação de assédio moral e sexual a uma funcionária, mas se mantinha na direção da entidade graças a uma liminar.
Ricardinho, no entanto, não resistiu à pressão do COB, que se recusava a liberar recursos para a CBHb enquanto ele continuasse como presidente. Com medo de prejudicar a participação do Brasil no Mundial masculino, que será disputado em janeiro, o dirigente decidiu escrever nesta quinta-feira uma carta de renúncia.
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, NO INSTAGRAM E NO FACEBOOK
Atualmente, a CBHb não tem nenhum patrocinador e depende financeiramente do COB. A preparação da seleção masculina já foi prejudicada porque a participação da equipe na Missão Europa foi cancelada por conta da presença do cartola no cargo de presidente.
ENTENDA A CRISE
A crise dentro da CBHb explodiu em 2018, quando Manoel Oliveira, que era presidente desde 1989, foi afastado pela Justiça por mau uso do dinheiro público. Quem assumiu a entidade foi Ricardinho, que até então era vice-presidente. Na época, por conta de cortes no orçamento, mas também das acusações de corrupção, a modalidade perdeu os patrocínios do Banco do Brasil e dos Correios.
Ricardinho ficou dois anos como presidente e foi justamente quando ele estava no cargo que ocorreu a denúncia de assédio moral e sexual. A funcionária da entidade acusa o dirigente de ter tentado inclui-la, sem o consentimento dela, como acompanhante no quarto do hotel dos presidentes de confederações durante os Jogos Pan-Americanos, ano passado, em Lima.
A suspensão de dois anos das atividades do movimento olímpico só veio a tona em agosto, quando Ricardinho já não era mais o presidente da CBHb. Manoel Oliveira conseguiu uma liminar que o levou de volta ao cargo em março.
Mas um mês depois da punição ter vazado, Manoel Oliveira foi novamente afastado pela Justiça e quem fez uso de uma liminar para assumir o cargo foi Ricardinho, que agora se despende da presidência da CBHb.
No meio dessa crise sem precedentes, quem mais perdeu foi a seleção masculina de handebol. Dirigida por Washington Nunes em 2019, a equipe conseguiu em janeiro a melhor participação da história em Mundiais ao terminar em nono lugar. Mas, poucos meses depois, foi muito mal nos Jogos Pan-Americanos e acabou eliminada na semifinal pelo Chile.
Com o resultado, não conseguiu a vaga direta para os Jogos Olímpicos e o cartola decidiu demitir Washington Nunes para contratar o espanhol Daniel Gordo.
O novo técnico, no entanto, só comandou o Brasil na disputa do Torneio Centro Sul-Americano, em janeiro de 2020. A seleção masculina ficou com o vice-campeonato, mas garantiu a classificação para o Mundial.
Tudo estava encaminhado para Daniel Gordo dirigir o Brasil no Pré-Olímpico, mas veio a pandemia, que adiou tudo para o ano que vem e, quando Manoel Oliveira reassumiu a entidade, o treinador foi demitido.
A presença de Ricardinho na direção da CBHb, no entanto, foi alvo de protestos dos próprios atletas. A principal estrela da seleção feminina, Duda Amorim, e o capitão da masculina, Thiagus Petrus, se posicionaram contra o cartola, que, mesmo assim, insistiu em permanecer no cargo.
Por conta disso, o COB cancelou a fase de treinamentos que ocorreria durante a Missão Europa visando o Mundial de janeiro. Para evitar mais represálias, Ricardinho chegou a pedir um afastamento de 30 dias na semana passada, alegando “tosse crônica”, mas a pressão continuou.
O COB não aceitava afastamento. Queria a renúncia, que veio com a carta escrita pelo cartola, cuja íntegra está abaixo:
“É do conhecimento de todos o que ocorreu na mina vida nos últimos meses. Fui alvo de um linchamento moral que nem os piores criminosos do país sofreram. Não tive sequer o direito de cumprir a pena a que fui condenado após os recursos, direito este conferido a qualquer criminoso do país, mesmo na certeza da injustiça feita contra minha pessoa.
Apesar disso e de toda a perseguição política que sofri, acredito que consegui deixar a Confederação Brasileira de Handebol melhor do que estava quando assumi a presidência, com importantes conquistas diante de um dos piores cenários financeiros encontrado na CBHb.
Agora a verdade começa a transparecer, tanto que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro me deu o direito de retornar ao cargo do qual fui afastado. Temos uma biografia límpida construída ao longo de 30 anos dedicados ao esporte, e isto será provado em breve.
Mesmo tendo o direito de permanecer no cargo para o qual fui eleito democraticamente, assegurado por uma decisão judicial, resolvi renunciar à presidência da entidade, para que a perseguição dirigida à minha pessoa não acabe por prejudicar todo o handebol, que é um patrimônio do povo brasileiro, e que as pessoas passam, mas as instituições ficam. Muitos já passaram e a CBHb e o handebol permanecem.
Por amor ao esporte, ao qual tenho muito zelo e gratidão, além de todos aqueles que fazem e fizeram o handebol nacional, renuncio de forma irretratável e irrevogável ao cargo de primeiro vice-presidente (atualmente no exercício da presidência) da CBHb”.