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Handebol

Polêmico, Manoel Oliveira volta à CBHb e decide demitir treinador

Longe do cargo por decisão judicial desde 2018, presidente justificou o desligamento do técnico como corte de gastos durante a pandemia

Presidente da CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) - Manoel Oliveira - volta ao comando
Manoel Oliveira voltou ao cargo depois de 23 meses afastado (divulgação)

Depois de 23 meses, o presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) volta a assumir o cargo máximo da entidade. No comando desde 1989, o sergipano Manoel Luiz Oliveira estava afastado desde abril de 2018 por decisão judicial, acusado de irregularidades no uso de convênios públicos.

Como os denunciantes do presidente não deram continuidade à ação popular na Justiça Federal, a liminar de afastamento caiu e Manoel pôde retornar ao cargo para continuar o mandato que dura até 2021.

O vice-presidente Ricardo Luiz de Souza, o Ricardinho, que atuou em seu lugar durante toda o afastamento, retoma a posição de segundo nome da entidade brasileira do handebol.

Irregularidades

A ação popular contra Manoel Oliveira, que inicialmente foi protocolada na Justiça Federal de Brasília, responsabilizava o dirigente pelo desvio de recursos públicos do Ministério do Esporte na realização do Mundial de Handebol Feminino de 2011, disputado em São Paulo.

Para o torneio, a Confederação fez um convênio com o Ministério do Esporte no valor de R$ 5,9 milhões. Essa parceria foi firmada apenas no dia 2 de dezembro de 2011, dia do início do campeonato. E a abertura de envelope com propostas de empresas para prestação de serviços aconteceu um dia depois, em 3 dezembro.

Portanto, segundo o tribunal, os gestores da CBHb teriam escolhido todos os fornecedores das licitações de forma antecipada e, mesmo depois do evento já ter começado, tentaram criar lastro documental que justificasse as contratações já executadas.

À época, o juiz federal Rolando Valcir Spanholo acatou pedido de liminar de seis federações estaduais e determinou o afastamento imediato de Oliveira citando “graves prejuízos à execução dos programas de promoção e manutenção do handebol brasileiro” e “absoluto desrespeito às normas que regulam a aplicação dos recursos públicos repassados”.

Volta ao comando

Depois de um ano e meio, no entanto, o juiz de Brasília declarou-se incompetente para julgar o processo e passou a ação para Sergipe. O novo juiz responsável, Ronivon de Aragão, acatou um argumento da defesa que dizia que a ação popular não incluia cópias dos títulos eleitorais dos denunciantes e solicitou a apresentação dos documentos.

Com a falta de resposta dos autores, o juiz de Sergipe decidiu extinguir o processo no dia 9 de março de 2020 e liberou Manoel Oliveira para voltar ao comando da Confederação.

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Prestação de contas

Antes do retorno de Manoel, Ricardo Luiz de Souza foi o presidente em atividade de abril de 2018 a março de 2020. Ricardinho, como é conhecido, teve ainda que enfrentar uma crise financeira na entidade, com a perda dos patrocínios do Banco do Brasil e dos Correios na ordem, segundo a entidade, de R$ 10 milhões e R$ 800 mil, em 2017/2018.

 O vice-presidente Ricardo Luiz de Souza ficou no comando da Confederação durante 23 meses (Foto: Luis Macedo/ Câmara dos Deputados)
O vice-presidente Ricardo Luiz de Souza comandou a Confederação durante 23 meses (Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Mesmo com o cenário desfavorável, Ricardinho deixa a presidência satisfeito: “Acredito que superamos muitas dificuldades e obstáculos e conseguimos realizar o planejamento elaborado para 2019. Realizamos e participamos de todo o calendário nacional e internacional. Estamos satisfeitos pelo que realizamos diante de um cenário muito ruim.”

Antes de voltar à vice-presidência, Ricardo fez questão de divulgar uma prestação de contas com todas as ações que realizou durante sua gestão.

“Entendemos que devemos informar as realizações para a enorme comunidade do handebol, de forma clara, para que estas informações cheguem a todos. Em regra, é apresentado um relatório na assembleia geral ordinária, mas que, na maioria das vezes, não chega para os segmentos que fazem o handebol”, explicou o cartola ao Olimpíada Todo Dia.

Mudança da sede

Além de medidas como redução do quadro de funcionários e congelamento de dívidas, uma decisão tomada durante a gestão de Ricardinho para reduzir custos foi mudar a sede da CBHb de Aracaju, no Sergipe, para São Bernardo do Campo, em São Paulo.

Segundo a prestação de contas, o fechamento da sede em Aracaju possibilitou uma redução em torno de R$ 86,4 mil por ano.

“A decisão final foi nossa, mas a autorização já havia sido dada pela assembleia geral em 2014″, explicou Ricardinho. “Já havia um indicativo para esta mudança,  já que o Centro Nacional de Desenvolvimento do Handebol, em São Bernardo, é um legado olímpico. E, com a saída dos dois patrocinadores, passamos a não ter recursos financeiros para arcar com o aluguel da sede, precisamos cortar gastos, e tínhamos um local onde não teríamos custos para seu funcionamento”, completou.

Natural de Aracaju, antiga cidade-sede, Manoel Oliveira mantém um escritório na cidade, mas confirmou a manutenção da CBHb em São Bernardo com seu retorno.

“O CNPJ da Confederação Brasileira de Handebol é de Aracaju”, explicou. “Apesar de atualmente termos atividades em Aracaju, Maceió e São Bernardo do Campo, o futuro da Confederação é em São Bernardo do Campo.”

Presidente Manoel Luiz Oliveira está no comando da CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) desde 1989 (Foto: Divulgação)
Manoel Luiz Oliveira é presidente da CBHb desde 1989 (Divulgação)

Nova gestão

Sobre possíveis diferenças na gestão com o retorno de Manoel ao cargo máximo da entidade, Ricardinho foi diplomático na resposta.

“É difícil avaliar, pois cada pessoa tem uma forma de gestão. Mas acredito que teremos mudanças em cargos e funções, mudanças em pessoa e formas de pensar a modalidade.”

Ao retomar seu comando durante a pandemia do coronavírus, Manoel Oliveira também aproveita o momento para refazer planejamentos.

“Estamos revendo tudo o que estava programado e planejado a fim de adequar ao momento presente. Este tempo está permitindo que possamos melhorar todos os processos mantendo os que deram certo e realizando aquilo que for de extrema relevância para o esporte. Não se trata de fazer diferente. A realidade é totalmente distinta de tudo o que fizemos e vivemos no passado. Portanto, vamos fazer o nosso melhor dentro desta nova conjuntura”, projetou o presidente.

Primeira medida

Como primeira ação depois do retorno ao cargo da CBHb, Manoel Oliveira decidiu demitir o técnico da seleção masculina principal, o espanhol Daniel Gordo.

Apresentado no final de novembro de 2019, Daniel teve pouco tempo no comando da equipe e participou de apenas uma competição, o Centro-Sul-Americano da modalidade, disputado em janeiro, no Paraná. Na ocasião, a seleção ficou com o vice-campeonato após uma derrota apertada para a Argentina.

Na época da contratação, o presidente em atividade Ricardo de Souza afirmou que Gordo chegava para “dar continuidade ao legado de Jordi Ribera”, o espanhol que treinou a seleção nos Jogos do Rio, em 2016.

técnico espanhol Daniel Gordo havia sido contratado no final de novembro de 2019 (Foto: Divulgação)
Espanhol Daniel Gordo havia sido contratado no final de novembro de 2019 (Divulgação)

Daniel Gordo substituiu Washington Nunes, técnico na campanha dos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. Com Nunes, a seleção não conseguiu na capital peruana a vaga olímpica para Tóquio 2020, sendo eliminada da competição na semifinal.

Após uma combinação de resultados, os brasileiros obtiveram uma nova chance de conquistar a vaga para Tóquio através do Pré-Olímpico Mundial, que originalmente aconteceria entre 17 e 19 de abril. Era especialmente para essa competição que Dani Gordo havia sido contratado.

Motivo da demissão

Com a pandemia do coronavírus, os torneios pré-olímpicos foram adiados e, segundo o presidente Manoel Oliveira, foi por este motivo que o espanhol foi dispensado depois de menos de seis meses no cargo.

“O contrato com o técnico Daniel Gordo era previsto até o mês de abril, ou seja, até data da realização do torneio Pré-Olímpico, o qual é nosso primeiro objetivo importante do calendário. Com o adiamento do mesmo e, com as demais atividades programadas suspensas, analisamos junto à Direção Técnica que era a melhor decisão no momento”, explicou Manoel.

“As questões da pandemia e dos recursos, também foram pontos relevantes para a essa decisão. Realmente estamos num momento delicado. Não sabemos quando poderemos retornar às atividades normais. Então, o momento é de cautela”, completou.

O presidente afirmou ainda que a CBHb está avaliando e analisando possíveis nomes para o comando da seleção e que a escolha será divulgada “no momento oportuno”.

Pouco tempo

Para os jogadores da seleção brasileira, a demissão do atual treinador foi uma surpresa. “Estamos igual o futebol, em menos de um ano já trocamos de técnico duas vezes”, brincou Fabio Chiuffa, jogador do Dobrogea Sud, da Romênia.

Com pouco tempo de convivência com Daniel Gordo, os jogadores acham difícil avaliar o período do espanhol no comando da seleção.

“A gente teve pouco tempo de contato com ele, foram apenas 20 dias e uma competição. Mas os técnicos espanhóis hoje sempre são bem inteligentes, têm um estilo de jogo muito parecido com o do Jordi (Jordi Ribera). Como ele já tinha trabalhado um pouco com o Jordi, ele tentava implantar o projeto de jogo que o Jordi tinha deixado”, contou Haniel Langaro, que atua no Dunkerque, da França.

“Acho difícil falar do trabalho dele até porque ficou pouco tempo no cargo. Espero que isso não nos atrapalhe porque temos coisas importantes no futuro, como conseguir uma vaga para Toquio”, lembrou Chiuffa.

Seleção masculina de handebol ainda busca vaga nos Jogos de Tóquio em 2021 (Foto: Divulgação/CBHB)
Seleção masculina ainda busca vaga nos Jogos de Tóquio em 2021 (Divulgação/CBHB)

Fez diferença

Para Rogério Moraes, do Vezprém, da Hungria, apesar dos poucos dias no comando, Dani Gordo já trazia aspectos positivos para a seleção.

“Do meu ponto de vista, ele foi um treinador muito bom, que não inventava muita coisa, trouxe um pouco do sistema dos treinadores espanhóis pra gente, acredito que isso foi muito positivo”, opinou Rogério.

“Por agora eu não sei dizer se isso é bom ou ruim, mas é uma decisão que a Confederação tomou e a gente tem que aceitar. Como atleta, a gente só tem que aceitar quem for vir como novo treinador, treinar e fazer nossa parte dentro de quadra”, completou o jogador.

Sobre o retorno de Manoel Oliveira ao comando da Confederação Brasileira, Rogério manteve um olhar otimista sobre a questão.

“Acredito que todos que gostem de handebol, nós atletas, esperamos que esse retorno dele seja pra somar com o handebol brasileiro, que ele possa inserir coisas que façam o handebol crescer ainda mais no Brasil, melhorando nossa imagem, correndo atrás de patrocínio e nos ajudando ainda mais.”

Futuro da modalidade

Em um momento de incertezas no Brasil e no mundo, Manoel Oliveira terá um grande desafio no retorno à presidente da CBHb. A começar pelo planejamento.

Com as mudanças no cenário mundial, os torneios Pré-Olímpicos devem acontecer apenas em 2021. Em janeiro do próximo ano, a seleção planeja também competir no Mundial da modalidade no Egito. Mas tudo depende do coronavírus.

“O Esporte, Mundial e Nacional, está passando por uma situação extremamente difícil, com o agravante da pandemia. Estamos trabalhando para conseguirmos juntos superar estas adversidades, em prol da modalidade. O handebol deve estar acima de todos os interesses pessoais para termos sucesso. Um ponto de extrema relevância para todos nós, é a conquista da vaga olímpica pela seleção masculina. Portanto, dentro de quadra o que desejamos e vamos buscar é a qualificação para os Jogos de Tóquio”, disse o presidente da CBHb.

O adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 ao menos trouxe um lado positivo nas mudanças do handebol brasileiro: agora há tempo de sobra para treinar bem, conseguir uma vaga para a Olimpíada e – o que todos esperam – arrumar a casa.

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