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Pan 2019

Campeão da Champions abandona Seleção após jogar pouco no Pan

Após ser menos utilizado do que gostaria durante os Jogos Pan-Americanos, o pivô Rogério Moraes anunciou seu afastamento da Seleção Brasileira de handebol masculino

Wander Roberto/COB

Nas últimas três temporadas, o pivô Rogério Moraes defendeu o Vardar, da Macedônia. Pelo clube, chegou nos três anos ao Final 4 da Champions League de handebol, conquistando o título em 2017 e em 2019. O sucesso no exterior não é diretamente proporcional às oportunidades do atleta na Seleção Brasileira. Ele não confirma isso oficialmente, mas pessoas próximas ao jogador garantem que o fato dele ter jogado pouco nos Jogos Pan-Americanos foi o principal motivo do anúncio, feito por ele semana passada pelas redes sociais.


É estranho um atleta de apenas 25 anos, no auge da carreira, pedir para não ser mais convocado pela Seleção Brasileira. Por conta disso, o Olimpíada Todo Dia entrou em contato com Rogério Moraes, que está na Hungria fazendo pré-temporada com seu novo clube, o Veszprem. “É uma decisão pessoal. Talvez no futuro eu volte, se acharem que posso contribuir 100% com a Seleção, assim como nos clubes que eu joguei aqui na Europa”, afirmou o pivô.

O técnico da Seleção Brasileira, Washington Nunes, disse que foi pego de surpresa com o anúncio feito por Rogério Moraes. “Eu particularmente fiquei bastante surpreso com o afastamento dele. Eu sei o quanto ele trabalhou e o quanto ele foi intenso, mas, infelizmente, na hora da competição ele não conseguiu apresentar o rendimento que ele esperava e que foi o rendimento que ele apresentou durante a Champions League. Na equipe do Brasil, ele teve um rendimento bem inferior. Acho que isso deixou ele bastante preocupado e decepcionado”.

Rogério Moraes não concorda com as explicações do treinador. Ele não entende porque não é aproveitado na Seleção como é nos clubes da Europa, onde disputa torneios do mais alto nível do handebol internacional. O atleta acredita que nunca teve o merecido espaço na equipe nacional e que, por causa disso, preferiu se afastar.

“Acho que o treinador tem o direito de se posicionar, mesmo que de forma equivocada nas suas palavras. Acho que sim, fiquei decepcionado pelo resultado final, coletivo! O fato de estar fora de uma Olimpíada decepciona qualquer atleta de alto rendimento. Se não ficar p… após uma derrota assim, é melhor abandonar o esporte! Por outro lado, minha performance no Pan não foi a que eu esperava com toda certeza, mas não foi ruim dadas as oportunidades que eu tinha no jogo. De 21 arremesos, 15 foram gols, média de aproximadamente 70%. Infelizmente, eu jogo numa posição que a equipe precisa jogar comigo e o treinador fazer o time jogar comigo com as minhas características, coisa que não acontece na seleção. Muitas vezes, querem mudar meu estilo de jogo!”, respondeu o atleta.

“No clube não tenho esse problema, o treinador entende minhas características e explora ao máximo isso, fazendo com que, em qualquer oportunidade, joguem comigo. Talvez, esteja aí a diferença de como eu jogo no clube e na Seleção tenho ‘um rendimento bem abaixo'”, completou o pivô.

Outro argumento utilizado pelo treinador da Seleção Brasileira tem a ver com as condições físicas de Rogério Moraes. “Ele vem de uma cirurgia de joelho e está melhorando fisicamente, mas ainda não está num estágio de prontidão e acho que tem um certo luto que ele e alguns meninos vão ter que viver. Ele preferiu tomar a decisão de não se apresentar para, provavelmente, estar totalmente inteiro e assim que ele julgar que está totalmente nas condições, ele talvez possa reverter esse pensamento”.

Rogério Moraes já se apresentou ao Vezprem, da Hungria, seu novo clube (Reprodução/Instagram)

Mais uma vez, Rogério Moraes rebate o que disse Washington Nunes. “Sobre minha cirurgia no joelho, eu estou recuperado desde fevereiro, quando voltei a jogar pelo meu ex-clube, e joguei bastante até o fim da temporada, dia 3 de junho, sem problemas. Depois do Pan, já me apresentei no meu novo clube aqui, fiz todos os exames médicos, estou treinando normalmente com a equipe e, inclusive, nem pedi folga de tão bem que me sinto fisicamente. Eu sempre estou de prontidão para fazer o que eu amo e o que mudou minha vida que é jogar handebol”, garantiu o atleta.

Por outro lado, Washington Nunes prefere entender a decisão tomada por Rogério Moraes ao invés de julgá-lo. “Esse momento a gente tem que entender que é o momento de cada atleta. A gente quer contar com os melhores e, no momento de contar, a gente vai ter que saber se eles querem ou não se apresentar. Isso é uma coisa para o futuro. A nossas próximas etapas vão ser de preparação para o Pré-Olímpico. O nosso próximo encontro é em outubro. Até lá muita coisa vai acontecer. A derrota do Pan vai assentar e todo mundo vai entender quais são os próximos passos e a gente vai buscar essa vaga custe o que custar porque é uma questão de honra nossa buscar essa vaga olímpica”, garantiu.

O Brasil, no entanto, ainda não sabe se terá a oportunidade de disputar o Pré-Olímpico. Nona colocada no Campeonato Mundial, a Seleção precisa torcer para o Egito ser campeão africano, em janeiro do ano que vem, para que a equipe herde a vaga para ter a chance de brigar pela vaga na Olimpíada de Tóquio.

Já Rogério Moraes acredita que chegou a hora de mais mudanças aconteceram no handebol brasileiro. “Eu sou apenas um jogador, entre vários outros que estavam no Pan. Ele (Wahshington Nunes) achar que eu fui abaixo, eu não concordo, mas aceito a crítica. É sempre bem vinda pra eu estar melhorando ainda mais. Porém, acredito que muita coisa precisa ser reavaliada, uma vez que temos muitos jogadores talentosos de nível internacional, e ir pra um Pan de seleções na Groenlândia e perder na final de muito, e ficar em 3º no Pan que da vaga pra uma Olimpíada não é normal “, finalizou o pivô, se referindo também ao vice-campeonato no Pan-Americano disputado ano passado.

Por sua vez, Washington Nunes fez um balanço da participação do Brasil nos Jogos Pan-Americanos. Pela primeira vez desde 1987, o país não chegou à final do torneio de handebol masculino, que dava ao campeão a classificação para a Olimpíada. “Primeiro acho que tem uma avaliação do percurso, da fase de treinamento e depois a fase competitiva. Acho que o percurso foi excelente, tivemos uma baixa significativa que foi a ausência do Zé Toledo. Ele machucou o joelho e, quando se apresentou estava sem condições de dar continuidade, e acabamos tendo que cortá-lo. Trabalhamos bastante bem. Toda fase de preparação a gente julgou ser muito boa. O nível de preparação física estava muito alto, inclusive com acompanhamento do pessoal da bioquímica do COB, que chegou a questionar se a gente foi treinar em altitude de tanto que eles estavam bem fisicamente. Então, esse é um quadro positivo e, taticamente, a gente acreditou ter trabalhado muito bem. O resumo é que o percurso foi excelente, mas o resultado foi bem abaixo do que a gente esperava”, analisou o treinador.

Se a preparação foi boa, o que faltou foi ritmo de jogo para que a equipe pudesse apresentar o mesmo nível que a levou, em janeiro, ao nono lugar do Mundial, que foi o melhor desempenho da história. “Pensando um pouco numa organização de jogo e de atleta, é bastante significativo quando eles têm uma temporada de jogos e a gente não teve essa temporada. A gente praticamente entrou no Pan para jogar a primeira partida do ano, na verdade, da temporada deles”, explica. “Também participamos de uma chave teoricamente um pouco menos forte e isso não dá um jogo difícil para gente. Do outro lado, tinham três equipes fortes e mais os Estados Unidos, que estão em crescimento. Então, todo mundo jogou três partidas fortes. Deu para testar um pouco a equipe contra uma equipe difícil. A gente teve o primeiro time teoricamente difícil na semifinal contra o Chile”.

“Durante a competição, nós fomos mal. Não conseguimos ser regular. Fomos muito inconstantes. Em alguns momentos a equipe jogou muito bem e, em alguns momentos, com dificuldade, mostrando erros que a gente não vinha cometendo e não cometeu no Mundial, como as ações de um contra o goleiro e alguns erros defensivos. Isso não nos deu condições de passar pelo Chile. Isso foi muito ruim e a gente acabou indo disputar o terceiro lugar. Na disputa do bronze, a gente conseguiu ser mais regular e jogou melhor a partida”, finalizou.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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