Alessandro Tosim não é mais o treinador da seleção brasileira masculina de goalball. Passados 13 vitoriosos anos no cargo, uma das maiores referências na modalidade dentro e fora das quadras pretende descansar e ficar mais perto da família. No seu lugar, assume Jônatas Castro, que vinha dirigindo a seleção feminina, agora sob comando de Gabriel Goulart. Assistente de Tosim no masculino, Diego Colletes também deixa o cargo e será substituído por Fábio Brandolin.
“É momento de refletir e estar mais próximo da minha família, da minha filha. Foram 13 anos distantes. Minha filha está completando 14 anos, tempo em que me dediquei ao goalball e acabei deixando a família um pouco de lado. Quero tentar estar mais perto delas, curtir o goalball de outra forma e, principalmente, descansar um pouco após tantas vitórias”, diz Tosim, que em mais de uma década enfileirou diversas conquistas. As principais foram:
Jogos Paralímpicos
Ouro em Tóquio 2020
Bronze na Rio 2016
Prata em Londres 2012
Campeonatos Mundiais
Ouro em Malmö 2018
Ouro em Espoo 2014
Jogos Parapan-Americanos
Ouro em Lima 2019
Ouro em Toronto 2015
Ouro em Guadalajara 2011
Campeonatos das Américas
Ouro em São Paulo 2022
Ouro em São Paulo 2017
“O sentimento que fica é de dever cumprido. Falo com muito orgulho que, lá em 2009, quando começamos, tínhamos uma equipe muito modesta. E eu entrego o cargo com uma equipe muito vitoriosa. Costumo comparar que, se nós tivemos o Dream Team no basquete, temos o Dream Team no goalball, que é a seleção brasileira. São muitos atletas qualificados, de altíssima performance esportiva. Em cada fase de treinamento, temos oito atletas que seriam titulares em qualquer seleção do mundo”, garante o treinador, fazendo a comparação com o famoso time de basquete norte-americano que encantou o mundo nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992, quando reuniu atletas como Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird.
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“É um orgulho ter virado uma referência no goalball mundial. Fico feliz por todo o resultado, o trabalho feito não só na quadra, mas na parte acadêmica. Agora é contribuir dessa forma, com artigos, fazendo pesquisa, que é o que gosto muito. Mas deixar claro que não larguei o goalball. Já estou com a escolinha novamente no Peama, de Jundiaí, começaremos os treinamentos na próxima semana. Estou feliz por tudo, e por retomar as origens, trabalhar com crianças com deficiência visual. E, mais adiante, voltar a trabalhar com um time competitivo no cenário nacional”, projeta Tosim, de 46 anos.
“Só tenho a agradecer à CBDV, do presidente a todos os demais membros. Hoje, tenho certeza absoluta de que é uma das maiores Confederações que temos no país, seja do esporte olímpico ou paralímpico. Somos uma referência. Qualquer confederação do Brasil, se quiser aprender como ser uma entidade com profissionais do mais ato gabarito, basta se espelhar na CBDV que terá sucesso”, finaliza.
Nova comissão
Após assumir a seleção feminina ao fim dos Jogos de Tóquio, o paraibano Jônatas Castro, de 39 anos, terá a tarefa de manter os rapazes no topo do ranking. Este ano haverá Campeonato Mundial, a princípio em junho, ainda sem local definido – a China seria o país-sede, mas abriu mão por conta da pandemia.
“Todas as seleções se espelham no nosso time e no trabalho que aqui é realizado. Por isso, o grande desafio vai ser manter o processo de inovação para que possamos permanecer um passo adiante dos principais concorrentes”, avalia.
Já o desafio de conduzir as mulheres no Mundial ficará a cargo do então auxiliar de Jônatas, o mineiro Gabriel Goulart, que foi campeão brasileiro em 2021 com as meninas do Cetefe, de Brasília – onde jogam as alas Jéssica e Kátia, destaques da seleção na conquista do último Campeonato das Américas.
“Foi muito importante essa experiência que tive no trabalho com o Jônatas, principalmente dessa competição internacional ser no Brasil, poder viver com calma cada detalhe. Minha expectativa é muito grande pois temos uma equipe forte com meninas talentosas. O objetivo é manter o trabalho que vinha dando certo. Não tem por que mudar. O que vou acrescentar é meu método de trabalho, coisas do dia a dia. Mas a linha é a mesma”, explica Gabriel, que terá como auxiliar o preparador físico Márcio Rafael.
Tosim fez questão de desejar sucesso aos novos treinadores do Brasil: “O Jônatas, além de profissional do mais alto gabarito, é uma pessoa ética, um ser humano fantástico. O Gabriel, que está assumindo agora a seleção feminina, terá uma missão bastante difícil, mas tenho certeza de que, com muito trabalho e amor, vai atingir os lugares mais altos do pódio. E podem contar comigo no que for necessário.”
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Confira na íntegra a carta de despedida de Alessandro Tosim:
À Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV)
Ilustríssimo Presidente José Antônio Ferreira Freire, prezado secretário geral Helder Maciel Araújo, a querida diretora administrativa financeira Rosane Barros Nascimento, ao amigo gerente técnico e de eventos Felipe Menescal, ao coordenador de seleções, Kelvin Bakos e a todos membros da CBDV que convivi por 13 anos destinados ao goalball brasileiro.
Hoje estou iniciando o jogo mais difícil da minha vida, o de estar nos bastidores, torcendo pelo goalball brasileiro. Nestes 13 anos, foram várias noites sem dormir, pensando em treinamentos, em melhoras táticas, em conversas para potencializar atletas individualmente. Confesso que não foi fácil, mas foi muito prazeroso toda essa transformação, de atletas e equipe bem modesta em 2009, que não acreditava onde poderia chegar, para um time vitorioso, que conquista e encanta o mundo em qualquer competição que esteja.
Nestes anos, vários momentos marcaram, como a conquista da medalha de prata na Copa América em 2009, eu tinha acabado de chegar, treinado 15 dias e partimos para a competição, a classificação entre os oito melhores do mundo em 2010 e a partir daí, só títulos. A primeira medalha de ouro conquistada por uma equipe brasileira nos Jogos Parapanamericanos de Guadalajara (2011), a semi final dos jogos paralímpicos de Londres, em que ganhamos da poderosa Lituania por 2 x 1, o primeiro título mundial em 2014, lá ensinamos o mundo o que era um goalball moderno, o bi dos Jogos Parapanamericanos em Toronto 2015, a conquista do bronze no Rio 2016, o título da Copa América e do Malmo Cup em 2017, a conquista do Malmo Cup e o bicampeonato mundial na Suécia em 2018, o tri dos Jogos Parapanamericanos em Lima 2019 e a tão sonhada medalha de ouro em Tóquio 2021. Encerro da forma como comecei, com a conquista do Bi campeonato da Copa América de 2022, além de 4 conquista individuais como melhor treinador de esportes coletivos pelo Comitê Paralímpico Brasileiro.
Neste meio, a CBDV me proporcionou dar continuidade nos meus estudos, fiz minha tese de doutorado, entrevistando quase todos os treinadores de goalball do Brasil e do Mundo. Além de escrever vários artigos científicos, elevando ainda mais o nome da CBDV, sendo uma confederação que apoia e incentiva seus treinadores a se capacitarem.
Vocês se tornaram uma referência de confederação, uma gestão impecável, profissionais capacitadíssimos, eventos maravilhosos, colocando o atleta em primeiro lugar, e consequentemente, suas modalidades esportivas estão sempre entre as melhores do mundo.
Destaco aqui, os sinceros agradecimentos a todos os profissionais que passaram pela comissão técnica, todos muito competentes e conhecedores da sua área de atuação, em especial ao
professor Diego Colettes, que esteve ao meu lado todos estes anos, com muita competência e sabedoria, transformou fisicamente esses atletas.
Ontem o professor Jonatas me ligou, informou do convite, e expressei minha felicidade em saber que ele assumiria o cargo, profissional capacitado e com espírito vencedor, além de ético e amigo. O mesmo fiz ao professor Gabriel, que vai assumir a missão de conduzir as meninas, desejei muito sucesso a ambos, e que estarei vibrando no sofá da minha casa e ter a certeza que o sucesso continuará na modalidade que tanto amamos.
Por fim, quero destacar que os títulos passam e o que fica são os sentimentos, sentimentos de ter transformado pessoas, que muitas das vezes me ligavam para eu auxiliar no relacionamento pessoal, na condução de algum trabalho, no auxílio em uma faculdade, e principalmente, em poder colaborar no caráter, na índole de cada um desses atletas e membros da comissão técnica.
Encerro aqui, um ciclo da minha vida, escrevo esta carta com os olhos cheios de lágrimas, mas com a sensação de paz no coração e de dever cumprido.
Obrigado CBDV, estarei sempre pronto para ajudar no que for preciso, tenho muito orgulho em fazer parte deste sucesso de confederação.
Vida Longa à CBDV
Alessandro Tosim