O check list da seleção feminina de goalball no início do Campeonato das Américas, torneio de estreia de Jônatas Castro no comando da equipe, tinha três itens. O primeiro, e talvez o mais importante, era modernizar o conceito de jogo. Fazer com que fosse mais imprevisível. O segundo era conseguir uma das vagas que a competição dava para o Mundial da China, e o terceiro, conquistar o título inédito. Ao final da competição, as três metas ‘ticadas’ e energia renovada para disputar contra as melhores seleções do mundo a sonhada taça e também uma vaga nos Jogos Paralímpicos de Paris.
“O determinante foi implantar o novo conceito de jogo, mais moderno, que a evolução da modalidade exigiu e foi exposto na última Paralimpíada. Precisávamos acelerar o processo de implementação de um concento mais dinâmico”, explicou Jônatas Castro, poucos dias após a seleção feminina vencer o Canadá na final do continental por 5 a 0 e levantar a taça. “A gente entrou na competição com três objetivos distintos. O primeiro jogar bem, mostrar o conceito moderno com eficiência. O segundo buscar a vaga para o Mundial e o terceiro, sermos campeões.”
Arremesso modernizado
Ele explica que viu a modernização já bem desenhada nos jogos da fase de classificação. “Surpreendeu positivamente o quanto foi rápido que o grupo assimilou isso. Já estava planejado que ocorresse, com mudanças importantes na convocação”, continua. As mudanças citadas foram as saídas de Carol Duarte e Victória Amorim, dois símbolos da equipe até os Jogos Paralímpicos de Tóquio. Um dos motivos da descontinuidade da utilização de ambas foi o tipo de arremesso das duas, fundamento vital no goalball. É um salto de costas para a meta adversária, seguido do disparo por debaixo das pernas. Jônatas Castro prefere o chute de frente, com ou sem giro, e o implantou como fator de modernização.
“A gente acabou tendo um prejuízo de potência de arremesso com as saídas de Carol e de Victória. Eram as nossas duas principais arremessadoras. Mas precisávamos implantar um novo conceito e esse sexteto era o que estava mais pronto para executar. A partir daí, as meninas que chegarem para as próximas convocações já vão chegar encontrando a seleção com esse novo conceito. É isso que precisamos”, explica o treinador da seleção feminina. “Se for o caso de elas (Carol e Victoria) voltarem, vão precisar se enquadrar. Com a saída delas perdemos em agressividade, mas ganhou em precisão. Os gols que entraram na semifinal e na final, são gols construídos taticamente durante o jogo. Agora queremos alinhar isso com mais potência. Um trabalho de preparação física, fisiologia e nutrição, que é o próximo passo, para o Mundial.”
Estrutura pro Mundial
O Campeonato Mundial de goalball está marcado para Hangzhou, na China, entre 6 e 18 de junho. Serão doze seleções divididas em dois grupos de seis, de onde quatro de cada avançam para o mata-mata em busca da final. As equipes que chegarem na decisão conquistam, além do direito de disputar a taça, as duas vagas que o torneio oferece para os Jogos Paralímpicos de Paris. “Todos os jogos são grandes desafios. Precisamos de uma estrutura que suporte toda a competição, de seis meninas qualificadas para rodar bem o time. Todas precisam estar com a mesma pegada das três titulares para que possamos garantir a vaga paralímpica e, claro, buscar o título.”
O que Jônatas Castro chama de estrutura passa por diversas variáveis de um jogo de goalball. “O principal obstáculo é conseguir sustentação emocional e física. Todas as equipes se classificam a partir dos continentais, serão as melhores de cada continente. Então suportar toda a competição emocionalmente é o grande desafio que vamos precisar trabalhar, com as psicólogas também. Claro que não adianta suportar mentalmente e fisicamente não estar preparado taticamente, não conseguir compreender as instruções de jogo. As equipes lá vão exigir muito de nós, técnicos, para ajustar a tática de acordo com o adversário. Vamos precisar ser mais detalhistas.”
Mais imprevisível
Especificamente sobre a equipe em quadra, o caminho é aperfeiçoar o que já foi feito até aqui, continuar qualificando a modernização. “Já vimos que funciona, agora precisa deixar ainda mais imprevisível. Ele foi imprevisível agora, e precisamos deixar ainda mais, principalmente no aspecto ofensivo. Queríamos que defensivamente a equipe fosse muito bem, e ter zerado a final foi muito importante para sabermos que estamos com uma boa estrutura defensiva. Agora precisamos trabalhar mais ofensivamente para rompermos as defesas adversárias. Rompemos os Estados Unidos, rompemos o Canadá e agora queremos outros desafios com grandes seleções pela frente.”
VITÓRIA BRASILEIRA! Por 5×0, as meninas vencem o Canadá! VIBRA MUITO, GALERA!#CaixaEsportes @loteriascaixa pic.twitter.com/VTQhpt8eJX
— Comitê Paralímpico Brasileiro (@cpboficial) February 22, 2022
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Jônatas Castro também mostrou otimismo em relação ao lado psicológico na seleção feminina de goalball. Espera que o título inédito do Campeonato das Américas alimente o espírito de campeãs, de ver que é possível chegar a conquistas ainda maiores. “Dá para jogar com as principais equipes do mundo de igual para igual, com o mesmo nível do início ao fim”, explica o treinador. “Precisamos continuar avançando, as psicólogas estão fazendo o trabalho delas, mas acho que agora as questões são muito mais pontuais do que de grupo. O grupo está muito bem resolvido.”