Treinar em época de coronavírus não tem sido fácil para nenhum atleta. Cada um faz o que pode – e como pode – para se manter ativo e minimizar os prejuízos físicos e mentais. É o caso da seleção brasileira de conjunto da ginástica rítmica, que conta, porém, com mais um agravante. Afinal de contas, como treinar conjunto sem estar… junto?
Em condições normais, pré-coronavírus, as atletas que compõem a seleção de conjunto do Brasil moram juntas, em dois apartamentos, na cidade de Aracaju, no Sergipe. Treinam de segunda a sábado, em dois períodos, somando de 8h a 10h de treino por dia.
Neste ano, elas estavam em uma missão particularmente especial. Em maio, a equipe disputaria o Campeonato Pan-Americano nos Estados Unidos, último torneio classificatório para os Jogos Olímpicos de Tóquio, e todas as atenções estavam focadas nesse único objetivo: a vaga.
“Vínhamos em uma forte carga de treino nos últimos meses… Abrimos mão das festas de fim de ano para continuarmos o treinamento e chegarmos no ápice da performance no Pan-Americano”, contou Camila Ferezin, técnica da seleção, em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
O plano, porém, foi interrompido. Com o avanço da pandemia de coronavírus, o calendário nacional e internacional de ginástica foi suspenso por tempo indeterminado, incluindo o Pan-Americano de ginástica rítmica. Seguindo as recomendações de isolamento, os treinos fora de casa também foram suspensos e foi definido que as meninas da seleção de conjunto não seguiriam juntas em Aracaju, retornando cada uma para suas respectivas cidades.
Com isso, após matar a saudade das famílias, as quais não viam há meses, e se recuperarem mentalmente e fisicamente, o trabalho segue em suas casas, sob orientação da comissão técnica. As atletas levaram consigo os materiais necessários para treinar e tentar manter o condicionamento físico.
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“É difícil, porque tivemos que deixar de seguir nossa rotina, interromper nosso trabalho. A gente acordava cedo para treinar, tinha um intervalo no almoço e voltávamos ao treino. Depois, à noite, tinha fisioterapia, a gente voltava para casa, jantava e ia e direto para cama descansar para o próximo dia. Agora em casa, eu continuo treinando, mas adaptando do jeito que dá, com menos horas de treino, menos espaço. Mas tentando fazer o máximo possível para não perder a forma”, relatou Nicole Pircio, uma das ginastas que compõe a seleção.
Além de se adaptar a uma rotina bem menos intensa do que a de costume, as atletas da seleção precisam lidar com o fato de não poderem treinar juntas a coreografia, o que resulta em uma perda de sincronia, fator crucial no conjunto da ginástica rítmica, e de performance de maneira geral.
“Infelizmente não temos como trabalhar a parte técnica, que necessitaria das cinco ginastas estarem juntas numa quadra. De fato impossível neste momento. O que orientamos foi que elas assistissem a todos os vídeos que temos das coreografias até o último treino, treinassem individualmente exercícios da coreografia e mantivessem a preparação física”, explicou a técnica da equipe.
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“Como a gente é um conjunto, a gente tem que trabalhar junto o tempo todo. Então vai atrapalhar bastante e quando a gente voltar, vamos ter que começar quase do zero. Mas agora é treinar em casa na medida do possível, fazendo o que dá para fazer, que é treino de aparelho, balé e preparação física”, completou Beatriz Linhares, ginasta da seleção.
A união faz a força
Apesar da distância física, imposta pela pandemia de coronavírus, as meninas do conjunto continuam unidas e conectadas. Elas continuam se falando todos os dias, como se estivessem juntas em Aracaju. “Estamos sempre em contato. Somos como uma família”, disse Nicole.
“A união em primeiro lugar, porque sonho que se sonha sozinho é só um sonho. Mas sonho que se sonha junto é realidade”, completou Duda Arakaki, ginasta da seleção.
A confirmação do adiamento
A notícia sobre o adiamento oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio em decorrência do surto de coronavírus foi como um alívio para as atletas do conjunto da seleção de ginástica rítmica. A indefinição mexeu bastante com o psicológico delas, que se preocupavam em não ter tempo suficiente para garantir a vaga nas Olimpíadas.
“A gente estava bem preocupada enquanto não era confirmado o adiamento. Medo de que não iríamos mais poder treinar e assim não teríamos tempo para nos preparar totalmente. Então a confirmação nos trouxe muita esperança e expectativa de estar lá de novo. O sonho continua”, destacou Nicole.
“Olimpíada significa o encontro dos povos, celebração da amizade, a vida, os melhores atletas em suas melhores performance, com o melhor planejamento possível. Nada disso poderia acontecer com este problema que estamos enfrentando. Então agora é pensar na saúde da humanidade para depois nos reorganizar e planejar o treinamento visando as próximas metas e objetivos.Temos um grupo jovem, talentoso, muito motivado, com meninas que amam o que fazem e estão dispostas a todos sacrifícios para conseguirem esta vaga olímpica”, finalizou a técnica do conjunto, Camila.