Sonhos muitas vezes exigem sacrifícios. Mas outras tantas vezes, eles são recompensados. Há duas semanas, Déborah Medrado passava por um momento delicado na carreira. Após segurar ao máximo as dores, a capixaba, a capitã da seleção brasileira de conjunto da ginástica rítmica, acabou optando por fazer uma cirurgia nos pés, o que adiaria o sonho olímpico.
A operação aconteceu no dia 9 de março e o prognóstico de recuperação é de pelo menos dois meses para que Déborah possa voltar a treinar. Desta forma, ela retornaria aos treinos no mesmo mês em que a seleção disputaria o Pan-Americano pré-olímpico para as Olimpíadas de Tóquio. Mas tudo mudou graças a um tal de coronavírus.
Com a confirmação do adiamento dos Jogos Olímpicos para 2021 devido à pandemia, o sonho de Déborah está mais vivo do que nunca.
“Infelizmente o mundo está passando por isso e espero que termine tudo o quanto antes. É claro que tem muitos atletas que se prepararam para esse momento, mas acabou sendo uma coisa ‘boa’ para mim. Entre tanta coisa ruim que está acontecendo, eu vou ter esse tempo para me recuperar melhor e correr atrás do meu sonho, sem precisar adiar e esperar até Paris 2024”, celebrou Déborah em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
“É uma loucura. Fiquei muito feliz e parece até que acendeu mais ainda uma chama dentro do meu coração! Mais vontade ainda para me recuperar bem e voltar o quanto antes ao treinos”, completou.
A operação
Optar por uma cirurgia nunca é uma decisão fácil. Mas no caso de Déborah Medrado, foi a alternativa encontrada para que ela pudesse seguir fazendo aquilo que tanto ama.
Segundo a atleta, o formato anatômico de seu pé não é próprio para a prática da ginástica rítmica. “O meu segundo metatarso é muito grande e quando eu faço a meia ponta todo o peso do meu corpo fica sobre ele”, explicou.
Déborah conviveu com dores por muito tempo e esperou o máximo que pôde antes de decidir pela cirurgia. “Eu cheguei a treinar de tênis para diminuir minha dor, porque ele amortecia um pouco… Mas chegou uma hora que nem assim eu conseguia mais. Acordava, andava e sentia muita dor. Então não tinha mais o que fazer. Se eu quisesse continuar sendo uma atleta de alto rendimento, teria que fazer a cirurgia, porque nas condições que eu estava, não ia conseguir continuar o meu sonho. Então eu arrisquei tudo e deu certo”, comemorou.
Por enquanto, Déborah segue sem treinar e está em sua cidade natal, Serra, no Espírito Santo, na companhia de sua família. Ela conta que já consegue andar usando uma sandália específica, mas diz não estar pensando muito em prazos.
“Não estou muito preocupada agora com tempo. Vai ser no meu tempo. Se for um mês ou um ano, eu só quero me recuperar direito para conseguir treinar o melhor possível”.
O começo de tudo
Tudo começou no balé. Ainda criança, Déborah Medrado praticou a dança por um ano, até que sua professora disse que ela era muito flexível. Déborah e seus pais passaram a procurar, então, por outra modalidade e acabaram encontrando a ginástica em um projeto da Universidade Federal do Espírito Santo e ela se destacou na rítmica.
Depois de um tempo, o projeto da universidade entrou em greve e a família Medrado precisou buscar novas opções. Encontraram uma em Vitória e foram para lá. E não demorou muito para Déborah começar a trilhar seu caminho na ginástica rítmica.
Ela foi conquistando seu espaço e título também. Em 2017, no seu último ano como juvenil, foi vice-campeã brasileira juvenil e campeã no conjunto adulto. Acabou chamada para uma seletiva da seleção, passou e desde 2018 é ginasta de conjunto da equipe nacional brasileira.
“Foi paixão à primeira vista. Eu amei logo de cara e com o tempo começou a ficar mais sério. Não vejo fazendo nada além disso da vida. Nossa senhora, é um amor que não se mede!”, contou Déborah, que parece sempre estar com um sorriso no rosto quando fala e pratica ginástica.
Superação pelo “amor que não se mede”
Mas nem sempre foi fácil. Aliás, talvez nunca tenho sido. E se não fosse pela família, Déborah não estaria onde está hoje.
“A gente não tem muitas condições financeiras e no início era um sufoco para conseguir viajar. Tinha que fazer vaquinha, pedir dinheiro, ajuda… Não tinha patrocínio. Hoje, na seleção, é tudo mais fácil, eles disponibilizam tudo para nós. Mas meus pais sempre me apoiaram e se não fosse por eles, não estaria aqui”, ressaltou.
Além do lado financeiro, a família Medrado hoje precisa superar mais um fator: a saudade. As ginastas de conjunto da ginástica rítmica vivem em Aracaju, Sergipe, juntas, mas longe da família. E tudo isso pelo amor à modalidade e pelo sonho de cada uma delas.
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“Despedida é sempre difícil. Mas a primeira… foi muito difícil! Eu chegava no avião chorando, as pessoas me olhando, que vergonha (risos). Nas duas primeiras semanas, chorava toda noite. Mas a rotina é muito intensa. Não tem como lembrar da família de segunda a sábado. Domingo você chora um pouco, lembra, mas durante a semana é foco total nos treinos”, contou.
E hoje, Déborah e as ginastas contando com uma aliada de peso: as redes sociais. “Ajuda muito. Quando bate uma saudade, falo ‘mãe, pai, posso ligar?’ E aí a gente conversa. No passado deveria ser muito mais difícil nesse sentido. Mas o que iguala o hoje com o antigamente é o querer. Muitas queriam estar lá, então não vai ser a saudade da família que vai ser maior que o meu objetivo e o meu sonho”, finalizou.