Paris – A final por equipes sempre foi uma das mais importantes da ginástica artística nos Jogos Olímpicos, coroando as melhores escolas da modalidade do mundo. No início, quem dominava a disputa era o bloco soviético, com URSS, Tchescolováquia, Hungira, Romênia e Alemanha Oriental. Após o fim da guerra fria, Estados Unidos, Rússia, Romênia e China formaram uma espécie de G4 da ginástica, sempre se revezando no pódio. Mas nos últimos anos, mais países tem conseguido chegar na zona de medalhas, com Itália e Brasil entrando no seleto grupo de países medalhistas olímpicos da prova.
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Cada um a sua maneira, o pódio da final por equipes em Paris-2024 teve três países que mereceram suas medalhas. Os Estados Unidos, cada vez mais consolidados como o páis da ginástica, era franco favorito para a disputa. Lá talvez seja o lugar onde a ginástica mais esteja massificada no mundo, com um número enorme de crianças praticando a modalidade.
Mas para além disso, o ouro em Paris meio que fecha um ciclo da equipe norte-americana, no possível final da “Era Biles”. Maior ginasta de todos os tempos, Simone Biles levou a ginástica artística para outro nível. Mas também trouxe discussões importantes para o esporte sobre saúde mental. Ver ela ganhar esse ouro em Paris, após ter uma “pane” no meio da final por equipes de Tóquio-2020 pareceu a última cena de um filme épico.
Geração #Italgym
Quem também tem feito um trabalho excepcional para massificar o esporte em sua terra é a Itália. Em uma história parecida com o Brasil, o país começou a surgir no cenário mundial em 2006, quando Vanessa Ferrari se tornou campeã do mundo no individual geral. E desde então o país vem evoluído na modalidade e hoje foi ao pódio com parte de sua melhor geração. A Itália hoje contou com Alice D’Amato, Giorgia Villa, Angela Andreolli, Manila Esposito e Elisa Iorio na competição, com o quinteto fazendo uma competição impecável. A equipe italiana teve lesões importantes no último ano e aqui não contou com Asia D’Amato e Martina Maggio, duas ginastas excepcionais que poderiam aumentar o total do time. Mas as atletas que vieram para Paris mostraram a força da escola italiana de ginástica, conseguindo repor as notas das colegas de seleção.
No começo dessa semana, Vanessa Ferrari anunciou sua aposentadoria do esporte. Ela que foi prata no solo em Tóquio-2020, após uma série de quartos lugares, tentou entrar na equipe de Paris-2024, mas uma lesão na panturrilha impediu que ela fosse para sua quinta Olimpíada. Mas com certeza, ela deve ter pendurado o collant orgulhosa das suas pupilas.
A escola brasileira
Desde o ano passado, quando o Brasil conseguiu a medalha de prata na final por equipes do Campeonato Mundial, Jade Barbosa vem sempre salientando que esse tipo de resultado mostra como o Brasil conseguiu construir sua escola de ginástica. E o resultado em Paris é a grande cereja do bolo.
Em Paris, Jade Barbosa é a atleta mais velha competindo na ginástica artística feminina. E ela é um nome que passou por todo esse processo de construção. No começo do século, Jade era uma jovem promesso no meio de estrelas como Daiane dos Santos, Daniele Hypólito e Laís Souza. Agora, ela é uma espécie de líder do grupo, conseguindo ser resiliente ao longo de umas séries de lesões e se adaptando à evolução da ginástica artística e às mudanças do código de pontuação.
Desde o ciclo olímpico da Rio-2016, já sabia-se que essa geração de Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e Lorrane Oliveira poderiam conquistar esse tipo de resultado. Ele não veio na Olimpíada no Brasil e bateu na trave no Mundial de 2018. Mas elas, assim como Jade, superaram lesões para chegar em Paris e conseguir o melhor resultado do país na competição. Julia Soares, a caçula do grupo, representa a renovação. Com apenas 18 anos, ela mostra a continuidade do trabalho iniciado há mais de 20 anos para fazer o Brasil virar uma potência na ginástica.
A gente também sabe que Rebeca Andrade é uma ginasta espetacular e que deve demorar para acharmos uma atleta do seu nível no Brasil. Provavelmente, a equipe tenha uma queda de rendimento quando ela decidir se aposentar. Mas o bronze da equipe brasileira em Paris-2024 tem tudo para inspirar meninas que podem se tornar futuras medalhistas olímpicas e se tornarem futuras Rebecas, Flávias, Jades, Lorranes e Julias.