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Paris 2024

Jade Barbosa reencontra sua essência dentro da ginástica

Indo para sua terceira Olimpíada, Jade Barbosa reencontra sua essência para se adaptar na ginástica e se manter feliz no esporte

Jade Barbosa irá competir nos Jogos Olímpicos Paris-2024
(Foto: Ricardo Bufolin/CBG)

Por muito tempo, a ginástica artística feminina foi um esporte conhecido por suas atletas de pouca idade, com várias atletas com menos de 18 anos sendo o destaque da modalidade em Jogos Olímpicos. Mas isso tem mudado, com a média de idade das atletas participante e das medalhista crescendo nos últimos anos. E o Brasil pode ter a ginasta mais velha de Paris-2024. Completando 33 anos no dia 1º de julho, Jade Barbosa vai disputar sua terceira Olimpíada, após reencontrar a felicidade que a fez se encantar pela ginástica quando criança.

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Há mais de 20 anos na ginástica artística, Jade Barbosa começou a treinar em uma era diferente do esporte, onde os métodos de treinamento eram diferente e até as notas eram em um outro sistema de pontuação. Mas superando lesões e momentos de frustração, Jade se manteve no esporte e vai para sua terceira Olimpíada em Paris, após participar de Pequim-2008 e da Rio-2016. E ao longo dessas duas décadas, a ginasta conseguiu se adaptar às mudanças da modalidade.

“Eu acho que tive várias fases dentro do esporte. Algumas fases bem duras, principalmente no lado mental. Mas acho que elas são parte do processo, exatamente porque eu fiquei muitos anos dentro da ginástica. Mas eu acho que o mais importante é ter treinadores que consigam te enxergar individualmente. E esse treino individual fez com que eu realmente conseguisse ter uma boa adaptação a cada código”, explicou a ginasta que atualmente treina com Francisco Porath no Centro de Treinamento do Time Brasil no Rio de Janeiro.

Mudanças

Jade Barbosa começou a competir internacionalmente no ciclo olímpico de 2008. E vários elementos ela aprendeu com técnicas que eram válidas para a ginástica da época. Mas mudanças na ginástica e no seu corpo fazem com que ela tenha que adaptar as suas séries. “Ano que vem eu faço 20 anos de seleção, fora outras competições anteriores. E a gente vê que o corpo começa a lidar com algumas limitações. Algo que mudou bastante foi a minha flexibilidade, não a da perna da frente, mas a da perna de trás. E eu perdi muito da flexibilidade das costas também”, explica Jade.

No solo, por exemplo, a ginasta trocou a sua sequência de salto de danças, diminuindo a sua nota de dificuldade, mas garantindo uma boa execução para evitar descontos. eu não aprendi cortada com meia abrindo a perna boa. Eu aprendi abrindo a perna ruim que é uma técnica muito antiga, lá do ciclo de 2008. Eu não consegui me adaptar a isso e fui perdendo esse salto ao longo do tempo. Então realmente o Johnson [o salto novo] foi algo ali que encaixou melhor e acho que até me ajuda a chegar na terceira passada, que é um ponto crítico, melhor, mais saudável assim sabe”, completou.

Jade Barbosa compete na trave
(Foto: Miriam Jeske/COB)

Jade também fez trabalha em algumas mudanças na sua série de trave para adaptar sua prova ao código atual e ao seu corpo. “Como eu aprendi muitos elementos em técnicas antigas, hoje dentro do código às vezes eles não são validados. Então o giro que eu fazia saiu porque ele não vale mais. O mortal esticado não vale mais também, mas é a sequência acrobática que eu consigo fazer por causa da minha lesão antiga no punho. Mas agora eu estou fazendo o salto cadete que pode ser uma boa saída. Então vamos continuar treinando”.

“Não vou falar que é bom, nem gostoso. Ninguém gosta de perder suas habilidades com o tempo. Mas é algo que o ser humano tem que entender que vai acontecer na sua vida. O esporte é só uma amostra grátis do que vai acontecer na sua vida. A todo momento você vai ter que se adaptar a coisas novas.”

Reencontrando a essência

A carreira de Jade Barbosa teve vários altos e baixos. Mas agora, prestes a completar 33 anos, ela está em uma das suas melhores fases na ginástica. E o melhor, Jade tem praticado a modalidade com um sorriso contagiante no rosto. “Acho que hoje eu consigo lidar com o esporte de uma forma diferente. Independente de tudo, eu estou muito mais feliz. Eu consigo estar mais realizada hoje do que quando eu tinha ali de 17 a 20 anos. Acho que eu me encontrei de novo dentro do esporte”. Jade conta que foi atrás de reencontrar a essência que ela havia perdido e que a fez se apaixonar pela ginástica quando era criança, a fazendo continuar até hoje no esporte.

“Eu encontrei isso justamente com as pessoas que querem o meu bem. Dentro do Flamengo, dentro da seleção e principalmente dentro de mim. Estava guardado lá dentro, mas estava esquecido. A gente se exige tanto, tem uma persistência na perfeição, que isso acaba te adoecendo”, explicou. Além dos treinos no CT do Time Brasil, Jade também costuma treinar uma semana no ginásio do Flamengo na Gávea. E para ela, o contato com as crianças do clube ajudou nesse processo: “Hoje eu vou para o ginásio e brinco com as crianças. Eu me realizo com elas ali com três ou quatro anos. Eu entrei assim. E eu me apaixonei porque era tudo colorido e eu queria voar, me pendurar de um barrote pro outro. E principalmente ficar feliz com as pequenas conquistas”.

Foco em Paris

Faltando pouco mais de um mês para os Jogos Olímpicos, o foco de Jade Barbosa no momento é Paris-2024. Dona de três medalhas em Campeonatos Mundiais, a ginasta ainda tenta sua primeira medalha olímpica que pode vir na disputa por equipes, onde o Brasil levou a prata no Mundial do ano passado. “Eu acho que hoje qualquer papel dentro da equipe é muito importante. Desde a Rebeca até a reserva. É difícil lidar com as mudanças, mas todos tem muitas responsabilidade. É uma equipe com as peças muito certas”, explica Jade. Atualmente, as suas principais contribuições na equipe são o salto e o solo. Mas ela ainda treina em todos os aparelhos para caso a equipe precise.

Com cada vez mais ginastas tendo carreiras longas, Jade Barbosa até pensa para além dos Jogos Olímpicos deste ano. Mas seu foco total no momento é a Olimpíada e, em seguida, seu casamento. “Claro que dá pra pensar além de Paris. Mas a Jade agora vai pra Paris, depois tem Campeonato Brasileiro e depois tem casamento. E depois a Jade vai ver o que faz”, brincou a ginasta.

Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e viciado em esportes

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