A ginástica artística é um dos esportes mais difíceis que existem. São quatro aparelhos no feminino e seis no masculino, um diferente do outro, cada um com suas dificuldades e habilidades necessárias diferentes para superá-las. Não é fácil ser atleta de alto nível. Para chegar lá, é preciso percorrer um longo e complicado caminho. Medalha de prata na Olimpíada do Rio de Janeiro, o brasileiro Arthur Nory, por exemplo, teve de enfrentar a resistência do pai, que preferia que ele fizesse judô, e ainda um grande susto: um acidente que sofreu enquanto treinava argolas em que ele chegou a ter medo de ficar cego.
“Pra chegar até uma Olimpíada, um Mundial, eu passei por muita lesão e isso é muito chato e eu odeio ficar sem treinar. Mas de todos os traumas, o que mais me deu medo foi quando eu operei o olho”, contou Arthur Nory. “Eu tava fazendo argolas com elástico no pé e na mão para fazer aquele elemento do cristo e o elástico escapou do meu pé e veio com tudo no meu olho. Ficou sangrando e eu não consegui enxergar nada durante um dia todo. Fiquei desesperado”, revela Arthur Nory.
A solução foi passar por uma cirurgia para que o ginasta pudesse voltar enxergar normalmente. “Fiquei o dia inteiro lá no hospital, dormindo sentado pro sangue descer e no dia seguinte não enxergava com o olho esquerdo e com o direito eu enxergava bem embaçado. Aí eu fiz cirurgia de descolamento de retina que resolveu o problema”, conta aliviado.
Técnico dos atletas Arthur Zanetti e Diego Hypolito e também da Seleção Brasileira, Marcos Goto adverte que a ginástica não é para qualquer um. “Se o garoto não quer cair na ginástica, não quer de vez em quando tomar uns capotes, não dá para fazer ginástica. Quedas feias acontecem a todo momento nos treinos. É um esporte para coragem. Quem não tem coragem dificilmente vai chegar ao alto nível”, acredita o treinador.
Apesar de toda a dificuldade do esporte, a procura pela ginástica aumentou bastante depois da Olimpíada. Prova disso é o clube de São Caetano do Sul, onde Marcos Goto trabalha. “Hoje nós temos 300 crianças treinando e 200 na fila. Temos praticamente 50% de crianças fora do ginásio, aguardando uma vaga, mas não temos espaço, nem número de professores suficiente. Isso mostra como a ginástica ficou conhecida no país e foi difundida depois da Olimpíada. Nossa procura praticamente dobrou”, revela o treinador.
A falta de espaço era para já ter sido resolvida. Uma parceria entre a prefeitura de São Caetano do Sul e o Ministério Público prometia entregar até março deste ano um novo e moderno centro de treinamento para a cidade. “Por enquanto está na promessa ainda. As colunas estão erguidas. A promessa era de entregar esse centro de treinamento para nós em março para que nós treinássemos na Olimpíada nele. É um ginásio com dois pavimentos, um para ginástica artística e outro para ginástica rítmica. Nós conseguiríamos no mínimo colocar para treinar 500 crianças na cidade fácil”, acredita Goto.
Apesar de reclamar da promessa não cumprida, Marcos Goto admite que a ginástica artística do Brasil tem motivos para comemorar por conta da aparelhagem que chegou ao país no último ciclo olímpico. “A Confederação Brasileira de Ginástica juntamente com o Ministério dos Esportes conseguiu comprar 13 sets de aparelhos, então aparelhou bem o país. O Comitê Olímpico Brasileiro também adquiriu alguns aparelhos e colocou os aparelhos nos clubes que necessitavam. Tudo isso foi dando suporte para a seleção chegar onde chegou”, acredita.