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Ginástica Artística

Arthur Nory além do pódio: do racismo à desconstrução

Em entrevista exclusiva, ginasta campeão mundial fala sobre carreira: “Muito diferente do que era em 2015. E diferente do que vai ser amanhã. Eu acho que é esse o processo, que a gente vai crescendo. Amadurecendo. Reconhecendo”

Erros e acertos. Quedas e pódios. O universo do esporte é muito além dos resultados. O esporte é política, educação e uma busca por uma sociedade melhor. Em 2015, um caso de racismo aconteceu dentro da ginástica artística do Brasil. Punição. E silêncio. O medo de se pronunciar e falar, no entanto, acabou. Cinco anos depois, o ginasta Arthur Nory se diz diferente do que era. Assista ao vídeo!

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Pra quem se recorda, em quinze de maio de 2015, um vídeo publicado nas redes sociais mostrava Arthur Nory, Felipe Arakawa e Henrique Flores disparando ofensas racistas ao ginasta Ângelo Assumpção.

“Quando você vai para a minha história e vê o meu passado, você vê um Arthur Nory até 2015. Atitude racista dentro da seleção brasileira, com o companheiro, com o colega de treino. E um Arthur Nory depois desse momento. Eu venho buscando. Eu venho estudando. Eu fiz um vídeo pedindo desculpa, que eu nunca me posicionei. Eu nunca falei. Eu sempre fiquei guardado. Então nesse momento: ‘vamos reconhecer’. Sabe?”, contou com exclusividade ao Olimpíada Todo Dia.

Mudança de nome?

“Falam muito. Eu já vi sobre o meu nome, as pessoas falam que eu mudei de nome depois do que aconteceu em 2015. Era Arthur Nory e virou Arthur Mariano pra tv para a competição. Mas sempre foi Arthur Nory Oyakawa Mariano. Em competição eles pegam o seu primeiro e último nome. Mas aqui dentro (do Brasil) eu sempre fui Arthur Nory, porque tem o Arthur Zanetti dentro da equipe. Então sempre me chamavam de Nory, Nory, que é o meu segundo nome. Então fica Arthur Nory e Nory me chamam de Nory. Normal. Mas em competição aparece na telinha, aparece o nome ali, Arthur Mariano, porque é o meu primeiro e último nome. Eu nunca mudei de nome. É um mito. Fake news. Tem que prestar atenção nisso.”

Reconhecer erro e buscar reparação

“Nos meus estudos também. Principalmente do movimento preto, ativista, que eu fui estudar bastante, que eu fui procurar entender. O que é o racismo? As pessoas chegam e apontam: ‘o atleta racista’, ‘o atleta não me representa’, ‘mudou até de nome’. E aí isso me envergonha bastante. Eu senti muito essa culpa. Essa vergonha. Eu fiquei mais retraído: ‘o que eu faço agora’? Eu não sei essa atitude. Eu causei todo esse mal. E eu fui estudando. Eu fui aprendendo. Eu fui: ‘pera, aconteceu isso, eu tive essa atitude, ofendi um amigo’. Eu estava ali presente, eu filmei, eu propaguei isso. Eu estava com duas pessoas ali. Uma pessoa que eu convivi diariamente, que faz parte da minha história,” disse Arthur Nory.

Pedido de desculpas ao Ângelo

“15 anos de clube. 15 anos convivendo diariamente com ele. Deixei isso acontecer. Entendeu? E fui procurá-lo. Fui procurá-lo várias vezes. Principalmente, depois do que aconteceu. Fui pedir desculpa, fui pedir perdão. E cabe a ele ou não. Eu não sei o que ele sente. Essa dor. Mas eu sei que foi muito forte, foi muito impactante. Vir de uma pessoa que é muito próxima. De um amigo. De um irmão. Dividia quarto. E eu fiquei pensando comigo mesmo… O que eu posso fazer para reparar? Sabe? O que eu posso fazer para poder mudar isso. Para que esse exemplo não seja continuado e seguido dentro do ambiente que a gente vive. Sabe?”

Em matéria divulgada no dia 23 de agosto no “Esporte Espetacular”, Ângelo Assumpção revelou sofrer assédio moral, além de ofensas com racismo frequentes e a procura por justiça culminou em sua demissão do clube Pinheiros. O Olimpíada Todo Dia procurou o ginasta e não teve retorno.

Desconstrução

“Fui estudar. Fui entender o que é o racismo. Eu fui entender o que é o racismo estrutural. O racismo recreativo, que é aquele disfarçado em piadas. É aquele que todo mundo acha… Acha não. Aquele que todo mundo fala que no meio esportivo normaliza isso, mas que não é. Não só o racismo, mas a homofobia, também o machismo. É tudo mascarado, que é piadinha. Está todo mundo dando risadinha, falam ser normal. Que ‘na minha época’ era assim, tudo é mimimi, e não é. Vamos entrar com esse debate ali dentro. Vamos falar sobre isso.”

Arthur Nory além do pódio: o ginasta fala sobre o ato de racismo e sua busca por desconstrução (Reprodução) - ginástica artística
Arthur Nory além do pódio: o ginasta fala sobre o ato de racismo e sua busca por desconstrução (Reprodução)

Exemplo para as futuras gerações

“Então quando está presente comigo, e eu reparo, em uma risada, um olhar, alguma coisa. Eu uso esse exemplo. Não, se você que está aqui está comigo todo dia, gosta de mim, me respeita, nunca mais faça isso. Olha o que aconteceu. Olha… Sabe? Pra quê? Não é legal. E as pessoas entendem. Até os mais novos também que convivem diariamente. Eles tem uma outra cabeça hoje também. (…) É puxar isso para a gente evoluir também como um todo. Pra gente prosperar,” fala Arthur Nory.

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“Como eu disse, eu não sou o mesmo que ontem e muito menos o mesmo que há, quatro, cinco anos atrás. Esse amadurecimento. Esse ‘ok, eu entendo isso, eu me perdoo, eu me entendo, eu acho que é importante sim, eu acho que é importante dar a cara a tapa, é importante reconhecer o que aconteceu, o que eu posso fazer para reparar’. Não só o que aconteceu comigo específico, mas pra tudo. Pra ter um ambiente saudável. Para a gente como família, como toda família tem seus problemas. Como toda família com convivência, intimidade, tem essa…

Então como a gente faz para apaziguar e não levar esse extremo. É um reforço diário. Aprendizado diário. É conversando também com pessoas. Esse processo para falar sobre racismo foi durante todos esses cinco anos. Conversando com amigos, com pessoas, com pessoas engajadas, com pessoas que entendem. Acho que batendo isso, você vai amadurecendo e você vai entendendo bastante. Você vai conhecendo. Vai aprendendo. E hoje estou aqui, né?

Falando e contando toda a história. Nunca falei, mas estou aqui disposto a aprender. Disposto a: ‘o que eu posso fazer’? Disposto a: ‘como que eu posso’? Qual o meu papel como um atleta? Uma pessoa que representa a classe atleta com esse destaque. Como que eu posso estar aqui ajudando a fomentar o esporte a mostrar que o esporte é inclusão? Que o esporte também traz oportunidades? Então, a gente vai tentando. E a gente vai trabalhando,” conclui.

Amanhã, a segunda parte dessa entrevista irá ao ar contando a situação de Arthur Nory na preparação para Tóquio 2020!

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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