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Ginástica Artística

Nory: ‘obrigação aprender com o erro e buscar conhecimento’

Cinco anos depois do caso de racismo na ginástica artística do Brasil, campeão mundial Arthur Nory fala abertamente sobre o acontecido

'Eu me envergonho bastante. E isso tem que ser tratado' (Ricardo Bufolin/CBG)

Quinze de maio de 2015. Cinco anos de silêncio. Nessa data, um vídeo durante um acampamento da seleção brasileira de ginástica artística foi divulgado nas redes sociais. Nesse vídeo, Arthur Nory, Felipe Arakawa e Henrique Flores disparam ofensas com racismo ao ginasta Ângelo Assumpção. Um vídeo de desculpas na sequência. Uma punição de trinta dias. E silêncio. No entanto, a história nunca poderia ter sido tratada como “brincadeira”. Hoje, a consciência sobre tudo o que aconteceu é diferente. Assista ao vídeo!

“Eu tinha duas escolhas (na época). Ou continuar cometendo ou continuar ‘não, é só uma brincadeira’, que hoje eu entendo que não é uma brincadeira. Ou mudar e buscar aprender com aquilo. E foi isso. Cinco anos guardados comigo mesmo e indo buscar esse meu erro,” conta Arthur Nory.

O esporte reflete a sociedade. Em sua essência, nasceu aristocrata, machista e envolcendo racismo. Desde que essa consciência passa a existir, o mundo esportivo precisa entrar nessa luta. Na luta contra todos os fatores opressores que existem, dentro e fora da bolha.

“Bom, estou aqui para quebrar o silêncio por um assunto que tem que ser tratado devidamente com atenção. A partir do momento que foi quebrada essa bolha (do esporte), eu tomei a consciência e fui entender a proporção que atinge, eu me envergonho. Eu me envergonho bastante. E isso tem que ser tratado.”

“A partir desse momento que furou essa bolha, que a gente convivia entre a gente, atletas, convivendo vinte e quatro horas por dia. Furou e percebi que atinge o mundo todo, que eu fui ver realmente o que estava acontecendo. E eu fui entender. Entender o porquê, fui procurar,” falou Nory, sobre o caso de racismo envolvendo Ângelo Assumpção na ginástica artística.

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Mudanças

Em todas as conquistas de Arthur Nory, a lembrança do silêncio e histórias irreais que apontam até mudança de nome em competições por conta do caso. O erro é o principal assunto quando está no holofote. De 2015 para cá, mudanças.

“Olhando pra trás e vendo: errei aqui. Não tem que se repetir. Isso não pode se repetir. Principalmente, para as próximas gerações. Principalmente, no esporte, onde em um momento, depois de muito tempo, você acaba se tornando uma referência para os outros. E tendo esse papel, é importante você ser um exemplo. Ser um exemplo bom.”

Lidar com a nova geração da ginástica artística e lutar para que não cometam o mesmo erro: “Que esse exemplo que aconteceu comigo, lá atrás, não seja um exemplo a ser seguido. Seja um exemplo para ser olhado, ser tratado e ser muito bem conduzido, orientado, para desconstruir tudo isso, que existe nessas bolhas.”

Coronavírus nory racismo ginástica artística Ângelo Assumpção
(Ricardo Bufolin/CBG)

O alto rendimento proporciona relações quase familiares. Tempo integral de convivência, com erros e acertos quase na mesma proporção. O caso mudou a amizade de Arthur Nory e Ângelo Assumpção.

“E a partir desse momento, a primeira coisa é reconhecer. Quando eu entendi a gravidade, procurei o Ângelo, procurei para pedir o perdão dele. Em três momentos. Logo depois, quando aconteceu, estava tudo pegando fogo. Depois, quando estava vindo esse conhecimento, essa compreensão. Eu sei, que é um direito do Ângelo, me perdoar ou não”, afirmou. “E uma obrigação minha aprender com esse meu erro e ir buscar o conhecimento, a me tornar uma pessoa melhor. E, principalmente, a me desconstruir.”

Demissão e assédio moral

Em matéria divulgada pelo “Esporte Espetacular”, no dia 23 de agosto, Ângelo Assumpção revelou sofrer assédio moral, além de ofensas com racismo frequentes e a procura por justiça culminou em sua demissão do clube Pinheiros.

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Uma semana depois da matéria sobre o racismo, nada ainda foi resolvido ou dito pelo clube sobre a situação na ginástica artística. “Senti um abandono por parte da sociedade, que se vende como antirracista, mas não se porta assim. A gente sente que a situação aqui é muito diferente do que está acontecendo nos Estados Unidos. Aqui parece que é só uma hashtag”, contou Ângelo ao jornalista Martín Fernandez, do jornal “O Globo”.

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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