Noite de segunda-feira. Sorocaba. Um caminhão com um pacote grande chega à casa de Izabella Fontes Machado. Era um presente surpresa para a pequena atleta da ginástica artística do Esporte Clube Pinheiros, de apenas nove anos, enviado por ninguém menos que o ídolo dela: Arthur Nory. Por conta da pandemia, a jovem atleta e sua mãe Micheli deixaram São Paulo e voltaram, assim, para a casa em Sorocaba, onde Bellinha adaptou os treinos. Ela havia participado de uma competição e de um sorteio para tentar ganhar uma trave, mas não conseguiu. No fim, porém, ela ganhou muito mais do que esperava.
“Ela participou de duas oportunidades para ganhar a trave, mas infelizmente não conseguiu. E o Nory segue ela e acompanha o desenvolvimento dela, e nisso ele me chamou. Na hora eu não acreditava! A princípio eu fiquei assustada, porque como assim o Nory, campeão mundial, está me chamando? E aí ele falou que queria presentear ela, que ele viu o quanto ela queria a trave e disse que acredita muito no potencial dela. Nossa, fiquei sem palavras. Não tem palavras para expressar a gratidão que a gente tem. É único, é surreal”, contou emocionada a mãe Micheli ao Olimpíada Todo Dia.
Se a emoção bateu quando Nory deu a notícia para Micheli, imagine quando a trave chegou e Bellinha recebeu a maior surpresa de todas. “A hora que ela viu, começou a falar ‘obrigada, mamãe! muito obrigada’, como se fosse meu. Aí falei que não fui eu que dei e ela sem entender nada. Foi quando ela olhou o nome dele… Ela já estava emocionada, começando a chorar, mas na hora que ela viu que foi ele que deu, ela desabou. Ela ficou muito feliz, radiante. Porque de todos os atletas, apesar de ser do masculino, se você perguntar quem é o ídolo dela na ginástica, ela vai falar que é o Nory. Não tem como resumir tamanha emoção”.
Veja a reação de Bellinha:
Os depoimentos de Nory e Bellinha
“Eu vejo o quanto ela é apaixonada pela ginástica. Sempre vejo como ela vai, repete os exercícios. E nas postagens também, é tudo ginástica. Acho isso muito fofo, incrível. Então quando eu vi que ela estava participando do sorteio e perdeu, eu entrei em contato com o pessoal que ia dar a trave, falei com a mãe dela, que eu queria dar um presente. E aí ela me mandou esse vídeo e eu fiquei muito emocionado com a felicidade dela. É um presente e quero que ela treine muito”, contou Nory ao OTD.
“Eu fiquei muito emocionada, porque eu não sabia. Eu não tinha palavras, fiquei muito feliz. Queria logo abrir, brincar com ela, porque eu amo fazer ginástica e a trave é o meu aparelho preferido”, disse Bellinha.”De todos os atletas do mundo, o meu preferido é o Nory. Ele sempre me ajudou a fazer os exercícios e eu amo muito ele. Ele sempre vai ser o meu ídolo”.
Conheça Izabella
Izabella é filha de Micheli e Elizeu. Aos nove anos, ela respira ginástica 24h por dia. E a relação com esporte é genética. Sua mãe foi atleta da ginástica artística, mas nunca fez questão de passar a paixão para a filha. Bellinha, no entanto, muito esperta, sempre via a mãe assistindo a vídeos da modalidade e aos poucos foi tomando gostando.
Tudo mudou, então, quando sua professora de balé na escola falou para Micheli que ela tinha muita facilidade e flexibilidade, sugerindo que os pais colocassem Bellinha para treinar algum esporte. “Tentei mostrar para ela o balé, o jazz, dança, a ginástica rítmica, mas ela não queria nenhum. Ela falava que via uns vídeos da Flávia, da Daiane e que queria fazer ginástica artística”, relembrou a mãe.
Izabella, então, passou a fazer aulas e mais tarde começou a fazer circo também. As pessoas logo perceberam o talento dela e diziam para Micheli e Elizeu procurarem um clube grande. Foi então que eles decidiram apoiar de vez o sonho da filha. Deixaram Sorocaba e foram para São Paulo, onde Bella fez um teste no Pinheiro. Mais do que ser aprovada, ela ficou apaixonada. E assim, desde 2018, Izabella Fontes Machado é atleta de ginástica artística do Esporte Clube Pinheiros.
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“Foi paixão à primeira vista, porque o ginásio que ela treinava em Sorocaba era pequeno. A gente falou para ela que tinha outros testes para fazer, mas ela queria treinar no Pinheiros. Eu fui pesquisar sobre o clube e amei também, tem muita história no esporte e é o berço de grandes atletas, como o próprio Nory”.
Superando as dificuldades
Seguir os sonhos nem sempre é algo fácil. Mas Micheli e Izabella deixaram Sorocaba para morarem em São Paulo e continuar com os treinamentos. O pai, no entanto, ficou. Além da saudade, tem os altos custos de transporte, alimentação e aluguel…
“Apesar de o clube dar todo o suporte para ela, a gente ainda tem que arcar com os custos das viagens do pai dela nos fins de semana, porque ela sente muita saudade dele, de alugar uma quitinete para a gente ficar, a minha estadia… E apesar de ela já ter uma responsabilidade muito grande nas costas, porque o clube é muito sério, os treinadores são muito exigentes, e eu também cobro muito dela, eu preciso passar para ela as dificuldades da vida, que a gente não pode ter tudo, tem que ter prioridades… Ela, mesmo tão pequena, precisa entender isso”.
Bellinha entendeu. Mas mesmo assim, não desistiu. Tamanha persistência tem um nome: paixão. E tem uma inspiração: Nory.
A importância de Nory
Arthur Nory e Izabella já se conheciam dos treinos no Pinheiros. A mãe conta que o campeão mundial foi sempre muito carinhoso com ela e apesar da surpresa do presente, ela não se surpreende, entretanto, com uma atitude dessa vindo dele.
“Toda vez que ele está por perto, ela morre de vergonha e ele sempre brincalhão, muito atencioso, muito carinhoso com ela. Fazer para a gente é bom, mas fazer pela filha da gente é de uma grandeza sem tamanho. E o fato de ele ter essa iniciativa foi uma surpresa para mim também, mas eu já esperava isso dele, pela pessoa que ele é. A gente nunca conversou pessoalmente, porque eu sou muito tímida, mas já mandei algumas mensagens dizendo o quanto eu admiro e valorizo esse carinho que ele tem por ela”.
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Para Micheli, no entanto, a atitude vai muito além de “apenas” um presente para sua filha. “A atitude do Nory foi importantíssima. Não porque foi para ela, mas a atitude de presentear um atleta mais novo, da base, incentivando elas a continuar, não desistir. Essa aproximação de um atleta renomado olhar e dar valor para a base é de uma importância gigante. Para nós que estamos dentro do esporte e para quem está de fora também, que admira ele pelo esporte e pela pessoa que ele é. É maravilhoso. Que menino grande!”, concluiu.
