“Nem caiu minha ficha ainda”, afirma Chico Barretto sobre a aproximação dos Jogos de Tóquio-2020. Mesmo ignorando esta ansiedade, a preparação do ginasta para a Olimpíada já começou forte e terá um importante teste durante esta semana: entre os dias 12 e 15 acontece a Copa do Mundo de Baku, no Azerbaijão. A etapa de Doha, no Catar, que aconteceria entre os dias 18 e 21, foi adiada por causa da epidemia de coronavírus e acontecerá apenas em junho.
“Estamos voltando na melhor forma possível, aproveitando para ganhar força, para ganhar explosão. (Melhorar) tudo que a gente pode melhorar, a qualidade dos movimentos, e voltando a fazer o que a gente fazia no momento que paramos em 2019, retomando o gás, a força, a explosão, as séries, para competir agora em Baku da melhor forma possível. Temos que usar essas competições como teste, mas pensando no Japão”, contou o ginasta em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
O ano de 2019 foi ótimo para Chico Barretto e para a ginástica artística brasileira. No Pan-Americano de Lima, a seleção fez uma campanha histórica, com a conquista de onze medalhas, sendo oito no masculino. Chico foi crucial para este bom desempenho, conquistando três medalhas de ouro (cavalo com alças, barra fixa e equipes).
“Nossa meta é fazer nosso melhor trabalho. A história, o que acontecer, é consequência. A gente jamais foi para o Pan pensando nisso, mas a gente foi pensando em fazer o nosso melhor. Então acho que a equipe que for para as Olimpíadas vai para fazer o melhor e, se vier a história, eu acho que é o esporte que ganha, a modalidade toda ganha, o Brasil todo ganha. Se fizer melhor que Rio-2016, não tem o que falar.”
Em 2016, foi a primeira Olimpíada da história que o Brasil se apresentou com uma equipe completa na ginástica masculina. Além disso, tivemos a conquista de três medalhas, com a prata de Diego Hypólito e o bronze de Arthur Nory no solo, e a prata de Arthur Zanetti nas argolas. Chico Barretto também fez história com a classificação para a final da barra fixa e o quinto lugar na disputa.
Agora para Tóquio, a equipe masculina também já está garantida, mas permanece a incerteza sobre os representantes que se apresentarão em solo japonês.
“A comissão técnica ainda vai avaliar o ciclo inteiro, desde 2017 eles analisam os melhores atletas, ainda tem competição em 2020 que podem ser analisadas, acontecem avaliações ainda dentro do CT, então tudo isso conta para o Brasil montar a melhor equipe. E o que o atleta pode fazer, o que eu posso fazer, é só me preparar da melhor forma possível porque se eu estiver dentro da equipe, vou representar o melhor possível”, explica.
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Garantido ou não, Chico treina forte visando os Jogos de Tóquio. De segunda a sábado, o ginasta está no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, para sua sessão diária de séries e treinos físicos. Aos 30 anos, todo cuidado é pouco na prevenção contra lesões. Em ano olímpico, então, a atenção é redobrada.
“É complicado, a gente não pode pensar muito nisso, se não a gente não consegue treinar. Lesões a gente sabe que acontecem, mas temos que priorizar o que é importante no momento, sabe? O treino tem que fluir, a gente não pode parar, continuamos fazendo fortalecimento, a prevenção, a recuperação, tudo isso é muito importante nessa fase também. Mas a gente não pode deixar de treinar. Se não a gente não vai conseguir evoluir e na hora do vamos ver, não vai ter treinado o suficiente para aquele momento”, conta o ginasta.
Passando a experiência
No final de janeiro e no começo de março, a seleção brasileira se reuniu para os dois primeiros campings de treinamentos do ano, realizados no Rio de Janeiro. Momento de retomar as atividades, fazer reuniões, mas também unir juventude com experiência.
“Isso é uma coisa que eu não tive na minha carreira”, lembra Chico. “Eu não tive a oportunidade, na época que eu era juvenil, de treinar com os atletas adultos. Quando chegava em alguma competição que eles estavam, eu pedia autógrafo para os atletas que na época eram mais velhos, eram da seleção brasileira. Não tive esse contato, de poder treinar junto. Só quando eu entrei na seleção que eu tive oportunidade de treinar junto com eles. Mas achei bem interessante o camping, foi muito importante para a nova geração do país. Que a geração continue crescendo, que continue evoluindo, isso é muito importante para nós.”
Treinar ao lado de atletas mais jovens, aliás, não é novidade para Chico Barretto. Todos os dias ele enfrenta um ginásio cheio de ginastas de todas as idades no Clube Pinheiros. Com 23 anos de história na modalidade, Chico aproveita para passar seus ensinamentos e – por que não – suas broncas.
“Eu sempre procuro dar bronca, eu dou mais bronca do que elogios”, ri o ginasta. “Eu cresci assim, eu recebi muita bronca e isso fez com que eu vencesse os desafios. Eu não me apeguei, não fiquei triste porque meu treinador ou meu amigo me deram bronca. Então eu sempre tento ajudar eles dessa forma, de falar ‘ó, vai por esse caminho, não faz isso, faz aquilo, isso é errado, você tem que vencer de novo, persistência, chora, mas procura fazer de novo e não desiste’. Eu sempre procuro falar para eles não desistirem. Desde uma criança de sete anos que eu falo ‘você tem que ter responsabilidade’. Uma criança de sete, dez anos já tem que ter responsabilidade porque é o futuro, eles são o futuro”, finaliza o experiente ginasta.