Das ruas de São Paulo ao título com o Atlético de Madrid, como aconteceu a trajetória da atacante Ludmila no futebol
Das ruas do Jaraguá em 2012 para o título de campeã espanhola com o Atlético de Madrid na temporada de 2017/2018. Em seis anos, a vida e a carreira da atacante Ludmila mudaram completamente. Ela decidiu abandonar o atletismo e seguir no futebol, mesmo sem ter passado pelas categorias de base e hoje brilha na Europa.
Em 2012, tudo mudou graças a uma partida de futebol com os amigos na rua. Ludmila brincava com alguns conhecidos quando um homem parou e viu que a atacante levava jeito para a coisa. “Um rapaz me viu jogando e me chamou para treinar na escolinha dele. De lá, ele me levou para um teste no Juventus, que eu consegui passar, conheci a Emily Lima (ex-técnica da Seleção Brasileira e atual treinadora do Santos) e comecei a jogar”, lembrou a atacante.
Com a entrada para o time do Juventus, Ludmila teve que escolher entre o futebol e o atletismo, esporte que praticava na época na escola. Na hora da decisão, a brasileira preferiu a bola, melhor para o Brasil. Sem ter passado por nenhuma equipe na base, a atacante teve que aprender tudo o mais rápido que pôde já no profissional. Contudo, por ter sempre praticado esportes, a velocidade, a agilidade e as arrancadas impressionavam bastante e passaram a ser suas marcas registradas.
Por conta disso, Ludmila logo teve seu nome lembrado para a Seleção Brasileira. Lá fez parte da conquista do Sul-Americano Sub-20 de 2014. Depois do título, outros clubes acabaram se interessando pela atacante, que teve passagens por Santos, Portuguesa, Juventus (mais uma vez), Rio Preto, São José, clube pelo qual conquistou a Libertadores feminina, e, agora, Atlético de Madrid.
Hoje, analisando o que aconteceu em sua carreira, Ludmila vê um jogo e, em especial, um gol como os responsáveis pelo salto que conseguiu dar saindo do São José e indo para o Atlético de Madrid: Brasil 1 x 3 Alemanha, um amistoso, na casa das adversárias. “O jogo contra a Alemanha e o gol que eu marquei. Eu me entrego nos jogos, uso minha velocidade e não desisto nunca. Eu fiz isso naquele gol. O pessoal do Atlético de Madrid gosta muito de jogadoras desse jeito. Aquela partida foi a responsável pela minha transferência”, comentou a atacante. Veja os melhores momentos daquele confronto aqui.
Ludmila chegou no Atlético de Madrid em agosto de 2017 e, na primeira temporada que jogou fora do Brasil, já disputou 27 jogos, sendo 21 deles como titular, tendo marcado 12 gols, 11 deles no campeonato espanhol e 1 na Champions League, e dado seis assistências. Com isso, fez com que o time da capital da Espanha disputasse com o Barcelona o título rodada a rodada, conseguindo conquistar o título da Liga nacional. Durante os jogos do campeonato espanhol, além do bom futebol apresentado, a atacante brasileira acabou chamando a atenção das pessoas por outro motivo, o número de sua camisa.
Diferente da maioria das atacantes, Ludmila usa o número 3, normalmente usado por atletas de defesa nas equipes. “Apesar de algumas companheiras falarem que eu homenageio zagueiras com meu número, eu escolhi a 3. Meu estilo de jogo é um pouco diferente das outras, pode faltar técnica, mas sobra vontade e raça, por isso quis ser diferente no número da camisa também”, disse Ludmila.
Durante a temporada de 2017/2018, a atacante brasileira, seu staff da agência OBS players e o Atlético de Madrid chegaram em um acordo para a renovação do vínculo de Ludmila com o clube espanhol por mais duas temporadas, agora válido até a metade de 2020.
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A importância de Emily
O primeiro contato com a treinadora Emily Lima aconteceu em 2012, no Juventus. Desde então, a ex-técnica da Seleção Brasileira e atual comandante do Santos tem uma importância na carreira e no desenvolvimento de Ludmila em vários aspectos.
Dentro de campo, a técnica soube ter a calma e a paciência necessária para ensinar um jogadora, então com 16 anos e que não tinha tido nenhuma experiência em times de futebol. A parte técnica e a tática foram aprimoradas já no profissional do Juventus. Além disso, conseguiu usufruir da melhor característica de Ludmila: a velocidade. Emily elevou a atleta para a Seleção Brasileira de base. Depois, para a principal e ajudou em sua transferência para o Atlético de Madrid.
Contudo, para a atacante, Emily Lima foi importante pelo auxílio que deu, também, fora das quatro linhas. “Além de tudo que a Emily fez em campo, acreditando em mim desde o primeiro teste, ela me cobrou muito em coisas que são fora do futebol. Me fez estudar, me mostrou a importância do lado familiar. A Emily mudou a minha vida”, comenta a atacante.
Batalhas travadas fora de campo
Quem a vê jogando ou a acompanha nas redes sociais, não consegue imaginar que a vida fez as duas piores faltas no jogo da atacante. Em 2016, quando estava se recuperando de uma lesão, a brasileira acabou perdendo sua melhor amiga para as drogas. Pouco tempo depois, a irmã mais velha da jogadora acabou falecendo.
“Foi um baque, mas pelo caminho que as duas acabaram escolhendo, eu estava me preparando para a possibilidade do pior vir a acontecer. Minha irmã também jogava futebol, então penso que estar jogando eu consigo realizar um sonho que também era dela”, fala Ludmila.
Futuro
De contrato renovado com o Atlético de Madrid até 2020, Ludmila não gosta de pensar muito no futuro. Contudo, a atacante tem duas metas para os próximos anos, uma profissional e uma pessoal. “O futebol é tudo hoje para mim, me deu tudo e me faz feliz demais. Para os próximos anos eu quero melhorar, errar menos dentro de campo e evoluir. O meu maior sonho é poder ajudar minha família e dar uma casa para a minha mãe. Espero conseguir isso nos próximos anos”, finalizou.