Em meio à pandemia, jovens em categorias de base de clubes de futebol do Brasil afora vivem a expectativa pelo retorno de treinos e jogos, o que significa ter outra vez a oportunidade de provarem que merecem ser aproveitados no time profissional e ter os vínculos renovados.
Contudo, a prioridade das federações e agremiações é viabilizar a volta de equipes profissionais masculinas às atividades, ainda que de forma gradual, e, posteriormente, às competições.
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A CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que organiza os campeonatos nacionais, as supercopas e as copas do Brasil Sub-17 e Sub-20, além da Copa do Nordeste sub-20, garantiu à “Agência Brasil”, em nota, que nenhum torneio de base está cancelado e que o calendário “será retomado tão logo a situação permitir”. “Além disso, a entidade mantém reuniões constantes com a Comissão Nacional de Clubes. para ouvir demandas deste período de pandemia e debater soluções.”
À espera
Após defender a equipe sub-20 do Esporte Clube São Bernardo, da Série A3 (terceira divisão) paulista, por duas temporadas, chegando até a ser relacionado no profissional, o atacante Robson Lima acertou em março para integrar o time júnior do Botafogo. Ter alcançado um clube grande e estar na idade limite (20 anos) das categorias de base prometiam um 2020 desafiador e decisivo. Contudo, a pandemia do novo coronavírus não estava nos planos.
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Treinos presenciais interrompidos e torneios suspensos por tempo indeterminado, ao contrário do vínculo com o clube carioca, que vai até dezembro. “Fiquei duas semanas treinando, aí teve o primeiro jogo do Carioca [sub-20]. Depois ocorreu a pandemia e tudo foi cancelado”, disse o atacante.
Enquanto isso, Robson mantém o sonho vivo. Em Osasco, cidade na grande São Paulo onde está com o pai, é monitorado à distância pelo Botafogo. Faz exercícios passados pela comissão técnica e é acompanhado por uma equipe multidisciplinar do Alvinegro, que ainda não tem previsão para retorno da base às atividades presenciais. O clube, segundo a assessoria de imprensa, “está com as atenções voltadas apenas para saúde de todos: funcionários, atletas e familiares”.
“Estou feliz, motivado por vestir a camisa do Botafogo, time de tradição e história. Tento deixar a cabeça tranquila e manter o foco, com esperança de que os campeonatos possam voltar. Tenho treinado todo dia na quarentena, para ter um excelente desempenho e receber uma oportunidade no profissional”, projeta Robson.
Sem previsão
No Rio de Janeiro, o Estadual sub-20 foi suspenso após a primeira rodada, em 14 de março, ainda sem previsão de reinício. À “Agência Brasil”, a assessoria de imprensa da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro informou que “vai avaliando o cenário para, quando for possível, com responsabilidade e cuidado médico, organizar os campeonatos”.
E fora do Rio?
Cenário não muito diferente de estados nos quais a temporada da base sequer começou. No Rio Grande do Sul, a última manifestação da Federação Gaúcha de Futebol foi em maio, indicando que o sub-20 poderia ocorrer a partir de setembro, com treinos liberados em agosto, seguindo protocolos sanitários.
Em São Paulo, a Federação Paulista (FPF) respondeu à “Agência Brasil”, por e-mail, que o retorno da base é discutido em “constantes encontros virtuais” e que as decisões “são tomadas em conjunto com os clubes, em acordo com as autoridades públicas de saúde”.
Novo limite?
De forma geral, as competições nacionais são disputadas nos níveis sub-15, sub-17 e sub-20. Diante do atual cenário, o treinador da equipe sub-20 do Internacional, Fábio Matias, sugeriu uma mudança no limite de idade das categorias de base. Em entrevista ao jornal “Zero Hora”, aconselhou, ao menos para os seis primeiros meses de 2021, as divisões em sub-16, sub-18 e sub-21.
Na visão do técnico gaúcho, atual campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, mais tradicional campeonato de base do país, pelo Colorado, isso reduziria a perda de uma temporada quase inteira. O advogado Rafael Cobra, especialista em Direito Desportivo, concorda com Matias.
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“Com exceção do sub-20, que abarca três anos, as demais categorias têm dois anos. É muito importante que o atleta vivencie o primeiro ano de categoria, mesmo sabendo das dificuldades de jogar. O processo de formação depende desse tipo de experiência, de se treinar com atletas velhos, mais maturados. No segundo ano e último ano de categoria, é importante o atleta ter mais responsabilidades e jogar com mais frequência”, declara.
“Se o atleta, que estava no primeiro ano de categoria [em 2019] e agora [2020] teria o segundo ano, não tiver a oportunidade de vivenciar essas responsabilidades [em 2020], e no ano que vem ele novamente vier a ser do primeiro ano, uma categoria acima, serão três anos de poucas condições de jogo e evolução. Certamente, isso prejudica o processo de formação”, conclui Cobra.