Rio de Janeiro, 26 de julho de 2007. Maracanã lotado, com mais de 67 mil pessoas. Dois times e um objetivo: Brasil e Estados Unidos na briga pela medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos. A capitã e zagueira da seleção, Aline Pellegrino, além de fechar a zaga, viu de camarote os cinco gols brasileiros, que garantiram o lugar mais alto do pódio do Pan.
“Foi o ápice. A gente chegou sem expectativa nenhuma, jogando com um público muito pequeno. Mas a seleção era muito forte. O time estava redondo, voando. Foi surreal. Na minha carreira, não teve outro jogo como esse em termos de ambiente, atmosfera… Era a primeira vez que a gente jogava no Maracanã, a primeira vez da Marta jogando no Maracanã. Foi muito louco. Foi único”, relembrou Pellegrino com carinho em live das Dibradoras.
Apesar da confiança que tinha no time, a zagueira nunca imaginou que a seleção atropelaria os Estados Unidos, goleando por 5 a 0 e com a emoção de ser em casa. “A gente ficou meio anestesiada. Imagina eu zagueira, capitã, tendo que manter as pessoas no foco… Mas depois do 3 a 0 não teve jeito. Primeiro que ninguém ouvia ninguém, era muito barulho. Aí a gente se deu o direito de curtir tudo aquilo. Quando o jogo parava um pouco, a gente ficava assim olhando tudo… Foi uma brisa muito louca”.
Concorrência forte
Como sempre, no entanto, elas precisaram lutar para conquistar seu espaço. E desta vez tinham dois concorrentes: o futebol masculino e as outras modalidades.
“Tinha muitos outros atletas com mais destaque. Estava todo mundo entusiasmado com outros esportes. E quem se interessava por futebol, se interessava pelo masculino. Então quem não conseguia ingresso, ia ver o feminino. Só que a seleção masculina foi eliminada cedo, então todo mundo que estava com expectativa de ver a festa do futebol masculino foi para a gente. E aí começa espaço na mídia, torcida aumenta…”, contou.
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Com esse aumento de visibilidade, aumenta também a pressão. Pellegrino lembra que demorou para a ficha do que estava acontecendo cair. “Todo mundo já tinha ganhado medalhas, a gente era a última. Isso vai dando uma ansiedade… Fiquei três dias sem dormir antes da final, não tem jeito. E aí você começa a ver gente correndo atrás no ônibus, cartaz, não consegue mais andar na rua… A gente não tinha noção do que era aquilo”.
Herança de prata
A história de Aline Pellegrino na seleção, porém, começou antes do Pan, lá atrás, em 2004. Recebeu uma ligação no meio da aula (da faculdade de educação física), dizendo que ela havia sido convocada e que teria que ir para o Rio de Janeiro no mesmo dia.
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“Desespero total. Eu nunca tive esse sonho de seleção, eu queria ser professora de educação física. E todas as zagueiras eras melhores do que eu, tinham passado pela base da seleção… Cheguei lá sem saber nada, não sabia onde ficavam as coisas na Granja Comary. Você pensa ‘o que é isso?’, ‘o que eu faço?’. Mas eu sou aquela pessoas que na dificuldade vai melhor”, pontou.
Campanha histórica
E foi melhor. A seleção de 2004 foi histórica dentro e fora de campo. Fora, porque contou com uma comissão técnica e uma equipe multidisciplinar que fez a diferença, como Pellegrino recorda com carinho.
“Até hoje, aquela comissão… Nunca tive nada igual. A gente foi muito assistida. E talvez, pela primeira vez, a gente se sentiu importante. E falo isso por mim, que tinha acabado de chegar, e pelas outras que já estavam lá há um tempão. Foi a primeira vez que a gente foi tratada como atletas. Mas foi também a primeira vez que a gente precisou ser atleta”.
E foi com a gestão do técnico Renê Simões que Aline Pellegrino e a seleção brasileira de futebol feminino conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004.
“Era uma seleção difícil, com muitas jogadoras boas, líderes, mas que nunca tinham tido uma gestão. Então serem lideradas pela primeira vez, não foi fácil. Mas o Renê fez isso com maestria. Com pouco tempo colocou todo mundo na mesma página, fez com que todo mundo se respeitasse por um objetivo maior. Mas como a gente ia imaginar chegar a uma medalha de prata? Na Grécia, que eu tinha fascinação. E passa tudo muito rápido, a gente voltou sem saber o que aquilo representava. Foi muito importante e, mais do que isso, foi um baita trabalho”, concluiu.