Érika dos Santos tem um jeito espontâneo, de quem fala o que pensa, faz piadas e é um dos corações do futebol feminino do Corinthians. A zagueira foi uma das líderes da equipe paulista no ano mágico que tiveram em 2019.
O Corinthians conquistou o Campeonato Paulista, garantiu o bicampeonato da Copa Libertadores além de ser vice-campeão do Campeonato Brasileiro. Também bateu a marca de maior sequência de vitórias consecutivas (34 triunfos) e atualmente defende uma invencibilidade de 45 partidas. Em 2019, Erika disputou 29 jogos pelo Timão e marcou quatro gols.
O bom momento fez aumentar a visibilidade do futebol feminino. E, para 2020, outras equipes grandes também reforçaram seus times feminino, fortalecendo os campeonatos.
“Que (o futebol feminio) continue crescendo”, comemora Érika. “Quando eu visto esse manto do Corinthians eu brigo sim por ele dentro do campo, mas fora, nós brigamos pela modalidade. Queremos que as outras meninas se encaixem sim, não fiquem de fora de outros clubes, que estejam felizes no clubes que elas escolherem, isso é o mais importante”, comenta a jogadora.
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Érika está no Corinthians desde agosto de 2018. Antes disso, jogava no Paris Saint Germain, da França, desde 2015. Assim como a zagueira corintiana, outras jogadoras brasileiras estão voltando para atuar no futebol nacional, casos mais recentes de Andressinha, que estava nos Estados Unidos e veio para o Corinthians, e Thaisinha, que estava na Coreia do Sul e agora jogará pelo Santos. Esse fenômeno, segundo Érika, demonstra o crescimento do futebol feminino nacional.
“Primeiro, nós vamos para fora do país, não porque gostamos. É 99% por causa da parte financeira, algo que não tínhamos aqui no nosso país, então vamos buscar em outros países. A valorização do brasileiro é melhor em outros lugares do que aqui, infelizmente”, explica. “Mas isso está mudando, e, por isso, o retorno de algumas jogadoras. Elas estão vendo que o crescimento aqui no nosso país está gigantesco, que realmente estão olhando o futebol feminino de outra forma.”
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Além de Corinthians, no Brasil Érika jogou também no Juventus (2003-204), no Santos (2005-2008, 2009 e 2011), no Foz Cataratas (2010) e no Centro Olímpico (2012-2015). No exterior, antes de jogar no PSG, a brasileira atuou no FC Gold Pride, dos Estados Unidos, em 2009.
Seleção brasileira
A visibilidade do futebol feminino também aumentou na seleção brasileira. Especialmente desde agosto, com a chegada da técnica sueca Pia Sundhage, bicampeã olímpica com os EUA. O Brasil segue invicto sob o comando de Pia: são oito partidas disputadas, com seis vitórias da Canarinho e dois empates.
“Ela chegou e impôs isso: ela quer todo o material, toda a estrutura para que ela possa alavancar a nossa seleção brasileira, e colocá-la no patamar que sabemos que conseguimos chegar.”, explica Érika que esteve presente em todas as convocações desde a chegada da sueca.
Ser comandada por uma técnica estrangeira não é novidade para a zagueira. Mas o estilo de treinamento de Pia é muito particular e surpreendeu muitas jogadoras.
“Com ela é assim: se ela deu ‘start’ e você não pegou, acabou o treino já”, conta Érila. “Você sobe para o seu quarto e fala ‘Caramba, só chutei três vezes no gol, ainda não peguei o jeito.’ E isso é legal, porque são treinos rápidos. Intensos, mas rápidos.”
Assim como a zagueira corintiana, Pia Sundhage não poupa a verdade na hora de falar. “Ela te dá bronca sorrindo, então é isso que nos preocupa”, ri a jogadora. “Ela é assim, se ela não gosta, ela não gosta. Se ela gostou do treino, ela vai te elogiar. Se ela não gostou, ela vai falar ‘Hoje o treino não foi legal, vocês não fizeram o que eu pedi.'”
No começo dos trabalhos, as jogadoras viam essas sinceridade com desconfiança. Hoje, Érika e as outras jogadoras enxergam os benefícios de ter uma treinadora assim.
“O que ela traz para nós é obediência tática, obediência técnica. E brasileiro não tem isso, achamos que sabemos jogar desde pequeno. Então quem conseguir escutar o jeito que ela tem para lidar com o trabalho, vai ser uma grande jogadora”, explica a zagueira. “As pessoas gostam de escutar o que elas querem. Não o que talvez a outra pessoa tenha para falar. Por mais que você não concorde, escute e absorva de alguma maneira mais tranquila. E para ela (Pia) isso é fundamental.”
Titularidade
Érika foi convocada para a seleção brasileira pela primeira vez em 2005. Já atuou como atacante, volante e meia. Hoje em dia se dedica totalmente à zaga. Participou da Copa do Mundo de futebol feminino em 2011, quando marcou 1 gol, contra Guiné Equatorial. Em 2015, também foi convocada para o Mundial, mas acabou cortada por lesão no joelho. Em 2018, jogou a Copa América e ajudou o Brasil a ser campeão. Na Copa do Mundo de 2019, Érika também foi convocada, mas teve que abandonar o grupo antes da competição graças a uma lesão na panturrilha.
Para 2020, o objetivo com a seleção já está traçado: ir para as Olimpíadas de Tóquio. Se depender de Pia Sundhage, a idade não irá importar em suas convocações. “Não importa que você tem história na Seleção ou é mais jovem. O coração tem que ser doado ao time e às companheiras”, disse a treinadora em sua primeira convocação em setembro do ano passado. Aos 31 anos, Érika sonha em fazer parte do grupo, mas sabe o quanto terá que trabalhar para chegar até lá.
“Eu vou comer bola todos os dias e eu vou trabalhar muito aqui (aponta o campo) para que de alguma forma eu seja vista e continue na seleção brasileira”, completa a experiente – e carismática – jogadora.