Cristiane Rozeira dos Santos: 35 anos, maior artilheira da história do futebol olímpico, seja no feminino ou no masculino com 14 gols marcados; quatro edições de jogos olímpicos na bagagem; duas medalhas de prata – em Atenas 2004 e Pequim 2008- ; 94 gols e quase 150 jogos com a tradicional camisa amarela. Experiência e talento de sobra e ainda competindo em altíssimo nível, mesmo contra adversárias dez, quinze anos mais novas. Com um currículo desses, é de se presumir que uma convocação para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 é mais do que garantida, correto? Não; errado. Pelo menos de acordo com a própria atleta.
Após participar nesta quarta-feira (16), como convidada de honra do lançamento do longa-metragem intitulado “Cantera 5v5”, produzido pela Gatorade e que conta detalhadamente as histórias de cinco jovens atletas que competiram no Torneio Mundial de Futebol 5v5 de 2019, Cristiane contou, com exclusividade ao Olimpíada Todo Dia, um pouco da expectativa de disputar sua quinta e última edição dos jogos olímpicos e o porquê de achar que sua convocação para Tóquio ainda não é certa.
Além disso, Cristiane comentou sobre o trabalho da sueca Pia Sundhage a frente da seleção brasileira feminina, sobre o crescimento do futebol feminino no Brasil e também como está a busca por um novo clube, já que anunciou, recentemente, sua saída do São Paulo.
Confira abaixo a entrevista com Cristiane:
Cristiane, boa tarde. Início de 2020, um ano importante para sua carreira e para o futebol feminino. As Olimpíadas de Tóquio estão se aproximando e você já declarou que esta será a sua última participação. Já está batendo saudades?
Ainda não. Acho que eu só vou sentir aquela saudade mesmo quando me sentar em casa e ver as meninas pela TV. 2020 é um ano muito importante, ano Olímpico. Antecipei minhas férias para poder estar 100%. Vai ser bastante competitivo, já que só vão 16 jogadoras de linha, então acho que a Pia vai selecionar muito bem as atletas. E me preparando também para o ano de uma maneira geral, para poder estar bem e representar bem o clube em que eu estiver jogando. O foco é me cuidar para ter um ano cheio e jogar mais jogos.
Como você está vendo a preparação da seleção para Tóquio e o trabalho da Pia a frente da seleção brasileira?
O trabalho está sendo muito importante. Ela inclusive tem viajando para fora para acompanhar as outras meninas nos outros clubes. Ela tem assistido a vários jogos. Em todos os treinamentos, ela sempre procura conversar com a gente durante a noite. Ela dá opinião, ela dá e abre espaço, traz muita coisa nova. Ela fez atletas cujo nível do futebol caiu um pouco voltar. A competitividade é muito grande. Ela não prioriza a mais velha, a mais nova, a que tem título ou a que não tem título: ela quer saber da menina que está 100% apta e muito bem para ela colocar para trabalhar. Então, vai ser bastante pegada a briga.
Então você acha que a Cristiane, maior artilheira do futebol olímpico, com quatro olimpíadas e duas medalhas de prata no currículo, ainda não está garantida em Tóquio 2020?
“A Pia não faz ninguém se sentir garantido. Ela avalia todo mundo. Ela fala ‘olha, precisa melhorar isso, precisa melhorar aquilo’. Ela não avalia idade. Infelizmente as pessoas questionam muito né? Ao invés de olhar a capacidade, te julgam pela sua idade. Com ela não tem isso. Ela vai levar realmente as atletas que estejam 100%.
E agora você acabou de anunciar a saída do São Paulo. Precisa arranjar um clube rápido para estar 100% e ser convocada, como você disse. Como está essa busca por um novo clube?
Eu e minha equipe, meu empresário, estamos acompanhando e analisando as propostas que estão vindo. Vieram propostas de fora, mas eu falei pra ele que para fora eu não quero sair. Eu acho que tem muita coisa bacana acontecendo no Brasil. As meninas estão retornando para disputar o campeonato. O brasileiro vai ser muito forte. E estar perto da família também é muito importante.
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Então jogar fora está descartado? Você prefere ficar no Brasil mesmo?
Esse ano eu foquei nisso. Minha equipe está aqui para isso. Falaram ‘Cris, a gente pode ir para fora. Você quer sair?’ Eu falei: ‘não, agora não quero sair’. Eu também conversei muito com a Pia. Ela acha muito legal a permanência porque fortalece muito o campeonato. Com as meninas voltando, a gente fortalece a liga. Quem sabe não traz uma estrangeira para cá. Então acho que isso é muito bacana.
Para finalizar, Cris, queria que você falasse um pouco sobre o evento. Você foi a surpresa da tarde para a Flávia (Flávia Alonso de Carvalho, jovem que foi a estrela do documentário Cantera 5v5).
A importância desse evento é muito grande. Porque dá espaço para essas meninas poderem sonhar. Na minha época e na anterior a minha, não tivemos isso daqui. É muito bacana elas poderem disputar um campeonato onde vão ganhar experiência, disputar com meninas e outros países, vão sentindo um pouquinho o que é uma pressão de jogar um campeonato com pessoas observando. Dá oportunidade para elas sonharem e falar “poxa, a Cristiane está ali! Ela é uma referência para a gente, passou por um monte de coisas”. Acho que a gente consegue deixar isso para elas e falar: “olha, independentemente do que vocês possam vir a passar, vocês tem que sonhar”. E que tem como conseguir; tem como chegar na seleção, jogar fora. Acho que é importante.