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As maiores da história das águas abertas

Levantamento indica que Ana Marcela Cunha pode se tornar o maior nome da história da modalidade este ano

Ana Marcela Cunha (foto: divulgação)

Que a incrível Ana Marcela Cunha é uma das maiores vencedoras da história da natação em águas abertas, disso ninguém tem nenhuma dúvida.

E ela já iniciou o ano olímpico de 2020 na mesma toada vitoriosa de 2019.

Primeiro, foi eleita a melhor nadadora do mundo de 2019 em águas abertas pela Federação Internacional de Natação (FINA) , no início deste mês.

Depois, conquistou a medalha de prata na abertura do Circuito Mundial de Maratona Aquática, em Doha, no Catar, perdendo o ouro por apenas dois décimos, em uma prova que contou com oito das dez atletas já classificadas para a Olimpíada – e, na teoria, as mais bem cotadas para a prova olímpica de 10 km, o que fez da prova uma espécie da primeira prévia para o que poderemos ver em Tóquio.

Se contabilizarmos todas as conquistas da carreira de Ana Marcela, sua lista de feitos impressionantes é enorme. Entre os quais:

  • Entre as mulheres, ela é a maior medalhista em Mundias de Esportes Aquáticos nas provas de águas abertas, com 11 pódios.
  • No mesmo evento, ela é a única a conquistar quatro medalhas de ouro em uma mesma prova, no feminino, nos 25 km (2011, 2015, 2017 e 2019).
  • É a mulher brasileira com mais medalhas em Campeonatos Mundiais, contabilizando todos os esportes.
  • É a recordista de vitórias no Circuito Mundial de Maratona Aquática: nada menos que 25 primeiros lugares.
  • É a atleta eleita mais vezes a melhor do mundo em sua modalidade pela Federação Internacional de Natação, isso contabilizando todas as disciplinas aquáticas (natação, águas abertas, pólo aquático, nado artístico e saltos ornamentais): nada menos que seis vezes, em dez anos que o prêmio é oferecido.

No entanto, apesar de estar na elite mundial desde 2006, ela ainda não conseguiu a tão sonhada medalha olímpica.

Por isso, será que ela pode ser considerada a maior nadadora de águas abertas da história?

Ou a medalha olímpica seria fundamental para isso?

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Para averiguar isso, fiz um levantamento considerando os todos os resultados das principais competições de águas abertas em nível mundial, a saber:

  • Jogos Olímpicos (2008 até o presente)
  • Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos (1991 até o presente)
  • Campeonato Mundial de Águas Abertas (disputado de 2000 a 2010)
  • Circuito Mundial de maratona aquática (2007 até o presente)

Para registro de conquistas, Ana Marcela possui 11 medalhas em Mundiais de Esportes Aquáticos (5 ouros, 2 pratas e 4 bronzes), uma em Mundiais de Águas Abertas (bronze) e quatro conquistas do Circuito Mundial, além de dois vices e três terceiros lugares.

Ana Marcela Cunha em sua campanha vitoriosa no Mundial de Esportes Aquáticos de 2019 (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

Elaborei um critério simples para classificar as nadadoras.

A princípio, foram atribuídos 3 pontos para a vencedora, 2 pontos para a segunda colocada e 1 ponto para a terceira, em cada prova disputada. Considerei somente provas individuais, então as medalhas conquistadas nas provas de equipes/revezamentos não entram na conta.

No caso do Circuito Mundial, essa pontuação foi atribuída para as três primeiras colocadas ao final de cada temporada.

Obviamente, para elaborar um ranking das melhores, a principal competição, Jogos Olímpicos, e a principal prova, 10km, devem ter um peso maior.

Por isso, a prova de 10km olímpica rende quatro vezes mais, ou seja, 12, 8 e 4 pontos para as medalhistas, respectivamente.

A prova de 10km em Campeonatos Mundiais rende duas vezes mais, ou seja, 6, 3 e 2 pontos.

As outras provas (5km e 25km em Mundiais e o Circuito Mundial) rendem a pontuação padrão, ou seja, 3, 2 e 1 pontos.

Ou seja, para uma nadadora alcançar a pontuação equivalente à de uma vitória olímpica em um Campeonato Mundial, ela precisa ser perfeita: vencer os 5km, 10km e 25km.

Algo razoável, pois é preciso refletir a devida importância de uma medalha olímpica no ranking.

Elaborados os critérios, as 10 primeiras colocadas, e suas respectivas pontuações em negrito, são as seguintes:

  1. Larisa Ilchenko (RUS) 49
  2. Ana Marcela Cunha (BRA) 45
  3. Angela Maurer (ALE) 40
  4. Edith van Dijk (HOL) 40
  5. Britta Kamrau (ALE) 29
  6. Poliana Okimoto (BRA) 25
  7. Viola Valli (ITA) 25
  8. Rachele Bruni (ITA) 22
  9. Martina Grimaldi (ITA) 21
  10. Keri-Anne Payne (GBR) 20
Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto: duas brasileiras entre os maiores nomes da história da natação em águas abertas (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

A russa Larisa Ilchenko é realmente tida por muitos como a maior nadadora de águas abertas da história. Ela foi a primeira campeã olímpica da modalidade, em 2008, e em Mundiais tem um retrospecto praticamente impecável em provas individuais: 9 medalhas, sendo 8 de ouro.

Mas Ana Marcela não está muito longe. Por um lado, pode-se argumentar que a brasileira se beneficiou de competir várias vezes (e ganhar) o Circuito Mundial, algo que Ilchenko só teve oportunidade de fazer no final de sua carreira. Mas a russa esteve em seu auge em uma época em que todos os anos disputava um Campeonato Mundial, seja de Águas Abertas, seja de Esportes Aquáticos, o que Ana Marcela só pôde fazer no início de sua trajetória.

É interessante notar que as últimas campeãs olímpicas, a húngara Eva Risztov e a holandesa Sharon van Rouwendaal, não aparecem em colocações tão destacadas.

Justo. Afinal, além do ouro olímpico, Rouwendaal possui somente duas medalhas individuais em Mundiais.

Ristov, nem isso.

Compare com Ana Marcela, que tem 11, e Poliana Okimoto, que possui cinco e um bronze olímpico, e que também está, pelo ranking, entre as maiores de todos os tempos.

No masculino, o alemão Thomas Lurz é considerado por unanimidade o maior de todos os tempos das águas abertas, com incríveis 20 medalhas em Mundiais (12 de ouro), e jamais foi campeão olímpico – tem uma prata e um bronze.

Um ouro olímpico é importante, mas não é tudo.

Logo, as colocações parecem justas.

Uma medalha de bronze olímpica faria Ana Marcela empatar com Larissa Ilchenko no topo do ranking. E um ouro ou uma prata em Tóquio levaria a brasileira para o primeiro lugar de forma isolada.

Ana Marcela é indiscutivelmente uma das maiores da história. E pode se tornar a maior de todos os tempos este ano. Motivação extra para sua campanha olímpica.

Como se precisasse!

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