Em 1988, o lendário Robson Caetano, duas vezes medalhista olímpico, completou os 100m rasos em 10 segundos cravados.
A marca se mantém até hoje como recorde sul-americano da distância.
O que significa que jamais um brasileiro conseguiu correr a distância abaixo da mítica marca dos 10 segundos.
Se na época de Robson era raro aparecer um atleta que corresse abaixo da marca, até o final do ano passado eram 143 corredores na história a terem alcançado o feito. Só em 2019 foram 19.
(para registro, o recorde mundial pertence ao jamaicano Usain Bolt desde 2009, com 9s58.)
Por isso, fica a pergunta: o quão perto estamos de ver um brasileiro correr os 100m abaixo de 10 segundos? A resposta é: aparentemente, mais perto do que nunca. E pode ser que finalmente aconteça neste ano. Acompanhe o raciocínio a seguir, seguindo estatísticas.
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Um anúncio
Nos últimos anos, a expectativa de um brasileiro correr os 100m abaixo dos 10 segundos chegou a patamares elevados. Primeiro, porque Paulo André Camilo, atual vice-campeão pan-americano, correu duas vezes para 10s02, uma vez em 2018 e outra em 2019. Chegou a correr para 9s90 no Troféu Brasil do ano passado, marca não homologada como recorde porque o vento a favor marcava acima do limite permitido de 2 m/s.
Além disso, outros corredores fizeram marcas próximas. Em 2018, Jorge Henrique Vides registrou 10s08, enquanto Derick Souza marcou 10s10. Já em 2019, Victor Hugo dos Santos fez 10s07 e Rodrigo do Nascimento, 10s10.
Foram 8 corredores brasileiros com marcas iguais ou abaixo de 10s30 somente no ano passado.
Não só temos um brasileiro bem perto dos 9s99, mas um volume de corredores que podem fazer a chance de a quebra da barreira aumentar.
A tabela a seguir indica o número de corredores brasileiros com tempos iguais ou abaixo de 10s30, por ano, bem como o tempo do mais rápido, de 2010 a 2019:
O número de brasileiros correndo próximo dos 10 segundos e a marca do melhor brasileiro, em dada temporada, certamente impacta nas chances de haver um atleta correndo abaixo de 10 segundos na temporada seguinte.
Fazendo as contas
Além deste texto, confira também a análise sobre o assunto no vídeo a seguir, no canal do Esportístico no Youtube:
Por exemplo, houve 16 americanos correndo em 10s10 ou menos em 2018, sendo que o melhor tempo foi de 9s79. Era de se esperar que ao menos um americano registrasse tempo abaixo de 10 segundos em 2019, o que obviamente ocorreu – Christian Coleman conquistou o ouro no Campeonato Mundial com 9s76.
Em geral, quanto mais atletas de um mesmo país correm em 10s10 ou menos em uma temporada, e quanto melhor é o tempo do corredor mais rápido, aumentam as chances de o país ter ao menos um atleta abaixo de 10 segundos na temporada seguinte.
Um modelo estatístico, denominado regressão logística, pode ser utilizado para calcular a probabilidade de um país ter um atleta abaixo de 10 segundos em uma temporada, utilizando as informações da temporada anterior.
Nesse modelo, são dados pesos às informações, no caso número de atletas em 10s10 ou menos e o tempo do melhor corredor, de modo com que a probabilidade desejada possa ser calculada.
Esse é um dos modelos denominados de machine learning, ou aprendizagem de máquina, em que alimentamos o computador com dados e as informações desejadas são retornadas.
No caso, foram considerados dados dos rankings mundiais de atletismo de dez temporadas, de 2010 até 2019.
No panorama citado dos Estados Unidos de 2018, pelo modelo, a probabilidade de haver um americano correndo abaixo de 10s em 2019 seria de 99,97% – e, de fato, nove americanos correram abaixo da barreira no ano passado.
Entre os brasileiros, entre 2009 e 2017, com poucos atletas correndo perto dos 10 segundos, a probabilidade de algum deles correr abaixo da barreira não ultrapassou os 6%.
Em 2018, essa probabilidade saltou para 41,40% – e Paulo André chegou muito perto disso.
Na realidade, quando ele correu para 9s90 no Troféu Brasil com vento a favor acima do limite de 2 m/s, a projeção é que ainda assim ele teria corrido abaixo dos 10 segundos se o vento estivesse por volta de 1 a 2 m/s.
Considerando esse fator e os dados dos brasileiros melhores ranqueados, a probabilidade de um brasileiro correr abaixo de 10 segundos em 2020 aumenta ainda mais, para 59,32%.
Ou seja, nunca essa probabilidade esteve tão alta.
Isso não nos permite afirmar categoricamente que haverá um brasileiro correndo os 100m abaixo de 10 segundos em 2020. Mas a probabilidade de isso acontecer, pela primeira vez, é mais alta do que a de não acontecer.
E o feito ser alcançado em um ano olímpico, especialmente se for durante a própria Olimpíada, não poderia ser melhor.