Quando pequena, Sabrina Cass até brincava e falava de representar o Brasil nos esportes de inverno. Agora, aos 19 anos, a brincadeira virou coisa séria. A atleta, que possui dupla cidadania e chegou a representar os Estados Unidos, defende as cores brasileiras e está próxima de conseguir uma vaga olímpica inédita no Esqui Freestyle Moguls.
Filha de uma brasileira com um estadunidense, completou o trâmite burocrático na última temporada. Assim, desde julho de 2021, já está filiada como brasileira na Federação Internacional de Esqui (FIS). Ela traz todos os resultados da última temporada e, com isso, está entre as 30 melhores no ranking pré-olímpico da modalidade.
Ela também chega com status de estrela na delegação brasileira. Em 2019, foi campeã mundial júnior. “Quando era mais nova, eu e meus pais sempre falavam de esquiar pelo Brasil. Mas era algo que eu realmente não esperava e estou muito animada com essa experiência”, comentou a representante da CBDN.
Com as cores verde e amarela, Sabrina Cass quer alçar voos maiores em sua carreira. Ela vai disputar todas as etapas da Copa do Mundo da categoria e espera alcançar o Top 16 em todas – que, no Moguls, significa avançar à fase final das provas. Assim, espera progredir no ranking ao mesmo tempo em que evolui sua técnica ao finalmente competir na elite.
O primeiro passo será na Suécia, onde realizará treinamentos a partir de novembro e participará de uma competição em Idre Fjall entre 20 e 21 de novembro. Vai ser sua estreia como brasileira. “Espero que minha participação possa abrir portas para o Brasil. Se eu for bem nas temporadas, pode ser algo legal para mim e para o país”.
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Sabrina Cass começou cedo no esporte
A atleta da CBDN é a prova de que começar cedo no esporte pode fazer toda a diferença. Sua primeira experiência com os esquis foi aos dois anos de idade! Sua família viajava quatro horas de carro toda sexta-feira para poder esquiar no fim de semana. É uma das primeiras lembranças dela na neve.
Mas logo a diversão em família começou a virar algo sério. Aos 10 anos, Sabrina Cass participou de sua primeira competição, meio que a contragosto. “Não queria competir, mas minha mãe falou para tentar e eu amei! A partir daí fui progredindo no esporte”, afirma.
A evolução foi rápida e exponencial. Aos 15, se mudou à Park City para conciliar os estudos com os treinos em um centro de excelência do esqui freestyle. Duas temporadas depois, já disputava – e ganhava – o título mundial júnior e passou a integrar a equipe estadunidense – de onde saiu para se tornar na nossa primeira representante no Moguls.
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Título mundial júnior ‘inesperado’ trouxe frustrações
O título mundial júnior obtido em 2019, na Itália, foi o ponto alto de sua curta carreira, mas quase não aconteceu! A atleta não estava entre as quatro convocadas pelos Estados Unidos para o evento. Contudo, uma das titulares se lesionou semanas antes e abriu espaço para ela participar da competição.
“Nem pensei em pegar medalha. Queria em ir para se divertir e fazer o melhor que posso. Mas quando acabou minha descida e anunciaram que eu estava em primeira, eu só falei ‘O quê? Não é possível’”, brincou Sabrina Cass.
Mas o resultado que deveria mudar sua trajetória não surtiu o efeito esperado. Ela continuou disputando eventos ‘menores’ em vez de participar das provas adultas na Copa do Mundo. Foram duas temporadas assim – até que se cansou. “Fiquei chateada com a situação e decidi esquiar pelo Brasil. Foi uma decisão difícil que tive que tomar”, complementa.
Como é a disputa do Esqui Freestyle Moguls?
O Moguls é uma das categorias do esqui freestyle, esporte que combina a técnica de esquiar com movimentos acrobáticos. Consiste numa prova contra o relógio em que o atleta desce numa pista cheia de “morros” (os moguls) para realizar curvas técnicas, além de dois locais próprios para as manobras aéreas.
Ainda que seja cronometrada, a disputa premia a maior pontuação. No total, 60% da nota é calculada nos turns (as curvas nos moguls). Cinco juízes dão notas de 0 a 20 e a maior e a menor são descartadas. As manobras têm dois juízes, que dão notas de 0 a 10. Em cada salto, as notas são somadas e multiplicadas pelo fator de dificuldade – depois, há uma média com as duas apresentações. Por fim, o tempo é convertido em pontuação seguindo uma fórmula matemática.
O Moguls é uma das categorias mais tradicionais do esqui freestyle. A Copa do Mundo existe desde 1980 e o Mundial desde 1986. A princípio, foi esporte de demonstração nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1988, mas integra o programa olímpico desde a edição seguinte, em 1992. Sabrina Cass é a primeira brasileira a competir nessa modalidade.
Como é a caminhada olímpica?
São 30 vagas em cada gênero no Esqui Freestyle Moguls. Para ficar elegível, o atleta precisa ter um mínimo de 80 pontos FIS no ranking internacional em 17 de janeiro de 2022 e obter um Top 30 em alguma etapa da Copa do Mundo entre julho de 2020 e janeiro de 2022 ou no Mundial da modalidade em 2021.
A brasileira Sabrina Cass já atingiu esses requisitos enquanto competia pelos Estados Unidos. As cotas são distribuídas de acordo com o ranking internacional, com um limite de quatro por país. Atualmente na 27ª posição, a atleta da CBDN está muito próxima de confirmar a inédita vaga olímpica para o país nessa disciplina.
Caso confirme a classificação, ela vai ser a primeira brasileira a estrear nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2022. A primeira prova classificatória do Moguls feminino está programada para 18h de 3 de fevereiro, um dia antes da Cerimônia de Abertura. A segunda classificatória e as finais ocorrem no dia 6 de fevereiro.