Após se retirar da disputa do Troféu Nebelhorn de patinação artística no gelo, Isadora Williams foi às redes sociais se desculpar por ter decepcionado os torcedores. Nenhum atleta deveria se desculpar pelo seu desempenho esportivo. Até porque a patinadora brasileira fez o Brasil se acostumar com o inimaginável nos esportes de inverno.
Desde que começou a disputar a categoria senior (olímpica) em 2012, a representante da CBDG colocou a bandeira brasileira nos principais eventos da patinação artística. Ela abriu portas para o país nos esportes de inverno. Se hoje há cada vez mais interesse por essas modalidades, grande parte é pela sua trajetória.
É uma relação de amor que começou ainda na infância. Aos 6 anos, ela já falava que queria competir pelo Brasil, país de sua mãe, em vez dos Estados Unidos. Em 2009, enviou um vídeo à CBDG com suas apresentações para representar o país em competições internacionais. A estreia foi no ano seguinte, durante disputa do Junior Grand Prix, na Alemanha.
Mas não faltaram oportunidades para Isadora Williams competir por outros países. A última delas foi logo após os Jogos de PyeongChang, em 2018. Um atleta norte-americano a convidou para disputar os pares. Mas ela recusou. Jamais passava em sua cabeça não competir pelo país que sempre amou e representou tão bem.
Por dez anos, tivemos uma atleta, de fato, vencedora em uma modalidade de inverno. Isso explica o sentimento de tristeza após sua apresentação do programa curto na quinta-feira, 23 de setembro. A vaga para os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2022, seria muito difícil. Mesmo assim, torcíamos para que Isadora conquistasse, mais uma vez, um resultado inimaginável.
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Isadora Williams se tornou a face da CBDG
A Confederação Brasileira de Desportos no Gelo sempre teve pioneiros ao longo de sua trajetória. Cada um deles contribuiu para que a entidade crescesse e se posicionasse em diferentes modalidades. Mas é o rosto da patinadora brasileira que se tornou a imagem dos esportes de gelo no país.
Nenhum outro atleta de inverno conseguiu mobilizar tantos fãs e torcedores quanto ela. Isadora Williams, sozinha, possui mais de 27,6 mil seguidores no Instagram; a CBDG tem menos da metade: 10,5 mil. Mesmo quem não a conhece sabe que existe “aquela brasileira lá da patinação”.
Nada mal para quem teve que driblar a falta de patrocínio no início da carreira, a crise administrativa da CBDG com intervenção e troca de diretoria e, por fim, a própria desconfiança dos torcedores. No início, a chamavam de “estrangeira”. Hoje, ela é uma das atletas mais vencedoras do Brasil nos esportes de inverno.
Resultados colocam Isadora Williams no panteão dos vencedores
A primeira lembrança do Brasil Zero Grau em relação à brasileira é de dezembro de 2012. Com apenas dois meses de atuação na área, acompanhei a histórica medalha de bronze no Golden Spin de Zagreb, na Croácia. Foi a primeira medalha brasileira em um torneio internacional de patinação artística na categoria olímpica.
O que se viu nos nove anos seguintes foi uma atleta que cresceu e amadureceu. Isadora Williams conquistou mais seis medalhas em eventos internacionais (cinco prata e um ouro, no Sofia Trophy, de Bulgária). Além disso, obteve os melhores resultados do país no Mundial da modalidade e no Four Continents, ambos em 2019.
E há as duas vagas olímpicas. Em 2014, nos Jogos de Sochi, o ineditismo da classificação já chamava a atenção de todos. Mas a última colocação a fez lutar por mais. Ela se preparou, trocou de técnico e, nos Jogos de PyeongChang, em 2018, foi a primeira sul-americana a avançar ao programa longo. Sua apresentação no programa curto já está entre os melhores momentos do Brasil na história dos esportes de inverno.
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O que vem por aí?
O Troféu Nebelhorn reforçou uma realidade cruel da patinação artística no gelo: a modalidade está em constante evolução. Em 2013, a brasileira conseguiu a classificação com 130.08 pontos. Em 2017, a vaga veio com 154.21. Neste ano, contudo, a australiana Kailani Craine foi a última classificada com 165.35 pontos.
Isso significa que é o fim da trajetória esportiva de Isadora Williams? Não necessariamente. Somente a atleta pode dizer qual é a hora de parar ou até onde pode crescer. Se ela julga que pode acompanhar a evolução da modalidade e participar de mais um ciclo olímpico, que siga em frente. Jaqueline Mourão, por exemplo, mostra que é possível se reinventar tanto no esqui cross-country quanto no ciclismo.
“Temos um legado e penso que ainda temos muito mais que conquistar. Pretendo ir ao Brasil e visitar a nossa pista de gelo em São Paulo”, escreveu a atleta no Twitter. Que seja a oportunidade de mostrarmos a ela todo nosso orgulho por nos oferecer um lindo sonho de dez anos no competitivo mundo da patinação artística no gelo.