No dia 20 de novembro de 2020, Nicole Silveira, atleta brasileira do skeleton, se tornou na primeira representante do país presente na Copa do Mundo da modalidade. O feito foi alcançado em meio aos protocolos de segurança por conta da pandemia de Covid-19. Algo que não é novidade para ela, que também enfrentou a doença como enfermeira.
Profissional de saúde atuante no Canadá, Nicole trabalhou na área durante a primavera e o verão no hemisfério norte (março a setembro). Ela atuou inicialmente em uma casa de repouso para idosos e também em hospitais da região. O período englobou justamente o início e o pico de avanço do novo coronavírus.
“Foi bastante difícil. Primeiro porque eu retornei para o Canadá na véspera do lockdown e tive que ficar de quarentena. Depois, inicialmente trabalhei em uma casa de idosos no auge das medidas de isolamento social”, explicou.
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Essa experiência da representante brasileira do skeleton também influenciou em sua preparação esportiva. Acostumada com equipamentos de proteção individual, como máscaras e roupas, Nicole também identifica a eficácia dos protocolos adotados nas competições internacionais, reduzindo ainda mais o risco de contágio.
Para garantir a realização da Copa do Mundo de Bobsled e Skeleton, a IBSF adotou um protocolo rígido de prevenção para os atletas e dirigentes. Entre as medidas, a entidade realizou etapas duplas em Sigulda, na Letônia, e Innsbruck, na Áustria, no fim de 2020. O objetivo é reduzir o deslocamento dos atletas e garantir uma espécie de “bolha”.
“É claro que usar máscara para atividades físicas é desconfortável, mas eu já estou acostumada com o dia a dia e, como enfermeira, eu vejo quando posso manter distância em certas situações na competição. Mas isso não é ruim. Eu só tenho a agradecer por ter uma competição para disputar no atual estágio da pandemia”, afirma.
Da dança ao gelo, passando por futebol e fisiculturismo
A brasileira do skeleton é uma das estrelas dos esportes de gelo do país. Mas sua trajetória até chegar à modalidade foi bastante diversa. Natural de Rio Grande (RS), a jovem de 26 anos mora desde os sete no Canadá. Com família inserida no esporte (o pai e o avô foram jogadores de basquete), ela tem contato com a atividade física desde a infância.
Antes de se mudar, por exemplo, Nicole já praticava a dança. Depois, experimentou a ginástica. Mas quando viu o irmão praticando o futebol, resolveu experimentar a prática. Foram quase dez anos nesse esporte, mas ela resolveu parar. Até que veio o fisiculturismo por indicação de colegas.
Na primeira experiência, já ficou na quarta colocação de sua região, sendo que as três avançavam à próxima fase. O instinto de competição (“eu sou 0 ou 100 no esporte, ou faço no limite ou nem faço”) a fez continuar. No ano seguinte, não só passou de fase, como avançou até à final do Campeonato Canadense da modalidade.
E onde entra o gelo que a transformou na brasileira do skeleton. Em 2017, quando trabalhava em uma loja de suplementos, recebeu o convite para integrar a equipe de bobsled da Heather Paes. O objetivo era garantir a classificação olímpica para os Jogos de Inverno de PyeongChang-2018. A vaga não veio, mas Nicole gostou do ambiente e resolveu continuar, agora em outra função.
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“Eu gosto de estar no controle e, na experiência do bobsled, eu era apenas a breakwoman [responsável pelos freios]. Queria continuar, mas já em mente que ou faria curso de pilotagem ou migraria para o skeleton”.
Até onde a brasileira do skeleton pretende chegar?
Migrou para o skeleton após receber convite de Matheus Figueiredo, presidente da CBDG. Logo após os Jogos de PyeongChang-2018, ela realizou seus primeiros treinos oficiais em Calgary, no Canadá. Em outubro daquele mesmo ano, participou de suas primeiras competições com a Copa América.
São, portanto, apenas duas temporadas completas nesta modalidade de gelo. Mesmo assim, já é a atual vice-campeã do circuito da Copa América, participou das últimas duas edições do Campeonato Mundial. Por fim, se o ranking pré-olímpico fechasse hoje, Nicole ficaria com uma vaga inédita nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022.
Mesmo assim, a brasileira do skeleton mantém os pés no chão. O objetivo, agora, é se desenvolver ainda mais na modalidade e pensar nos pontos necessários a partir da próxima temporada.
“Eu tenho dois anos de skeleton. As mais próximas do meu nível têm cinco, seis anos de experiência na modalidade. A evolução aumenta a confiança nas competições e estar aqui, ao lado das melhores do mundo, certamente ajuda a me impulsionar ainda mais”, conclui.
O próximo passo será nesta sexta-feira, 27 de novembro de 2020. A partir das 5h no horário de Brasília (10h no horário local), Nicole compete na segunda etapa da Copa do Mundo de Skeleton em Sigulda, na Letônia.