Em 2017, prata na Copa do Mundo e bronze no Pan-Americano. Saiba mais sobre a história da italiana, naturalizada brasileira, Nathalie Moellhausen!
Nathalie Moellhausen tem 32 anos e uma bela história na esgrima. Começou ainda aos cinco anos, em uma escola na Itália. Filha de um alemão e uma brasileira, ela conseguiu a nacionalidade brasileira e decidiu competir pelo país. Atualmente, vive em Paris e é treinada por Levavasseur.
A nacionalidade veio em 2014, quando a carreira de Nathalie já estava concretizada. Voltou a estaca zero. Perdeu posição no ranking e partiu de 277 para estar entre as 10 novamente. Não foi fácil. Demorou um ano e meio para isso. Na Rio 2016 chegou nas quartas e terminou entre as oito melhores, melhor desempenho da esgrima brasileira.
No primeiro ano do ciclo para Tóquio 2020 ela já deixou sua marca. Ficou com o bronze no Pan-Americano da modalidade, em junho. Depois, a histórica prata na Copa do Mundo de espada, na China, em novembro.
Confira a entrevista exclusiva com Nathalie Moellhausen realizada ainda no primeiro semestre. Ela contou sua história, detalhou como foi participar dos Jogos Olímpicos pelo Brasil e quais são seus sonhos.
Você é italiana com naturalidade brasileira quando e como foi feita a escolha de competir pelo Brasil?
Eu decidi competir pelo Brasil em 2014 após uma pausa que tinha feito na esgrima durante dois anos, desde as Olimpíadas de Londres em 2012 até 2014. Porque eu parei para trabalhar como diretora de arte de um evento muito importante pela esgrima internacional e esse trabalho foi que me obrigou a parar de fazer esgrima durante dois anos. Então quando eu… Eu sempre tive um pouco na cabeça essa ideia de competir pelo Brasil, mas não é uma coisa muito comum de fazer porque mudar e representar outro país é complicado. Então eu pensei vários anos, várias vezes durante minha carreira de fazer, mas nunca tive a coragem e depois em 2014 eu pensei que pros meus projetos com a esgrima, que é um pouco desenvolver esse esporte a nível internacional e mundial, achei que representar o Brasil nos Jogos Olímpicos ia ser a oportunidade para desenvolver esse esporte também em um país como o Brasil. Onde esse esporte ainda não é muito popular.
Antes disso, você já tinha bons resultados e medalhas. Conta um pouquinho da sua trajetória.
A minha trajetória: eu entrei fazer parte da equipe nacional italiana com 15 anos. Comecei a esgrima com 5 anos, então eu realmente faço isso faz já 25 anos e com 15 anos entrei na Nacional Italiana. Mas no começo eu fazia assim. Quando você é muito jovem você não sabe no que você é realmente boa. Na seleção você começa a ganhar, depois eles te chamam pra fazer uns campeonatos… Sim, até 15 anos você compete e depois tem a nacional do teu país responsável de equipes e começa a fazer uma seleção em função dos seus resultados. Depois eles te chamam. Então no começo foi uma coisa que aconteceu assim meio por acaso. Eu comecei a entrar na Nacional porque eu fazia resultados bons e eles acreditaram em mim. Eles me puxaram, daí eu fui medalha de bronze pela primeira vez no Mundial com 17 anos. Fui também campeã mundial por equipe com a Itália, quando era júniors. E depois com 20 anos eu decidi de ir para Paris e deixar a Itália, que eu achava que o mundo da esgrima na Itália, o mundo esportivo, era muito fechado. Eu, realmente, queria abrir a minha cabeça. Poder estudar fora do país, da Itália, e não ficar nessa coisa do mundo do esporte, que muitas vezes não deixa desenvolver as pessoas do jeito, eu acho, certo, que é a ideia de abrir a sua própria cabeça. Então, eu decidi vir para Paris e faz já dez anos que eu estou aqui aqui em Paris. Eu vim treinar aqui porque tinha um treinador francês, que é ainda meu treinador, que é um dos melhores do mundo e eu treinei com ele, ainda estou treinando com ele. E depois como resultados até Londres 2012 , pela Itália, eu consegui ser campeã mundial por equipes, eu fiz uma júnior e sênior. Depois, eu fiz medalha de bronze em individual no Mundial, que foi resultado do mundial sênior individual. Foi um resultado histórico pela esgrima italiana e depois vários resultados na Copa do Mundo, terceiro no campeonato europeu e vários resultados, que fizeram com que eu sempre fosse a melhor das italianas até 2012.
Você lembra qual foi seu primeiro contato com a esgrima? Como foi?
Meu primeiro contato com a esgrima foi com cinco anos na escola. Minha mãe me perguntou o que eu queria fazer entre as várias escolas de esporte e eu falei: olha eu quero fazer esgrima. Mas eu não sabia porque, não tinha nenhuma ligação com a minha família, nada de tudo isso. Tenho uma lembrança, primeira vez não sei, mas eu sei que eu não gostava, que a gente tinha uma aula assim meio esquisita com um maestro de esgrima que explicava as coisas, mas não sei, era meio estranho. Até que eu queria parar, eu não ia mais no curso de esgrima, até que um dia chamaram a minha mãe, falaram para ela ‘nunca mais ela vai na esgrima’. Daí eu fiquei com medo e daí comecei a ir e nunca mais parei até hoje.
Se pudesse explicar a um leigo sobre a modalidade, como faria?
Eu explicaria a esgrima não só como esporte, mas como uma arte do combate. Uma arte de combate, uma arte marcial, que fora dos aspectos técnicos, que não vão ser facilmente acessíveis e entendível para uma pessoa que nunca conheceu esse esporte. Eu sugeriria a quem nunca fez esse esporte, a praticar esgrima, porque eu acho a esgrima a melhor arte de combate e de vida para o desenvolvimento da própria pessoa. Porque a coisa mais legal desse esporte fora do gesto, estético, técnico, das condições físicas e da beleza do esporte em si, é também um esporte muito lindo, porque é um esporte que permite realmente o desenvolvimento da sua cabeça, porque é uma luta contínua entre você e você como primeiro adversário seu e como entender essa coisa muito importante. Que acho que é uma coisa que acontece geral com a sociedade, pra todos os seres humanos, que é encontrar o equilíbrio. O equilíbrio entre os medos que cada pessoa tem, entre as paixões, as emoções e como tentar equilibrar tudo isso. A esgrima é realmente o esporte que te permite fazer isso, porque por meio de todas as derrotas e os desafios, você tem uma obrigação com você mesmo de se puxar cada vez mais longe. Isso é uma coisa útil para qualquer pessoa, não precisa ser esgrimista para entender o princípio dessa arte.
Como você define sua participação na Rio-2016? Considerando que você foi a melhor brasileira na história da esgrima brasileira.
Para mim foi um sonho, que eu não sei ainda se eu acordei desse sonho lindo que eu vivi lá. Foi uma emoção única, inimaginável. Quero dizer que várias vezes eu imaginei aquele dia que eu ia competir, de poder imaginar como o povo brasileiro ia poder ser participativo na minha competição, mas como eu achava que ninguém conhecia a esgrima no Brasil, eu nunca poderia imaginar que os brasileiros poderiam se apaixonar tanto. Então nunca na minha vida eu acho que vou poder viver outra coisa tão forte como foi aquele dia dos Jogos Olímpicos, da minha competição, quando eu entrei no estádio da competição e durante todos os meus combates o estádio todo e todos os brasileiros estavam lá por mim. E para mim foi uma emoção muito forte, porque eu não sabia até aquele momento que como os brasileiros realmente veriam o fato, que eu como italiana estava representando o país deles. Então naquele momento pra mim foi o momento que eu senti que eles me adotaram. Eu senti que o Brasil me adotou a partir dos Jogos Olímpicos. E é por isso que eu estou continuando a jogar esgrima e não parei depois dos Jogos. Porque aquele foi o começo para mim, não foi o final. Então quero ainda mais ganhar e poder mostrar para o povo brasileiro que esse esporte… Digamos, trazer ainda mais pro Brasil. A energia que tinha no Brasil eu acho que nunca mais vai ter a mesma coisa em outra Olimpíada, uma coisa tão forte.
Qual a diferença da modalidade na Itália e no Brasil?
Eu comecei na escola, porque a esgrima é um esporte apresentado entre as modalidades para possibilidades de muitas escolas. Porque é como um esporte considerado educativo e isso primeiramente é uma coisa que falta no Brasil. Outro problema é que são muitos poucos, são três ou quatro estados de todos do Brasil, onde tem clube para praticar esgrima. Então, ainda querendo, ainda tem esse problema de onde as pessoas vão procurar a esgrima no Brasil. E o terceiro problema é a formação de técnicos, que sejam bons para preparar futuras gerações. Esses técnicos são fundamentais, eu queria parar de fazer esgrima quando eu tinha cinco ou seis anos porque eu não gostava do treinador, mas quando chegou a treinadora que eu gostei depois tudo mudou. Porque foi ela que me fez apaixonar. Então isso é muito importante, a formação dos técnicos para passar a mensagem. Eu acho que a coisa mais importante que eu gostaria de transmitir para o Brasil seria não só a esgrima como prática esportiva, mas tem outras formas. Esgrima é uma arte, é um baile, é uma dança, tem outras formas que as pessoas poderiam conhecer a esgrima e, sobretudo, muito legal como forma de educação pela sociedade para gerações e tudo. Então acho que isso poderia ser muito bacana.
Qual seu maior sonho pra modalidade no Brasil?
O maior sonho para mim na esgrima no Brasil seria pronto abrir uma escola. A minha escola no Brasil.
Como define a esgrima em sua vida?
A esgrima na minha vida é… Como dizer, é a minha melhor companheira de vida. É a minha melhor instrutora de vida, é a minha melhor amiga… Na verdade eu sou esgrima, não sou esgrimista, eu sou esgrima. Eu acho que realmente é uma coisa que depois de tantos anos já não tem mais divisão entre aquilo que eu sou e aquilo que é a esgrima. Eu sou uma coisa única com ela. E eu sou orgulhosa disso, porque a pessoa que eu sou hoje é graças a esgrima. É o meu grande amor e quando você tem um grande amor é difícil, porque você pode ter medo de perder esse amor, ter o desafio de continuar a conquistar até chegar ao resultado é um amor e ódio. Um dia você ama e um dia você odeia. Tem tudo dentro, tem todas as emoções.
Confira uma retrospectiva da modalidade em 2017:
Brasil fica em 14o. por equipes na Copa do Mundo feminina de florete na Polônia
Equipe do Brasil fica em oitavo lugar na Copa do Mundo de florete
Brasileiras ganham duas medalhas de ouro no Pan cadete e juvenil de esgrima
Nathalie Moellhausen termina Mundial de Esgrima em 18º lugar
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Brasileira fatura medalha de prata na Copa do Mundo de espada
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