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Tóquio 2020

Guilherme Toldo supera desafios, vai à 3ª Olimpíada e quer inspirar gerações

Aos 28 anos, atleta já tem o melhor resultado da história da esgrima brasileira em Olimpíadas e se consolida como referência

Guilherme Toldo - Tóquio 2020
(Instagram/gui_toldo)

De uma infância regada à esportes, nasceu Guilherme Toldo: esgrimista que, pela terceira vez, vai representar o Brasil em uma Olimpíada. E o que no começo podia parecer impossível, hoje não é surpresa. É fruto de muito trabalho e dedicação. A vaga em Tóquio-2020 foi conquistada em março deste ano, no último evento classificatório para os Jogos. Foi no Grand Prix de Florete em Doha, no Catar, quando Guilherme Toldo avançou para a chave principal da competição, após passar pelas fases de poule e T64. Foi o final perfeito de um ciclo bastante desafiador. 

“Estou muito contente, porque foi a coroação de um trabalho. Eu realmente me empenhei, tentei me organizar da melhor maneira possível para que eu tivesse a melhor preparação para poder alcançar esse objetivo. E depois de um ano de espera, por causa do coronavírus, eu fiquei muito feliz de voltar assim. Foi uma emoção com um fator a mais”, contou o esgrimista ao Olimpíada Todo Dia. 

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A pandemia tirou Toldo dos treinos por quase três meses e exigiu muita paciência e adaptação. No entanto, esse não foi o único fator desafiante nos últimos quatro anos. 

“As diferenças entre o ciclo da Rio-2016 para o de Tóquio 2020 são muito grandes, porque mudou muita coisa. Por ser o país sede para 2016, os atletas brasileiros tinham as melhores condições para se preparar para os Jogos, a CBE (Confederação Brasileira de Esgrima) conseguiu seu primeiro patrocínio oficial na história… Então o ciclo de Tóquio, eu vejo como uma ressaca depois de uma crista da onda que foi surfada para a Rio-2016”. 

O poder da experiência

O ciclo para Tóquio-2020 não foi, então, como o esperado. Na reta final, a pandemia do coronavírus mudou tudo e obrigou o adiamento dos Jogos Olímpicos pela primeira vez na história. Assim, restou para Guilherme Toldo usar a experiência adquirida nos ciclos anteriores.

“Como eu já estava experiente, já tinha passado por dois Jogos Olímpicos, eu já sabia o que era melhor e com a questão do coronavírus o planejamento foi totalmente destruído. Acredito que essa bagagem olímpica de dois Jogos me ajudou a me organizar de maneira melhor nessa volta pós questão do Covid-19.Acabei usando a minha experiência para reestruturar meus planos de treinamentos e planejamento”.

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Conseguindo repensar e replanejar a reta final de seus treinamentos, Toldo colocou, então, todo conhecimento à prova. Com quase uma década nas disputadas das grandes competições do mundo, o esgrimista soube, segundo ele, fazer as melhores escolhas possíveis para poder perder o menos possível. 

“Experiência não serve só para ficar velho [risos]. Depois de anos no circuito e vivenciando vários tipos de esgrima e competições, eu consegui atingir uma maturidade muito legal, muito interessante para que eu pudesse aproveitar o máximo das competições e chegar o mais longe possível. Claro que a maturidade não serve só na competição, mas também para que eu tenha uma certa confiança comigo mesmo nos treinos, para saber escutar melhor o meu corpo… E além dessa consciência, eu também tenho uma resposta muito melhor em saber reagir a cada situação, fazer as melhores escolhas”. 

Construção da carreira

Filho de educadores físicos, Guilherme Toldo cresceu rodeado por esportes. Praticou de tudo um pouco, mas foi na esgrima que encontrou seu propósito. Apesar disso, a carreira profissional no alto rendimento nem sempre esteve em seus planos. 

“Eu nunca pensei que fosse virar uma coisa séria, para ser bem sincero. Quando eu era criança, gostava de esporte, então sempre imaginei que ele estaria na minha vida, mas não uma forma profissional. Quando comecei a ficar mais velho, com menos tempo, a esgrima ficou mais evidente no meu dia a dia. E desde aquela época eu já gostava de Olimpíada. Então coloquei na cabeça que queria participar um dia, mas não tinha nem ideia do que realmente era num contexto de atleta profissional. E aí tudo isso foi tomando uma importância na minha vida, de uma forma gradual, sem pressão”. 

A ficha caiu mesmo quando Toldo se classificou pela primeira vez para a equipe adulta, aos 17 anos. Aos 20, já estava disputando sua primeira Olimpíada, em Londres-2012, e aos 23, já estava conquistando medalhas nos Jogos Pan-Americanos de Toronto-2015. E foi justamente no Canadá que ele percebeu uma oportunidade real na esgrima. 

“Quando consegui ir aos Jogos Pan-Americanos e conquistei medalhas, me senti importante naquele contexto. Não que eu tivesse um futuro, mas que eu tinha uma oportunidade ali na esgrima profissional. Depois foi confirmado que os Jogos Olímpicos seriam no Rio, eu vi uma possibilidade de investimento maior e então comecei a dedicar minha vida para a esgrima depois disso”. 

“Se me perguntar se quando criança eu chegaria nesse nível, eu diria que era loucura. Mas com o passar dos anos, quando fui amadurecendo, vi as oportunidades e vi que era possível. E depois disso, nada na minha carreira foi uma surpresa”, completou. 

Na luta pela esgrima

Guilherme Toldo - Tóquio 2020
Guilherme Toldo vai representar o Brasil pela terceira vez em Jogos Olímpicos (Instagram/gui_toldo)

Hoje, aos 28 anos, depois de duas Olimpíadas e de ter o melhor resultado da esgrima brasileira nos Jogos, junto com Nathalie Moellhausen, Guilherme Toldo é referência e leva isso como um combustível a mais na sua rotina. 

“Da mesma forma que quando comecei a fazer esgrima, eu gostava de analisar os atletas daquele momento e de me inspirar neles, agora as crianças me vêem dessa maneira também. Consigo ver isso e colocar na minha rotina como uma espécie de motivação. Ter apoiadores, pessoas que gostam do meu trabalho não é uma pressão, é uma satisfação para mim. E por isso tenho que ter responsabilidade e saber lidar com isso”. 

Agora, a menos de 100 dias de sua terceira Olimpíada, Toldo vai a Tóquio com a certeza de que escolheu o caminho certo e com uma missão que vai além do resultado. 

“Eu não preciso de uma medalha olímpica para me sentir uma pessoa realizada, feliz. Então o que eu busco não é somente um resultado individual para mim. Obviamente que eu quero chegar o mais longe possível nos Jogos Olímpicos, quero cada vez mais conquistar resultados inéditos para o Brasil, mas eu gostaria mesmo de inspirar uma geração”, concluiu.

*Com Paulo Chacon

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