Dia desses apareceu uma mensagem no Instagram do Olimpíada Todo Dia. Um garoto querendo se apresentar para o mundo. Disse que era esgrimista, dos bons, e ofereceu a própria história como pauta. Seu nome é Pedro Paulo Montagna, de 14 anos, empunha um florete há quatro. Precisa se apresentar para fora, porque na esgrima já é do meio.
Pedro Paulo Montagna é de São Paulo e treina no Pinheiros, clube onde é associado, um dos mais importantes do país no esporte olímpico. É cria do técnico russo Gennady Miakotnykh, que marcou época por aqui e também foi treinador de Bia Bulcão, um dos grandes nomes do florete brasileiro.
“Eu comecei a treinar duas vezes por semana. Logo no início, o Gennady falou para eu treinar com ele. Primeiramente eu fazia alguns dias, mas depois comecei a evoluir e ele começou a exigir mais. Foi aí que a esgrima mudou para mim, de brincadeira para uma coisa um pouco mais competitiva”, explica de seu quarto em um apartamento em São Paulo, por videoconferência.
Inspiração na irmã
A modalidade chegou meio a reboque da irmã. Ela ia participar de uma aula teste e Pedro não tinha onde ficar. Na época com dez anos, restou ir, ainda que meio de cara amarrada. “Aí quando eu cheguei lá, conheci o Bernardo, o Churros, que deu a aula e eu acabei gostando muito.”
A partir daí, começou a se envolver mais e foi participar de campeonatos e campos de treinamento, dentro e fora do país. Acabou crescendo nas categorias de base e hoje ocupa a segunda colocação no ranking brasileiro na categoria pré-cadete, para atletas de 14 e 15 anos. Está colado no líder, Giorgio Fumagalli. São 388,8 pontos contra 386,2. O terceiro, André Mura, também do Pinheiros, está 25 pontos atrás.
“Meu principal objetivo é chegar num Mundial cadete, juvenil”, diz. A longo prazo, admite que pensa em Olimpíadas. “Seria um grande desafio, uma coisa incrível. Deve ser sensacional. Ainda está um pouco longe, mas eu sempre penso nisso”, conta.
Gennady, evolução e escola
Para isso Pedro treina. A aula teste aos poucos foi tomando ares mais sérios e ele se animou. “Quando eu percebi, já estava evoluindo. Foi muito louco, muito rápido. Eu tenho só quatro anos no esporte. Eu considero a minha evolução bastante rápida”, fala, com firmeza.
Diz que aprendeu disciplina, organização com Gennady. “Era uma pessoa muito metódica e muito correta nas coisas que ele fazia”. Refere-se ao mestre russo como “mentor” e garante que exigia que fosse bem na escola. “Senão, não tinha treinamento.” Admite também que “sempre tinha um puxão de orelha”.
Discípula de Gennady no florete, Bia Bulcão é outra referência. Também treina no Pinheiros e eles estão sempre dividindo a pista. “É uma grande parceira. Ela sempre me dá um toque, quando eu jogo com ela. Me ajuda muito. Nunca vejo ela brincando no treino, sempre pegando duro. Isso me incentiva. Tem vezes que ela me pede para fazer o treino com ela. Eu quase morro, mas eu faço”, diz. “E convivência também. Ela me dá lições de vida, como o Gennady dava”, acrescenta, sobre a primeira brasileira a medalhar com a arma em Jogos Pan-americanos.
Esgrima e escola
Respeitando uma das regras de Gennady, e dos pais, Pedro Montagna precisa da disciplina para dar conta da rotina de aluno e atleta. Sai cedo de casa para o colégio, tem aula à tarde e depois vai para os treinos. É aluno do Dante Alighieri.
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“O colégio abona as minhas faltas”, diz, explicando que justifica as ausências com uma carta do clube avisando que não estava presente por compromissos com a esgrima. “Além da carta eu preciso passar nas notas. A média é seis, então eu preciso ter média seis”, acrescenta, detalhando que pode dosar as atividades no decorrer do ano.
Adiante!
Após a escola, vai para o treino. Com o falecimento de Gennady, passou a treinar com Roberto Lazzarini, ex-atleta olímpico do clube (Seul-88 e Barcelona-92). “Eu já vinha treinando com ele às vezes e isso agora esse trabalho se intensificou e espero evoluir muito com ele”.
Tem acompanhamento com nutricionista do clube. “Ele montou um plano alimentar para eu seguir agora na quarentena. E aí, quando as coisas voltarem ao normal, ele vai remodelar ao meu dia a dia que era antes”, detalha Pedro.
“Meu ponto forte é a técnica. Como desde pequeno o Gennady me treinava, ele me passou muita coisa técnica que me fez crescer muito. A velocidade do braço, sem dúvida. Para a minha idade, é muito boa”. O ponto fraco no florete? “As movimentações defensivas. As paradas”, diz, já emendando: “mas isso diminuiu muito já”.
Ele explica porque o ponto fraco está “diminuindo”. “O clube dá oportunidades para treinar fora. No começo de 2019, o clube proporcionou para quem estivesse entre os seis primeiros do ranking, fazer um estágio em uma academia em Los Angeles e eu fui porque eu era o terceiro do ranking. Sou muito grato por isso”.
“No fim do ano passado, a CBE (Confederação Brasileira de Esgrima) também realizou um estágio de treinamentos. Eu não fui convocado, mas consegui participar. Foi uma experiência extraordinária, porque dentre todas as pessoas que foram eu era o mais novo. Foi muito bom, porque jogando com os mais velhos eu aprendo como eles jogam e a cada vez mais agrego ao meu jogo. Isso é muito legal”.
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Ele também pode respirar ares da Itália, um dos gigantes na esgrima mundial, praticando na escola Antonio Di Ciolo, em Pisa. E esteve no Peru, já em 2020, para o que acredita ter sido a “experiência que mais agregou”.
Volta dos treinos por aqui
No dia da entrevista, o Pinheiros estava começando a reabrir após meses fechado por conta da pandemia do novo coronavírus. Dias depois da reabertura, Pedro já mostrava o recomeço da rotina presencial. Ainda com as restrições impostas pelas autoridades, mas a imagem era animadora. Ao lado do ‘novo’ treinador, com o florete não mão, ambos sorrindo e a frase: “Hoje teve treino!”
“Tiraram tudo de mim. Tiraram o clube, tiraram meu técnico. Então era meio difícil, porque eu vou continuar treinando? Mas é um negócio que eu amo fazer, eu faço porque realmente eu gosto do esporte. Eu tenho vontade enorme de conseguir título. E isso me motiva a ir para frente”.
Uma videoconferência, alguma semanas e um texto depois, está apresentado Pedro Paulo Montagna. Esgrimista, do florete. Aonde vai, ninguém sabe. Mas as sementes estão lançadas e são tratadas com esmero e respeito. Ingredientes de grandes histórias do futuro.