“Um dia único na vida. Muito especial,” relembra. Nathalie Moellhausen levou o Brasil ao histórico primeiro título mundial da esgrima na última quinta (18), em Budapeste, na Hungria. Representando a Itália, ela chegou a ir ao pódio em 2009, 2010 e 2011. Perdeu todas as qualificações no ranking com a escolha de adotar o Brasil como país. Na Rio 2016, a atleta conquistou o melhor resultado da modalidade para o nosso país. Com o título, Nathalie já está garantida em Tóquio 2020 e é a atual quarta do mundo.
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Em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia, Nathalie Moellhausen falou sobre a conquista, revelou os julgamentos que recebeu, contou da homenagem ao pai e falou sobre Jogos Pan-Americanos e Tóquio 2020.
Como foi essa conquista pra você?
“Foi o dia mais lindo da minha vida, é isso que eu posso dizer. Eu consegui a maior conquista de toda a minha carreira esportiva. Consegui isso pelo Brasil. Nas cores brasileiras. E foi demais, foi demais porque era aquilo que eu mais queria. E desde que eu mudei para representar o Brasil foi realmente uma emoção incrível. Incrível.”
O que significa essa conquista pelo Brasil?
“Foi bem diferente no sentido, quando eu deixei a Itália para representar o Brasil, foram muito difíceis os primeiros anos, porque como vocês podem imaginar teve muita polêmica sobre essa mudança e decisão de deixar a Itália e vir para o Brasil. Que não é uma coisa comum, que normalmente é uma coisa que os atletas não tem que fazer. Mas eu fiz, porque eu acho que na vida eu gosto de romper com as regras em geral. Eu achei que como eu tinha dupla nacionalidade, que minha vó sempre me disse: por favor, represente o Brasil. Eu achei que realmente eu podia conseguir isso. Só que quando eu mudei da Itália pelo Brasil eu não era mais ninguém na Itália. E não era ninguém ainda no Brasil. Eu tive que esperar até os Jogos Olímpicos, onde eu fiz o sexto lugar e aí acho que foi o dia onde o Brasil, realmente, me adotou como brasileira. Até aquele momento eu acho que as pessoas tinham uma ideia de mim, um pouco todo mundo, na Itália e no Brasil achavam que eu queria ter essa representação só para aproveitar do feito, que talvez era mais fácil ser esgrimista brasileira que italiana. Mas eu na minha cabeça tinha só um objetivo: o dia de mostrar que não era assim. Que eu realmente era a mais forte do mundo, seja pela Itália, seja pelo Brasil. Seja por qualquer país. Porque a única coisa que no final conta é a paixão que você tem e aquilo que você pode transmitir. Não só pelo país que você representa nas suas origens, mas no mundo inteiro, que é isso que está acontecendo hoje em dia. Todas as pessoas celebrando comigo.”
Como foi o caminho até a conquista da medalha?
“Foram dois dias, na verdade. Eu tive que passar pela pole, primeiro dia de qualificação, onde eu ganhei os meus seis combates a cinco toques. Eu ganhei quatro desses combates de um toque. E depois durante a competição nos combates de quinze toques, eu ganhei mais, inclusive aquele da final, no último toque. Então quer dizer que eu ganhei oito combates, sobre oito, que eu consegui colocar o último toque. E esses foram os combates mais emocionantes sempre assim. Quando você ganha de um toque é como se uma magia particular. É aquilo que eu senti. Como se Deus estivesse comigo nesse dia. Dizendo: tá bom, é ela que vai colocar o último toque, porque eu sei que muitas vezes acontece o contrário. E não dá pra ser sempre assim, as vezes você não coloca o último toque e tudo acaba assim. Então realmente magia sim.”
Depois da conquista, você comemorou beijando uma tatuagem. O que ela representa?
“Essa tatuagem é uma tatuagem que eu fiz na Tailândia. No ano passado quando o meu pai faleceu, lá na Tailândia, ele infelizmente faleceu de infarto. Assim de um dia para o outro. E ele não foi só um pai na minha vida. Ele foi o meu filósofo de vida, ele foi meu guia, foi meu mestre de vida, ele me ensinou como construir um som. Quando eu tinha cinco anos, era italiana, fazia esgrima. A gente estava no carro, um dia. E eu comecei a perguntar pra ele… Eu tinha ganhado uma competição na escola e falei pra ele: mas depois da competição da escola o que a gente ganha? Depois você pode ganhar o regional. E depois do regional a gente ganha o que? Depois você pode ganhar o nacional. E depois do nacional a gente ganha o que? Você pode ganhar o campeonato mundial. Eu falei: depois do mundial você ganha o que? Você pode ganhar os Jogos Olímpicos. E ele sempre, sempre, sempre, acreditou em mim. Eu fui da Itália para a França. Sempre, sempre… E eu lembro que ele sempre me disse… A última mensagem que ele me deixou antes de morrer dizia que eu merecia, enfim, na minha vida de voar com as minhas próprias asas. Então eu fiz essa tatuagem na Tailândia pra ele que significa o número oito em tailandês. E o número oito era o número preferido dele, ele faleceu dia oito, março de 2018, e deixou uma mensagem: o infinito. O infinito da vida, que a gente nunca sabe, que o tempo a gente acha que é futuro, mas na verdade é presente. A gente sempre tem que estar no momento presente. Não tem que pensar no futuro, porque num segundo você não está mais nesse mundo. Então eu quero dedicar essa vitória para ele, porque eu sei que eu ganhei porque ele estava comigo.”
Você compete os Jogos Pan-Americanos. Qual sua expectativa?
“Tentando chegar na melhor forma. É outro tipo de competição, outro tipo de adrenalina, porque quando você ganha um campeonato mundial é muita coisa, mas o Pan-Americano é importante para todos os países da América. É uma oportunidade para a esgrima do Brasil estar crescendo como esporte. Então vou tentar fazer o meu melhor para poder valorizar a bandeira brasileira.”
Está decorando o hino nacional?
“Foi muita emoção, posso dizer que eu tenho que aprender a cantar o hino brasileiro, rs. Porque é muito complicado. Tenho que ouvir mais, então espero que, realmente, a comunidade brasileira me ajude nessa missão. Prometo que vou dar o meu melhor, que agora que ganhei acho que isso é muito importante. Mas para mim é o hino mais bonito do mundo. Realmente, é super bonito. Muito mais bonito que o hino italiano.”
Então a meta é ir decorando para Tóquio? Você subiu no ranking com essa conquista, né?
“Isso. Agora a próxima meta é Jogos Olímpicos. Com essa minha conquista eu já estou qualificada para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Não tenho mais que me preocupar com nada. Sou número quatro do ranking mundial e primeira do ranking olímpico.”