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COB nasceu em 1914, mas só se organizou mesmo 21 anos depois

Apesar do COB ter sido fundado 22 anos antes, a primeira Olimpíada em que a delegação do Brasil foi organizada pela entidade foi a de Berlim-1936

Paulo Wanderley é o presidente do COB no momento em que a entidade completa 106 anos de história (Divulgação)

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) completa nesta segunda-feira 106 anos de idade. A organização foi criada em 8 de junho de 1914, mas só conseguiu se organizar, para valer, em 1935, um ano antes dos Jogos de Berlim-1936. Conheça as curiosidades sobre a história da entidade.

O NASCIMENTO DO COB

A história do COB começou em 1913, um ano antes de sua fundação, quando Raul Paranhos do Rio Branco, embaixador do Brasil em Berna, na Suíça, recebeu convite do Barão de Coubertin para integrar o Comitê Olímpico Internacional.

O convite fez do embaixador o primeiro delegado do COI para o Brasil e provocou uma campanha pela formação de um Comitê Olímpico no país. No dia 8 de junho de 1914, dirigentes esportivos brasileiros se reuniram na sede da Federação Brasileira das Sociedades de Remo e criaram o que na época foi chamado de Comitê Olímpico Nacional (CON), que teve Fernando Mendes de Almeida como primeiro presidente. Na mesma ocasião, nasceu a Federação Brasileira de Sports (FBS), que dois anos depois passou a se chamar Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

COMEÇO PRA VALER SÓ EM 1935

Arnaldo Guinle foi um dos responsáveis pela reorganização do COB

Apesar do COB ter sido fundado em 1914, a primeira participação olímpica brasileira aconteceu em 1920, já que os Jogos Olímpicos de 1916 foram cancelados por causa da Primeira Guerra Mundial. Mas quem organizou a delegação para os Jogos de Antuérpia-1920 foi a CBD. O mesmo aconteceu em Los Angeles-1932, depois do Brasil ter ficado de fora em 1924 e 1928.

A reorganização do COB se deu em 1935 por influência de Raul Paranhos do Rio Branco, Arnaldo Guinle e José Ferreira Santos, que eram, na época, os membros brasileiros do COI. Para enviar a delegação nacional aos Jogos Olímpicos Berlim 1936, no entanto, houve impasse entre o Comitê e a CBD, que tinha o apoio do presidente da república, Getúlio Vargas.

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Assim, o Brasil enviou duas delegações para a Olimpíada de Berlim-1936. Os atletas da CBD, no entanto, foram barrados na Vila Olímpica e tiveram que passar a noite numa estação de trem. Mas, no dia seguinte, o acordo entre as entidades foi selado e o país teve 94 competidores na capital alemã.

Antônio do Prado Júnior foi o presidente do COB de 1935 a 1946, quando Arnaldo Guinle assumiu, ficando até 1950. Foi sob o comando dele que o Brasil disputou os Jogos Olímpicos de Londres-1948 e quebrou o tabu de 28 anos sem medalha com o bronze conquistado no basquete masculino.

José Ferreira dos Santos assumiu a presidência do COB em 1950 e ficou no cargo por 12 anos. Foi sob o comando dele que o Brasil disputou os Jogos Olímpicos de Helsinque-1952, Melbourne-1956 e Roma-1960. Ao mesmo tempo, começaram a ser disputados a partir de 1951 os Jogos Pan-Americanos. O período ficou marcado pelo bicampeonato olímpico de Adhemar Ferreira da Silva (1952 e 1956), além de mais um bronze para o basquete masculino (1960) e as primeiras medalhas natação (bronze de Tetsuo Okamoto em 1952 e Manoel dos Santos em 1960).

O REINADO DE PADILHA

Ex-atleta dos 400 m com barreiras, Sylvio Magalhães Padilha dirigiu o COB por 27 anos (Arquivo pessoal)

Átila de Achê foi o presidente do COB durante dez meses em 1963. Apesar da curta passagem, ele teve a horna de ser ver acontecer sob sua gestão a disputa dos Jogos Pan-Americanos de São Paulo em 1963. Em outubro do mesmo ano, Sylvio de Magalhães Padilha, ex-atleta dos 400 m com barreiras, quinto colocado nos Jogos Olímpicos de Berlim-1936, se tornou o mandatário. Duas vezes porta-bandeira do Brasil nas cerimônias de abertura de Berlim-1936 e Londres-1948, ele foi o chefe de delegação do país nas Olimpíadas de 1948, 1952, 1956 e 1960 antes de assumir o COB e ficar no poder durante 27 anos.

Ninguém ocupou o cargo por tanto tempo. O curioso é que a família quer voltar a dirigir o COB. Neto de Sylvio de Magalhães Padilha, Alberto Murray vai ser o candidato de oposição na eleição para a presidência do COB que vai acontecer em novembro de 2020.

Boa parte da gestão de Padilha foi marcada por um enorme jejum de medalhas de ouro, que só foi quebrado em Moscou-1980 com a vitória de Lars Bjokrson e Alexandre Welter na vela. Os dois foram os primeiros campeões olímpicos do Brasil em 34 anos. O feito se repetiu com Joaquim Cruz nos 800 m rasos em Los Angeles-1984 e Aurélio Miguel no judô em Seul-1988.

A ERA NUZMAN

Nuzman é preso em operação que investiga fraudes na Rio 2016.
Sob o comando de Nuzman, o Brasil teve seus melhores resultados em Jogos Olímpicos (Divulgação)

Sylvio Magalhães Padilha deixou o comando do COB em 1990. Seu sucessor foi André Richer, que fez parte da equipe brasileira de remo em Melbourne-1956 e tinha sido presidente do Flamengo. Sob seu comando, o Brasil conquistou pela primeira vez na história duas medalhas de ouro numa mesma Olímpiada. Em Barcelona-1992, o país subiu no lugar mais alto do pódio com Rogério Sampaio no judô e no vôlei masculino.

Vice de André Richer de 1990 a 1994, Carlos Arthur Nuzman se tornou presidente do COB em 1995 e ficou no cargo até outubro de 2017, quando renunciou por causa de acusações de compra de votos para a eleição do Rio de Janeiro como cidade-sede da Olimpíada de 2016.

Apesar do escândalo, é inegável que durante a Era Nuzman o Brasil deu um salto de qualidade em relação ao esporte olímpico e começou a conquistar resultados importantes como nunca antes havia acontecido na história.

Da primeira participação brasileira em Antuérpia-1920 até Barcelona-1992, o Brasil acumulou 39 medalhas: nove ouros, dez pratas e 20 bronzes. Sob o comando de Nuzman, de Atlanta-1996 à Rio-2016, o país subiu no pódio 90 vezes com 21 títulos de campeão olímpico, 26 vices e 43 terceiros lugares.

O divisor de águas aconteceu em 2001. Neste ano foi criada a Lei Agnelo/Piva, que destina 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país ao COB (85%) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (15%), recursos que aceleraram o crescimento do esporte nacional. Sob a gestão de Nuzman, o Brasil recebeu os Jogos Sul-Americanos de 2002, Pan-Americanos de 2007 e Olímpicos de 2016.

Com a renúncia de Nuzman em 2017, quem assumiu a presidência do COB foi o vice Paulo Wanderley, que dirigiu a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) de 2001 a 2017. Ainda não há a confirmação de que ele vai concorrer à reeleição em novembro de 2020.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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