Em tempos de discussões e protestos por causa de racismo, exacerbados pelas mortes de George Floyd nos Estados Unidos, e do garoto João Pedro Mattos no Brasil, vale trazer a análise para o esporte. A natação, por exemplo, é uma modalidade em que está explícita a diferença social entre negros e brancos. Usando os Jogos Olímpicos com parâmetro, demorou 80 anos para para que o primeiro afrodescendente ganhasse uma medalha com o holandês Enith Brigitha e 92 para que ela fosse de ouro com Anthony Nesty, do Suriname. Já uma mulher negra só foi subir no alto do pódio 120 anos depois, na Olimpíada do Rio, em 2016, feito conquistado pela americana Simone Manuel.
A explicação está no racismo. Nos Estados Unidos, principal potência da natação na história, as piscinas foram território proibido para negros por gerações. Até hoje, é muito difícil ver piscinas serem construídas em áreas predominantemente negras.
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, NO INSTAGRAM E NO FACEBOOK
Para efeito de comparação, o atletismo, esporte muito mais barato para se praticado, esperou apenas 12 anos para ver seu primeiro campeão olímpico negro, feito conquistado por John Taylor, dos Estados Unidos, nos Jogos de Londres-1908. Ou seja, a dificuldade de ascensão social deixa longe das piscinas os mais pobres, faixa onde está a grande maioria da população negra.
Em países em desenvolvimento, ter acesso a instalações de boa qualidade ou até mesmo básicas para praticar o esporte ainda é difícil para quem tem baixo poder aquisitivo. Além disso, a falta de referências negras de sucesso desmotiva os jovens a começar no esporte. O problema também afeta o Brasil. Até hoje, o país tem apenas um medalhista olímpico na natação: Edivaldo Valério, o Bala, bronze no revezamento 4 x 100 m livre nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000.
O PIONEIRO DO SURINAME
O herói negro que quebrou 92 anos de supremacia branca na natação foi Anthony Nesty. Nascido em Trinidad & Tobago, mas competindo pelo suriname, o nadador ganhou os 100 m borboleta nos Jogos Olímpicos de Seul-1988, superando o favorito americano Matt Biondi por apenas um centésimo.
Os feitos de Nesty não se restringiram aos Jogos Olímpicos de Seul-1988. Três anos depois, ele foi campeão mundial ao derrotar de novo Matt Biondi nos 100 m borboleta. Para completar, o nadador surinamês ainda foi bronze na Olimpíada de Barcelona-1992.
A MULHER QUE DERRUBOU 120 ANOS DE TABU
Se para um homem negro ser campeão olímpico demorou 92 anos, para uma mulher a espera foi de 120. A primeira a colocar uma medalha de ouro no peito foi Simone Manuel, dos Estados Unidos, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. E foram logo duas, já que a nadadora levou o título dos 100 m livre.
“Essa medalha não é só para mim, mas para todos os afro-americanos que vieram antes e serviram de inspiração”, afirmou. “Espero inspirar outras pessoas. A medalha é para quem vier depois de mim no esporte”, disse ela após a vitória na prova individual.
+ CONHEÇA O BLOG CURIOSIDADES OLÍMPICAS
E não foi uma medalha fácil. Foi tão difícil que foi dividida. Com direito a recorde olímpico, ela empatou com a canadense Penny Oleksiak, que tinha 16 anos. As duas terminaram juntinhas com 52s70 a prova dos 100m livre.
“Espero que, no futuro, haja mais de nós e não apenas a ‘Simone, a nadadora negra'”, disse Simone Manuel após a conquista. “O título ‘nadadora negra’ faz parecer que eu não deveria ser capaz de ganhar uma medalha de ouro ou quebrar recordes, e isso não é verdade, porque trabalhei tão duro quanto todo mundo. Quero vencer como qualquer outra pessoa.”, desabafou.