Em 124 de história olímpica, apenas 21 personalidades do mundo esportivo ganharam a medalha Barão de Coubertin, criada em homenagem ao criador dos Jogos. A honraria só uma vez foi parar no peito de um sul-americano, o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que a recebeu por conta do espírito esportivo demonstrado por ele na maratona disputada em Atenas-2004.
A medalha Barão de Coubertin é uma premiação concedida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a atletas e pessoas envolvidas com o esporte que demonstrem alto grau de esportividade e espírito olímpico durante a disputa dos Jogos. Confira os atletas que já ganharam o prêmio:
Eugenio Monti (Itália) – bobsleigh – 1964
Atleta italiano do bobsleigh, nove vezes campeão mundial e duas vezes medalhas de ouro em Jogos Olímpicos de Inverno. Apesar dos títulos, Eugenio Monti ganhou a medalha Pierre de Coubertin pelo espírito esportivo mostrando por ele na Olimpíada de Innsbruck-1964.
Sabendo que seus dois principais adversários na duplas, os britânicos Tony Nash e Robin Dixon, tinham quebrado um parafuso de seu trenó antes da final, Monti lhes emprestou um parafuso reserva de seu próprio trenó; com isso, os britânicos venceram a prova e Monti e seu parceiro Sergio Siorpaes ficaram apenas com a medalha de bronze.
Monti também teve outro ato de generosidade e desprendimento na disputa por equipes; o time canadense tinha danificado o eixo de seu trenó e seria desclassificado se Monti e seus mecânicos não tivessem ido em seu auxílio; o trenó foi consertado e os canadenses conquistaram a medalha de ouro, com a equipe italiana – e Monti– ficando novamente com a medalha de bronze. Por estes atos de espírito esportivo e desprendimento, ele foi o primeiro atleta a ser condecorado com a medalha Pierre de Coubertin.
Luz Long (Alemanha) – atletismo – 1964
Luz Long foi homenageado em 1964, 21 anos depois de sua morte. O atleta alemão teve a coragem de, mesmo em pleno regime nazista, ajudar o negro americano Jesse Owens durante a prova de salto em distância dos Jogos Olímpicos de Berlim-1936.
Owens já tinha queimado seus dois primeiros saltos e precisava fazer, pelo menos, 7,15 m para poder disputar a final. Long, que tinha feito o recorde olímpico nas eliminatórias, foi conversar com o rival e o aconselhou a saltar algumas polegadas para trás da tábua para não arriscar ser desclassificado.
O americano seguiu à risca o conselho e conseguiu a vaga na final, em que teve Long como principal adversário. Na disputa, os dois quebraram cinco vezes o recorde olímpico e, no final, Owens ficou com a medalha de ouro com 8,06 m, enquanto o alemão foi prata com 7,87 m.
Long foi o primeiro a parabenizar Owens pela vitória e os dois saíram do estádio conversando e abraçados em frente ao público e à elite nazista. Por conta da atitude esportiva de ajudar um rival direto, o alemão foi condecorado com a medalha Barão de Coubertin.
Lawrence Lemieux (Canadá) – vela – 1988
O velejador canadense Lawrence Lemieux se tornou o quinto ganhador da medalha Barão de Coubertin pelo que viveu nos Jogos Olímpicos de Seul-1988. Ele estava em segundo lugar na classificação geral da classe Finn na quinta das sete regatas da competição e tinha grandes chances de medalha, mas deixou de lado a chance de medalha para socorrer outros competidores que estavam em apuros.
Joseph Chan e Siew Shaw, dupla de Singapura que disputava a Classe 470, que competia na mesma raia da Finn, havia capotado no mar. Os dois velejadores foram jogados fora do barco, que os atingiu quando tombou. Os dois ficaram feridos e um deles à deriva no mar. Lemieux viu o acidente e desviou sua rota para ajudar os náufragos, retirando-os da água até que chegasse a equipe de auxílio para levar os feridos de volta.
Após o ato de heroísmo, Lemieux voltou para a prova em que terminou apenas em 22° lugar. Ao final de todas as regatas, o canadense terminou em 11º. Apesar disso, recebeu por sua atitude a medalha Pierre de Coubertin das mãos do então presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, durante a premiação oficial da regata, com elogios por seu espírito esportivo e coragem, personificando o ideal olímpico.
Emil Zatopek (República Tcheca) – atletismo – 2000
Um dos maiores nomes da história do atletismo mundial, Emil Zatopek foi homenageado com a medalha Barão de Coubertin dias após sua morte no final de 2000. Dono de quatro ouros e uma prata em Jogos Olímpicos, ele é o único atleta da história a conseguir vencer os 5.000 m, os 10.000 m e a maratona em uma edição de Jogos Olímpicos. O atleta tcheco consegiu o feito na Olimpíada de Helsinque-1952.
Tana Umaga (Nova Zelândia) – rúgbi – 2003
Tana Umaga socorreu o adversário Colin Charvis, de País de Gales, em partida pela seleção neozelandesa. O galês ficou inconsciente após sofrer um tackle e se engasgou com o protetor bucal. Único a perceber o acidente, Umaga deixou de lado o contra-ataque dos All Blacks para colocar o oponente em posição de socorro, além de retirar o protetor para desobstruir a passagem de ar. Pelo ato, o neozelandês recebeu a medalha Pierre de Coubertin.
Vanderlei Cordeiro de Lima (Brasil) – atletismo – 2004
A menos de 7 km para o final, Vanderlei Cordeiro de Lima liderava a maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 quando foi atacado pelo ex-sacerdote irlandês Cornelius Horan. O incidente atrapalhou o brasileiro, que perdeu a vantagem que tinha, acabou ultrapassado por dois concorrentes e terminou com a medalha de bronze.
Pelo espírito esportivo em continuar na disputa mesmo depois de ter sido atacado e a humildade demonstrada depois da prova, Vanderlei Cordeiro de Lima foi premiado com a medalha Barão de Coubertin.
Elena Novikova-Belova (Bielorrússia) – esgrima – 2007
Dona de seis medalhas olímpicas, quatro de ouro, uma de prata e uma de bronze, no florete feminino, Elena Novikova-Belova, que competia pela União Soviética, entrou para a história na final contra a sueca Kirshten Palm, nos Jogos da Cidade do México-1968.
Para subir ao lugar mais alto do pódio na competição individual, Elena Novikova-Belova precisou disputar a decisão do ouro a base de injeções de novocaína para combater as dores causadas por uma lesão na perna, sofrida durante um treinamento, que quase a fez desistir de competir.
Ela encerrou a carreira depois dos Jogos Olímpicos de Moscou-1980 e foi homenageada 27 anos depois. No encerramento do XI Congresso Científico, em Minsk, na Bielorrússia, ela foi agraciada com a medalha Barão de Coubertin pelos grandes serviços prestados ao Movimento Olímpico.
Shaul Ladany (Israel) – marcha atlética – 2007
Judeu nascido na Iugoslávia em 1936, Shaul Ladany é um sobrevivente do Holocausto. Quando tinha oito anos, foi liberado do campo de concentração de Bergen-Belsen. Para se ter uma ideia, seus avós por parte de mãe foram mortos em Auschwitz.
Após a libertação retornou à Belgrado e, quando tinha 12 anos, se mudou para Israel, quando o estado-nação foi formado. Seis anos depois, começou no esporte na maratona e, na década de 60, passou a competir na marcha atlética, prova em que ganhou notoriedade. Participou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos na Cidade do México-1968 e depois em Munique-1972.
Por causa do esporte, Shaul Ladany voltou à Alemanha pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial para disputar a marcha 50 km. Lá, a delegação israelense foi atacada dentro da Vila Olímpica por oito terroristas palestinos. 11 atletas foram mortos, enquanto Ladany conseguiu escapar.
Dois meses depois do atentado, ele voltou ao esporte, que, na verdade, ele nunca abandonou. Mesmo depois de envelhecer, ele continuou disputando competições de veteranos ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, se tornou renomado professor na Universidade Ben-Gurion do Negueve. Em 2007, ele foi condecorado pelo COI com a medalha Pierre de Coubertin por serviços extraordinários de pesquisas científicas dedicadas ao esporte e ao Movimento Olímpico
Petar Cupac, Ivan Bulaja e Pavle Kostov (Croácia) – vela – 2008
Petar Cupać, Pavle Kostov e Ivan Bulaja receberam a medalha Pierre de Coubertin em Pequim-2008 por espírito esportivo e humanitário. Eles emprestaram seu barco aos velejadores dinamarqueses Jonas Warrer e Martin Kirketerp, que tiveram o mastro de quebrado logo antes da largada da regata final, a Medal Race, que decidia as medalhas da classe 49er entre os dez melhores colocados até ali e para a qual os croatas não estavam classificados. Com o barco deles, Warrer e Kirketerp conquistaram a medalha de ouro.