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Vela

Vela não é esporte de rico, mas de pessoas dispostas

O esporte a vela não foi feito para assistir. Ele existe para praticar, sentir o vento no rosto. Os velejadores não são atletas, são uma comunidade.

Era final de 2009 quando um amigo fez um convite. Velejador experiente, ele tinha assumido a vice-presidência da Federação Náutica de Brasília e queria que eu trabalhasse na assessoria de imprensa da entidade para divulgar as provas de vela. Mesmo localizada em um deserto, no centro do país e com um lago criado pelas mãos humanos, a capital federal tem a terceira maior frota de barcos do país.

Diversas regatas são realizadas todos os fins de semanas no Lago Paranoá. Acompanhei as competições durante um ano e meio. Foi quando percebi que o esporte à vela não tem graça nenhuma e não passa de lenga-lenga chatíssimo para quem fica em terra firme.

Não demorou para a ficha cair e perceber que a vela não era um esporte, mas um estilo de vida. O esporte a vela não foi feito para assistir. Ele existe para praticar, sentir o vento no rosto. Os velejadores não são atletas, são uma comunidade. Compartilham um estilo de vida. Mesmo antes da criação das grandes competições esportivas, a vela era um estilo de vida. Olhando de perto a comunidade náutica, caiu aquele preconceito de que andar de barco é coisa de gente rica. Pelo contrário, é coisa de gente disposta. As atividades náuticas têm uma alta importância didática na formação de caráter de uma pessoa. Dentro de um barco, você tem que resolver problemas, sem lugar para fugir, e, se não resolver, o destino é o fundo do mar. Em uma competição, se o líder da regata perceber que um adversário está afundando, o velejador não pensa duas vezes em abandonar a prova para salvar o adversário do naufrágio.

O Brasil tem uma vocação náutica genuína. A experiência dentro de um barco forma o caráter de uma pessoa. A vela é, acima de tudo, uma atividade educativa. O Brasil tem a obrigação de ser uma potência esportiva em todas as classes olímpicas de vela, para agradecer aos céus pelo grande literal e pela natureza que temos.

Foi assim que passei a entender Robert Scheidt, Martine Grael, Kahena Kunze, Lars Grael, Marco Grael, Ana Barbachan e tantos outros grandes nomes do esporte. Mas, para surpresa, a minha maior admiração do esporte é de um grande nome que nunca ganhou uma medalha, mas que é campeão na vida. Na era do fake, onde tudo é falso na internet, navegar é uma das experiências mais verdadeiras que uma pessoa pode experimentar e o velejador Amyr Klink é o grande nome das aventuras humanas. Ele começou a velejar tarde, nunca ganhou medalha olímpica, mas é, para mim, um dos grandes “atletas” do Brasil.

Amyr Klink planeja uma expedição como um atleta de alto rendimento, com treinamento, muito estudo e objetivos claros. Em 1984, ele foi a primeira pessoa a atravessar sozinha o Atlântico Sul, no percurso de sete mil quilômetros entre Lüderitz, na Namíbia (África) e Salvador, na Bahia, em um barco a remo na missão que durou 100 dias. Klink é um campeão da olimpíada da vida, em que a medalha é a preocupação pelo bem-estar do planeta. Amyr carrega a mesma vocação de grandes nomes do esporte: inspirar as pessoas.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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