Dizem que o esporte é a representação mais precisa da natureza humana. A contradição fica na relação entre ganhar e perder. Com a proposta de levantar debate sobre as derrotas na vida dos atletas, o Netflix produziu a série chamada Losers. O documentário nos leva a refletir sobre os conceitos das palavras sucesso e fracasso no esporte.
A produção não é uma homenagem ao Íbis Sport Club. Dirigido por Mickey Duzyj, a série mostra que os fracassos esportivos podem ser mais gloriosos do que os sucessos. O diretor entrevistou amigos, familiares, treinadores e repórteres, com imagens de arquivos e animações modernas, para contar histórias de atletas que sofreram derrotas memoráveis durante a carreira. Os vídeos mostram como as pessoas transformaram as perdas em experiências positivas.
Foi a primeira vez que assisti uma produção que conta a história de atletas perdedores. Gostei da proposta, porque os fracassos nos coloca mais perto da vida real. A maturidade nos ensina que as derrotas são necessárias. A perda pode ser dolorosa, mas não há evolução sem ela. Elas nos fazem pessoas melhores.
A sociedade nos ensina a cultura da vitória. Por outro lado, a derrota sempre foi tratada como tabu. O primeiro episódio conta a história de Michael Bentt, um ex-campeão de boxe que viu em uma grande derrota a oportunidade de fazer o que realmente amava. No terceiro filme nos leva para o universo da patinadora Surya Bonaly, que encontrou seu devido reconhecimento quando finalmente parou de tentar ser o que os outros queriam que ela fosse.
O jornalista britânico Stuart Heritage, do The Guardian, escreveu que “há falha tratada como sucesso e sucesso tratado como falha”. Nas oito histórias contadas percebemos que o diretor não só contextualiza as falhas, mas mostra todos os lados delas.
Mais do que tudo, Losers mostra que o fracasso é uma alternativa. O grande vencedor é aquele que tem plena consciência da derrota e sabe administrar ela. O segredo é transformar derrotas e desastres numa história de otimismo e de sucesso.
No episódio do lendário curler canadense Pat Ryan, ele lembra de ter perdido o campeonato nacional de 1981 de maneira sombria e, depois, sentado deprimido com seus companheiros de equipe no vestiário perguntou: “Onde estaríamos se tivéssemos vencido este jogo?”. No bar, todos responderam. “Bem, então vamos lá”, disse.