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Crônicas Olímpicas

Vida composta só de domingos

Cansado, depois de seis dias de trabalho, Deus criou o domingo, como revela a sua biografia. Isso foi depois de ter inventado o firmamento, as águas, os continentes, as árvores, as capivaras, o porco-espinho, as sogras e os cunhados. Com essência misericordiosa, Deus ficou com dó dos homens e das mulheres e disse: “Disputai uns contra os outros, nas águas, nas ruas, nos ginásios e nos estádios. Vós correrão atrás da bola e uma multidão vai assistir ao vivo, pela TV ou pelo streaming. Deus chamou a nova criação de esporte. Assim, Deus viu que era bom”.

Domingo foi o dia em que Deus descansou. Deve ser por isso que é um dia tão melancólico. É o momento na semana em que quase nada nos distrai de nós mesmos. Só não é mais triste porque existe o esporte, criado um dia antes. O esporte tem o papel de deixar o domingo mais leve e divertido. É dia de torcer para o atleta favorito e procrastinar tudo o que é possível deixar para depois, pelo simples fato de ficar feliz em não fazer nada. Se fosse para escolher uma trilha sonora, sem dúvida seria tã-tã-tã, tã-tã-tã… que embalou por mais de 36 anos as manhãs de domingo.

Acordar com gosto de ressaca, tomar o café da manhã na padaria, ir à feira, ligar a televisão para assistir à Fórmula 1, ver a seleção brasileira de vôlei de quadra, torcer para as duplas de vôlei de praia, uma partida de tênis ou ver o resumo esportivo no Esporte Espetacular. Comer um churrasco no almoço, falar bobagens e, quando o fim de semana vai dizendo adeus e os dias úteis vão chegando, o futebol é o último consolo a cada gole de cerveja na casa de algum amigo.

Não existe domingo sem sol e sem esporte. É dia para tomar sorvete, arriscar uma corrida no parque ou um futebol com os amigos antes do fla-flu ou do derby (Corinthians e Palmeiras). Desde então, a sociedade moderna convencionou que ir à missa, ao culto, ao centro espírita ou assistir algum esporte são rituais religiosos sagradas de domingo nosso de cada semana.

Então, chega a noite de domingo, com a vinheta do Fantástico, para lembrar que a segunda se aproxima. Pego um livro e vou deitar com o sentimento de que a vida deveria ser composta só de domingos, sem compromissos profissionais e livre para curtir todo tipo de esporte.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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