Todos os meus colegas de escola adoravam as aulas de educação física, menos eu. O professor Fábio é o culpado pelo meu ranço. No lugar do tradicional futsal, para os meninos, e vôlei, para as meninas, ele quebrou as regras e incluiu outras modalidades. Não bastava inventar moda, correr ao redor das quadras de futsal durante 30 minutos foi a avaliação do bimestre. A sessão de tortura começou da pior forma possível: com alongamento.
Elasticidade nunca foi o meu forte, confesso. Além do mais, não conheço ninguém que gosta de alongamento. Eu, um grande jogador de futebol no PlayStation, comecei a sentir dor nas pernas, nas duas ao mesmo tempo, ainda nos primeiros minutos de corrida. Sempre fui aquele aluno cansado, que não aguentava nem a metade do primeiro tempo de jogo de futsal.
Não demorou para sentir a dor desviada (aquela dor no baço que você passou a vida inteira achando que se chamava “dor de veado”). Sentia menos ar no pulmão a cada passada, igual ao jogador brasileiro em partida na altitude da Bolívia. Na verdade, andei mais do que corri. Se demorasse mais cinco minutos, seria o primeiro caso no mundo de infarto aos 12 anos de idade. Foi naquele momento, de vida ou morte, que percebi que a aula de educação física serve para fazer com que os alunos odeiem esportes.
Nem todo mundo que escreve vai ter vontade de se tornar um escritor. Nem todo mundo que gosta de música deseja se tornar um astro musical. Nem todo mundo que corre quer se tornar um atleta. E eu estou na turma que não nasceu com aptidão para atividade física.
Tem quem ame e tem quem odeie a aula de educação física. Tem aqueles que têm medo de levar bolada e outros que tentam de tudo para burlar as aulas apresentando atestado médico. Lembro que na minha escola, as aulas estavam mais para uma extensão do recreio do que uma classe propriamente dita.
A escola é um lugar de estímulos. O esporte é leve e descontraído. É bem diferente das ciências exatas. A motivação tem que ser na medida correta, agradável, para não assustar. Nada pior do que forçar uma criança a fazer o que não gosta. As pessoas são diferentes umas das outras e não podemos simplesmente generalizar.
Não sou bom em fazer as coisas que outras pessoas mandam. Desde o primário até a segundo grau eu detestava as aulas de educação física. Era um sofrimento ser obrigado a ir à quadra e praticar exercícios que eu não queria. Deve ser por isso que eu não me dava bem com esportes. Mas, quando comecei a trabalhar e fui praticar atividade física por conta própria, adorei a experiência. Esporte tem que ser experiência prazerosa e não obrigação.