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Parapan 2019

Amandalização é o obstáculo para uma cultura esportiva no Brasil

Amanda é do tipo de adolescente que tem alimentação restrita. Não é por problemas de saúde ou alergia, mas por frescura. Ela sempre gosta de repetir: não comi e não gostei. Um dia desse, saímos para comemorar o aniversário de um amigo num bar perto de casa. Entre vinhos, cervejas artesanais, drinks e refrigerantes, fizemos uma orgia gastronômica de petiscos: de quibe a pasteizinhos, passando por churros de chocolate até bolinho de bacalhau. Todos comeram, menos Amanda. Preferiu pedir o de sempre: filé à parmegiana, igual ao que a vovó faz em casa. Quando ela vai em rodízio de pizza, só come o de sempre, a tradicional de calabresa, sem cebola, é claro. Curioso, questionei o por quê? Ela respondeu com a maior naturalidade do mundo que nunca gostou de experimentar coisas novas.

Ela deve ser um símbolo de pessoas que vivem na própria ilha do comodismo, com medo de arriscar ou de decepcionar com o novo. Fiquei espantado ao saber que ela nunca, eu disse nunca, tinha experimentado quibe de carne com queijo ou até mesmo bolinhos de bacalhau. Como se isso fosse possível em plena era do Instagram, WhatsApp, iFood e Uber Eats. Antes ela fosse uma vegetariana por questões ideológicas ou se alimentasse por luz por espiritualidade.

Lembrei da Amanda porque ela adotou como estilo de vida julgar as coisas sem mesmo experimentar. A Amandalização é uma fábrica de conceitos pré-estabelecidos de forma superficial, pela simples falta de conhecimento ou de contato. É o mesmo tipo de preconceito que as pessoas têm com os esportes paralímpicos. Elas aceitam, para manter a postura de politicamente correto e antenado com as novidades, mas procuram manter certa distância.

Tanto que a emissora detentora de direitos de transmissão dos Jogos Pan nem assinou o contrato para passar o Parapan na televisão aberta, usando a mesma lógica de Amanda: não vi e não gostei. Achar que o brasileiro não vai assistir a uma competição esportiva porque os atletas têm deficiência é não entender a dinâmica do esporte ou do papel de uma emissora de televisão, que vai além da audiência momentânea.

Escrevo isso porque ficou marcado na minha memória os momentos que vivi durante os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro em 2016, com 167 mil pessoas no Parque Olímpico durante as Paralimpíadas, público maior do que dos Jogos Olímpicos que chegou no máximo de 157mil. Vi como os brasileiros invadiram as arquibancadas das arenas do Parque Olímpico para torcer para os brasileiros. Muitas famílias tiveram naquele momento o primeiro contato com o esporte paralímpico.

Presenciei uma quebra de paradigma. Os Jogos mostraram que o público de grandes eventos esportivos não está interessado se o atleta tem ou não deficiência. O torcedor está com vontade de torcer para o Brasil. Acredito que os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro tiveram um papel importante na mudança de cultura esportiva no país. A população passou a conhecer mais os atletas com deficiência e a televisão teve um papel importante ao contar boas histórias durante os Jogos.

Acredito que a amandalização é um dos obstáculos do surgimento de uma cultura esportiva no país. No lugar de só ver o que está acostumado, temos que abrir a mente, principalmente em época de Parapan, para conhecer esportes novos e valorizar novos ídolos para o esporte brasileiro.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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