Sim, eu sei que os Jogos Pan-Americanos de Lima já passaram faz quase uma semana. Acontece que eu queria ter escrito algumas crônicas durante a competição, para aproveitar a visibilidade e ganhar acessos, claro. Não deu, estava sem tempo para crônicas, pois estava preocupado com os fatos, as notícias. Em competições como o Pan, os textos são produzidos em atacado. Entretanto, as crônicas caminham do outro lado da rua, no caminho oposto à obviedade dos fatos.
Eu tinha uma expectativa quando cheguei em Lima. Voltei para casa com uma sensação bem diferente de quando pousei na terra do sol, em que os antigos adoravam a grande estrela. Sol que se escondeu durante os 21 dias que passei na capital peruana, por conta da camada cinza e úmida de névoa e garoa, que garantia um dia inteiro de frio e que dava a impressão de estar participando dos Jogos Pan-Americanos de Inverno e não os de verão.
Os Jogos Pan não são os Jogos Olímpicos pelo simples fato de que as olimpíadas reúnem 202 países do mundo inteiro e o Pan são 41 das Américas. É menor em proporção, mas é grande em valor. O evento tem um charme único. O Brasil fica mais próximo das nações vizinhas. Devemos valorizar o evento sim, mas o Pan não pode servir completamente de referência. O Brasil contou com 485 atletas e voltou para casa com o segundo lugar no quadro de medalhas pela primeira vez em 56 anos e garantiu o melhor resultado da história, seja em número de pódios ou em quantidade de ouros: 55 ouros, 45 pratas e 71 bronzes.
A única coisa que senti falta durante a cobertura dos Jogos Pan-Americanos em Lima foi o poder da onipresença. Os locais de competições eram distantes, trânsito caótico e tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Deu até para ficar perdido diante de tantas escolhas. No domingo dia 5, por exemplo, o grande dia “D” do Brasil nos Jogos, foram conquistadas sete medalhas de ouros pelo país. Teve pódio na canoagem slalom, maratonas aquáticas, longboard, tênis e natação, para citar alguns. Com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, o Pan é o tipo de evento que não foi feito para as pessoas do signo de Libras, pois os indecisos sofrem muito com tantas opções de competições para acompanhar.
Depois de 19 dias de disputas, voltei para casa com a certeza é de que podemos ter mais outros 19 dias voltados só para as pautas perdidas. Tantas histórias que não vimos, fatos que passaram despercebidos e casos que ficarão ocultos para o grande público. Nem tudo está perdido, vem aí os Jogos Parapan-Americanos, entre os dias 23 de agosto e 1 de setembro. Boas histórias não irão faltam, só mesmo o poder da onipresença para poder acompanhar tudo de perto.