Fui contagiado com alegria igual a de uma criança que ganha um PlayStation de última geração no aniversário de 10 anos, quando a notificação do celular avisou sobre o e-mail que acabara de chegar com o localizador das passagens aéreas. Era a certeza de que dali a alguns dias eu iria acompanhar os atletas brasileiros durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. A euforia é maior do que quando a credencial com minha foto do grande evento chega na minha casa, porque “passe livre” sem bilhete aéreo não vale nada.
Toda grande competição começa e termina no aeroporto. É possível sentir o clima esportivo já no saguão. Se você estiver voando para o mesmo destino em que será disputada uma grande competição, é bem provável que, entre bagagens e executivos apressados para embarcar você veja, aqui e ali, casacos verdes e amarelos do Time Brasil surgirem. Atletas, dirigentes, torcedores e jornalistas se encontram em meio a lojas de conveniência, farmácias e cafés com os preços nas nuvens.
É no aeroporto, no momento de despachar as malas, que o sonho se torna realidade. A realidade da fila, da espera e da paciência. O problema não é ver o saguão do aeroporto repleto de jovens uniformizados, igual uma excursão escolar, mas o volume de bagagem de uma delegação. Em Lima, entre atletas, oficiais e outros profissionais, a delegação brasileira contará com 750 pessoas. São levadas não só os uniformes de competição, treino e passeio, mas todo tipo de equipamento. Você encontra na esteira desde bolas de boliche até bicicletas, passando por remos, pranchas e varas. A tralha não é maior apenas do que quando você viaja de férias com bebê de colo.
Se nas arquibancadas a briga é para chegar perto dos atletas, na hora de fazer o check-in a alegria é ficar distante de algumas figuras, como os grandalhões do basquete, do vôlei, do levantamento de peso ou mesmo dos pesos pesados do judô. Nada contra, mas, não é confortável passar várias horas em companhia de um gigante na poltrona ao lado.
Esteira de raio-x, escalas, filas, espera, imigração, filas e mais filas. Foi assim que embarquei feliz da vida rumo ao velho continente em 2012, para cobrir os Jogos Olímpicos de Londres. No mesmo voo, uma surpresa: Bernardinho e a Seleção Brasileira de vôlei masculina. A equipe titular foi na primeira classe e eu, claro, na econômica, sentado na poltrona 15B, no meio. Ao meu lado esquerdo sentou um jovem jogador e do outro, uma senhora de meia idade. O atleta foi vivenciar uma experiência olímpica com a equipe principal. O rapaz, de 1,97m, foi o meu companheiro nas eternas 11h de voo entre São Paulo e Londres. A companhia foi uma honra desconfortável, confesso. Quase não consegui dormir. Quando o avião pousou no aeroporto de Heathrow, senti o corpo todo moído e, nas horas entre aeroporto, voo e pouso, caiu a ficha de que a maratona da competição começa de verdade quando você sai de casa. E nessa primeira batalha o pódio vai para aqueles que conseguem uma poltrona vaga ao lado.