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Pan 2019

Voando com os atletas

Fui contagiado com alegria igual a de uma criança que ganha um PlayStation de última geração no aniversário de 10 anos, quando a notificação do celular avisou sobre o e-mail que acabara de chegar com o localizador das passagens aéreas. Era a certeza de que dali a alguns dias eu iria acompanhar os atletas brasileiros durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. A euforia é maior do que quando a credencial com minha foto do grande evento chega na minha casa, porque “passe livre” sem bilhete aéreo não vale nada.

Toda grande competição começa e termina no aeroporto. É possível sentir o clima esportivo já no saguão. Se você estiver voando para o mesmo destino em que será disputada uma grande competição, é bem provável que, entre bagagens e executivos apressados para embarcar você veja, aqui e ali, casacos verdes e amarelos do Time Brasil surgirem. Atletas, dirigentes, torcedores e jornalistas se encontram em meio a lojas de conveniência, farmácias e cafés com os preços nas nuvens.

É no aeroporto, no momento de despachar as malas, que o sonho se torna realidade. A realidade da fila, da espera e da paciência. O problema não é ver o saguão do aeroporto repleto de jovens uniformizados, igual uma excursão escolar, mas o volume de bagagem de uma delegação. Em Lima, entre atletas, oficiais e outros profissionais, a delegação brasileira contará com 750 pessoas. São levadas não só os uniformes de competição, treino e passeio, mas todo tipo de equipamento. Você encontra na esteira desde bolas de boliche até bicicletas, passando por remos, pranchas e varas. A tralha não é maior apenas do que quando você viaja de férias com bebê de colo.

Se nas arquibancadas a briga é para chegar perto dos atletas, na hora de fazer o check-in a alegria é ficar distante de algumas figuras, como os grandalhões do basquete, do vôlei, do levantamento de peso ou mesmo dos pesos pesados do judô. Nada contra, mas, não é confortável passar várias horas em companhia de um gigante na poltrona ao lado.

Esteira de raio-x, escalas, filas, espera, imigração, filas e mais filas. Foi assim que embarquei feliz da vida rumo ao velho continente em 2012, para cobrir os Jogos Olímpicos de Londres. No mesmo voo, uma surpresa: Bernardinho e a Seleção Brasileira de vôlei masculina. A equipe titular foi na primeira classe e eu, claro, na econômica, sentado na poltrona 15B, no meio. Ao meu lado esquerdo sentou um jovem jogador e do outro, uma senhora de meia idade. O atleta foi vivenciar uma experiência olímpica com a equipe principal. O rapaz, de 1,97m, foi o meu companheiro nas eternas 11h de voo entre São Paulo e Londres. A companhia foi uma honra desconfortável, confesso. Quase não consegui dormir. Quando o avião pousou no aeroporto de Heathrow, senti o corpo todo moído e, nas horas entre aeroporto, voo e pouso, caiu a ficha de que a maratona da competição começa de verdade quando você sai de casa. E nessa primeira batalha o pódio vai para aqueles que conseguem uma poltrona vaga ao lado.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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