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Crônicas Olímpicas

Protagonista que exerce o papel de coadjuvante

Como até as pessoas insubstituíveis precisam ser substituídas um dia, Formiga está com os segundos contatos para encerrar um ciclo e começar uma nova vida.

Se a vida começa depois dos 40 anos, o que podemos esperar mais de Formiga, que completou 41 anos e segue como jogadora indispensável na Seleção Brasileira? Sempre acreditei que manter o espírito jovem bastaria para congelar o tempo. No futebol, a idade é inversamente proporcional ao rendimento. A regra vale para a maioria das jogadores normais e não para Miraildes.

Certa vez, o técnico da Seleção Brasileira, Vadão, revelou em entrevista que a Formiga “não é deste planeta”. A frase explica muita coisa, mas deixa um mistério no ar: de qual planeta ela veio?

Refugiada na terra, ela só pode ter vindo do planeta bola, conterrânea de imortais das quatro linhas. A passagem terrena da baiana é marcada pela raça, agilidade, visão de jogo e, principalmente, preparo físico. Em duas décadas de carreira, ela continua correndo como uma adolescente. Em campo, exercita o poder da onipresença. A bola vira de um lado para outro e passa pelos seus pés como se fosse uma regra.

A ausência de deslumbramento e a manutenção do foco são os segredos de gente vencedora como a Formiga. Ela é exemplo de protagonista que exerce o papel de coadjuvante, basta ver o seu currículo. Teve que ralar muito até chegar aonde chegou, nada foi de mão beijada.

Entrou para a história como a única atleta a disputar sete Copas do Mundo de futebol – recorde entre homens e mulheres (1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019). A estreia foi aos 16 anos. Ela também é a brasileira que mais competiu em Jogos Olímpicos, em seis edições – todas em que a modalidade foi disputada nos Jogos (1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016).

Certa vez, a cronista Martha Medeiros escreveu, em uma coluna sobre os 20 anos da primeira vitória de Guga em Roland Garros, que competência + gratidão + consciência do papel que representa = admiração de todos os brasileiros. Essa é, sem dúvida, a mesma fórmula aplicada na carreira de Formiga.

No volante da seleção, Formiga dirige a equipe como ninguém ao longo de quase duas décadas. Como até as pessoas insubstituíveis precisam ser substituídas um dia, ela está com os segundos contatos para encerrar um ciclo e começar uma nova vida.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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