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Crônicas Olímpicas

Vitória tem mil pais e a derrota é órfã, de pai e de mãe

Caio Júnior está no alto do pódio, com sorriso no rosto, olhos cheios de lágrimas e orgulho no coração. Só o garoto sabe os perrengues que passou para colocar no peito uma medalha dos Jogos Pan-Americanos, a segunda competição mais importante do ciclo olímpico. Dedicação, treinos, dieta, dormir e acordar cedo, deixar de sair aos fins de semanas com os amigos e, claro, a falta de dinheiro. Não demora para que a foto do pódio, tirada lá do estrangeiro, com a bandeira do Brasil nos ombros, passe a bombar nos grupos de WhatsApp da cidade do interior. Um orgulho do filho ilustre do município de 20 mil habitantes.

Cidade pequena é assim, quando algo excepcional acontece, vira assunto durante um mês, nos grupos de WhatsApp, nas conversas na porta de casa, nas mesas dos botecos e no papo furado nas praças. Rogerinho, da padaria de frente para a igreja Matriz, já foi logo digitando: “Sempre acreditei no filho do Juca. Desde sempre ajudei esse menino quando passava na padaria”, escreveu, orgulhoso, se autoproclamando o primeiro “patrocinador”. A professora Sônia Regina, da escola municipal Santos Dumont, fez questão de elogiar. “Desde sempre vi que o Juninho iria brilhar. Nas aulas, não parava quieto, uma energia de atleta”, lembrou a tia da quarta série.

Não demorou para que as autoridades locais virarem especialistas em esporte. O prefeito foi logo convocando o seu gabinete para preparar uma festa, das boas, para receber o jovem campeão, com direito a desfile em carro de bombeiros (emprestado da cidade vizinha) e um show da melhor banda da região. Festa vai custar mais cara do que um ano de bolsa-apoio que o atleta recebe do governo do Estado, porque o município mesmo não tem um tostão para apoiar os seus atletas por meio da Secretaria da Juventude, Cultura, Turismo, Sustentabilidade, Esporte, Serviços Urbanos, Entretenimento e etc…

Aos poucos, o pódio foi ficando apertado para tantos “donos”. Todo mundo querendo tirar uma lasquinha da vitória alheia, e a medalha mostrou que tem o poder mágico de ressuscitar pessoas desaparecidas. O Agberto, o padrinho que não vê o afilhado desde o batizado, apareceu para comemorar e parabenizar os compadres pelo filho campeão. Recebeu ligações de pessoas que nunca imaginou que iria conversar na vida, como a do governador e de um apresentador de televisão famoso no Estado. Como dizem por aí, a vitória tem vários pais. Caio Júnior descobriu que na vida não existe solidão na glória.

Uma semana depois, Caio Júnior voltou a competir. Como não dá para ganhar todas, passou longe do pódio. Acabou a prova, não recebeu nem abraço do técnico, nem foi entrevistado pelo assessor de imprensa da confederação e nem recebeu nenhum “oi” no WhatsApp. Caio não demorou para encontrar com as frustrações da derrota e descobrir que a derrota é órfã, de pai e de mãe.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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