Estava sentado, em frente ao espelho, com um olho no meu cabelo e outro na televisão ao lado, quando o Piauí, o barbeiro que corta o meu cabelo desde os meus 15 anos, fez mais uma de suas análises brilhantes. Jurandir, nome de batismo do Piauí – nascido e criado em São Raimundo Nonato – é a pessoa mais informada que conheço. Passa o dia ouvindo o noticiário na TV. Prefere ouvir do que assistir, porque sabe que é capaz de arrancar a orelha do cliente com a navalha quando tira o olho do serviço. Piauí é um especialista em risca de navalha, moicanos, topetes, franjas, dreads, política, economia, celebridades e, principalmente, esporte. Tem opinião para tudo, como os comentaristas de mesas-redondas futebolísticas.
Geralmente, corto o cabelo de 15 em 15 dias. No Piauí, perco cabelo e ganho conhecimento. Papo vai e papo vem, ele sempre aparece com uma sacada nova e com novidades que nunca tinham ouvido falar. Pensa num cara que entende das coisas. Mas, na semana passada, foi a vez do aluno, eu, virar o professor.
Na TV, uma vinheta anunciava a transmissão dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, no Peru. Piauí foi logo falando. “Estou doido para começar essas olimpíadas. Quero ver o Brasil ganhando medalhas”, palpitou. Muita coisa na vida eu relevo e deixo passar, mas confundir Jogos Pan-Americanos com Jogos Olímpicos é dose, não dá. É fake news dos bons. Por incrível que pareça, são duas coisas totalmente diferentes. É como confundir Champions League com Libertadores, Campeonato Paulista com o Carioca ou Messi com Neymar.
Pan é um evento raiz e Olimpíada é nutella. Só o fato de ter a disputa de boliche, já garante o meu respeito. Nós, brasileiros, somos mais um nas Olimpíadas. No Pan, estamos entre as potências. Para o Brasil, o Pan é melhor do que as Olimpíadas por conta da nossa autoestima. Tem tudo o que o brasileiro gosta: muitas medalhas, sejam elas de qualquer cor. Grandes atletas do país ganharam fama por meio da competição, como Thiago Pereira e Hugo Hoyama.
Piauí não se conteve, depois da minha explicação, lançou um trocadilho. “Não sei se é Olimpíada, mas quero ver o desempenho do Peru em casa”, brincou. Piauí mostrou que os brasileiros não estão preparados e não têm maturidade para ver os Jogos no Peru. Sem dúvida, o Peru desperta a quinta série que existe dentro de nós, não tem jeito. Não precisa ser a Mãe Dináh para saber que todo mundo vai fazer uma piada com o Peru alheio.
Já consigo enxergar uma enxurrada de trocadilhos. Em 2019, teremos mais piadas de duplo sentido do que medalhas. Veremos as primeiras piadas logo na cerimônia de abertura, quando o Peru for entrar. Dizem que o Peru vai com força total no Pan. Então, veremos muito o Peru sendo premiado. Peru ganhando, Peru perdendo, Peru no Pódio e Peru comemorando.
Vão falar sobre a superioridade do Peru. Do desempenho do Peru. Que teremos fé de que o Peru não vai decepcionar em casa. Que em casa, o Peru terá que mostrar um desempenho melhor. É, caro leitor, está não é uma crônica edificante. Muito menos informativa. Desculpa te decepcionar. Fiz você ler tudo isso para você me ajudar a aumentar a coletânea de trocadilhos que poderemos utilizar durante os Jogos Pan-Americanos. Vou começar a lista e convido você a deixar o seu comentário, para ver a lista crescer:
O Peru tá incansável hoje.
O Peru cresce no jogo.
É muito pressão em cima do Peru.
O técnico não pode passar a mão na cabeça do Peru.
O Peru tá nervoso e com dificuldade para crescer.
Passou o Peru na fase de classificação.
Foi apertado, mas o Peru entrou.
Peru terá que mostrar a sua superioridade em casa.
O Peru entrou e nem vi.