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Futebol

Sobre futebol, VAR e jeitinho brasileiro

Chamado por muitos como “jeitinho brasileiro”, infringir os mandamentos das quatro linhas é, na verdade, a mais pura trapaça.

O Brasil nunca deixou de ser o país do futuro, nunca saiu do patamar de nação em desenvolvimento e continua entre os países mais corruptos do mundo por conta do futebol. Os sociólogos de plantão gostam de repetir a tese de que os presídios viraram fábricas de malandros, isso porque eles nunca olharam para os campos de futebol.

É assistindo o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil pela televisão, jogando nos campinhos de várzea – animal em extinção por conta da praga dos campos sintéticos – ou jogando golzinhos descalço no asfalto, que o menino aprende a ser esperto, a trapacear, a fingir e a enganar as autoridades (o árbitro de futebol, no caso). Chamado por muitos como “jeitinho brasileiro”, infringir os mandamentos das quatro linhas é, na verdade, a mais pura trapaça. Uma malandragem que saiu das quatro linhas, subiu para as arquibancadas e invadiu as ruas.

Basta você andar por aí para identificar o hábito típico de alguns jogadores brasileiros: simular, fingir ou tentar levar vantagem. É tanta malandragem nas ruas, na televisão, no rádio e na internet, que temos que reparar bem para que os nossos ataques à corrupção não vêm sempre com uma pontinha de inveja, como já disse certa vez Millôr Fernandes. Claro, o futebol não inventou a corrupção, mas ajudou a popularizar.

Calma, ainda existe esperança. O ano de 2019 começou e muita coisa vai mudar. O Messias que vai salvar a Pátria Mãe Gentil chegou e já é o mais comentado do Brasileirão 2019: o VAR (Video Assistant Referee). O VAR veio para salvar o nosso país. Tanto que o profeta/árbitro Ricardo Marques Ribeiro, parou na frente do monitor, concentrado, com os olhos contemplativos, e, com a mão direita, fez o sinal da cruz abençoando a criação, que só pode ter nascido de uma inspiração divina.

A graça do esporte sempre foi ver o mais fraco vencer. O jeitinho brasileiro só favorece quem já nasceu em berço de ouro, com privilégios, como os grandes clubes de futebol. O VAR veio para resgatar a ética, a moral e o patriotismo. Foi apenas para isso que ele foi criado, ou pelo menos deveria ter sido. Aprendi, desde cedo, que somos aquilo que fazemos quando estamos sozinhos, sem ninguém vendo. Agora, com o Big Brother da arbitragem, o jogador brasileiro terá que optar ou pela carreira de atleta ou a de ator. Não tem mais espaço para as duas profissões dentro de campo.

Muita gente é contra o VAR, eu sei. Quatro em cada cinco amigos é contra o VAR quando ele acerta contra o seu time de coração. E quatro em cada cinco vira a favor do VAR quando ele favorece o seu time de coração. É uma questão de tempo para os erros de arbitragem deixarem de ser pauta das conversas nas mesas de bar, para falarmos com o que realmente interessa: a bola na trave, as canetas, as jogadas espetaculares e os gols de placa. A verdadeira emoção do esporte. Claro, eu sei, o árbitro de vídeo estará longe de fazer do futebol um jogo infalível. Mas o VAR é a luz no fim do túnel, para o futebol e para o Brasil.

*Alerta! Esta crônica é irônica. Não reflete a opinião deste cronista. Serve como reflexão sobre o valor que damos ao esporte e seus recursos, quando a paixão é maior do que a razão.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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