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Crônicas Olímpicas

Natação é o único esporte que tem cheiro

Água, biquíni, sunga, touca, óculos e protetor solar à prova d’água. Mistura tudo, chacoalha bem e tá, lá, o cheiro marcante de natação.

O bom perfume gruda no nariz. O mais primitivo dos sentidos resgata as mais belas lembranças. Escrevo isso porque sempre fui levado pelo cheiro, pois ele traz recordações como o da infância, do bolo saindo do forno, do condicionador Neutrox, do pão de queijo da casa da vovó, do Vick VapoRub, do Biotônico Fontoura e do Cheetos de bolinha. E não é diferente quando chego perto da borda da piscina. Por isso que acredito que a natação é o único esporte que tem cheiro.

Quem já frequentou clube, academia ou complexo aquático já sentiu o aroma de natação. Água, biquíni, sunga, touca, óculos e protetor solar à prova d’água. Mistura tudo, chacoalha bem e tá, lá, o cheiro marcante de natação. Aroma que encontra espaço na memória e provoca sensações, como o da pele do amor da adolescência. Uns acham que é o cloro, eu chamo de cheiro de natação.

Você é banhado com esse perfume quando mergulha de cabeça na água cristalina e fica no corpo, impregnado, mesmo depois da chuveirada pós-treino. Sempre tive uma atração por piscina. Meu cérebro recorda da infância cada vez que sinto esse perfume. Entrei na natação aos 5 anos, no SESI, perto de casa. Eu era uma piaba dentro d’água. Confesso que na época eu preferia ficar subindo e descendo no escorregador do que fazendo o exercício monótono de respiração na borda da piscina. Desde então me considero um nadador não praticante.

Pedro, o amigo de Jesus, foi o primeiro homem (e mulher) que se tem notícia que andou sobre as águas. Já os nadadores realizam milagre parecido ao deslizar sobre elas, de forma que parece natural e mais rápido do que todo resto dos mortais. Porque sair de terra firme, cair na água, nadar, aperfeiçoar o estilo e treinar para melhorar sempre o tempo, é ir contra a própria natureza de homem e de mulher.

Na última competição de natação que vi, observei, na beira da piscina, uma jovem dando umas 20 braçadas. Ela atravessou a piscina de forma tão graciosa que tive a impressão de que ela estava sendo puxada por um cabo de aço pelas mãos, pela sutileza e naturalidade que executava os movimentos. É a mesma impressão que tenho quando vejo Cesar Cielo, Thiago Pereira, Joana Maranhão, Etiene Medeiros, Gustavo Borges ou Fernando Scherer dentro d’água.

Como jornalista, cobrir natação é empolgante e, se você estiver sozinho, pode se tornar apavorante. A competição é frenética, atletas entram na piscina um atrás do outro, sem tempo para respirar. Primeiro, você tem que decidir onde vai assistir a prova: do alto, nas arquibancadas (olhando pelo telão), longe dos nadadores, ou na parte de baixo, perto da piscina, para pescar alguma declaração dos atletas depois das provas. Porém, de qualquer lugar que escolher, vou sentir o cheiro único de natação.

Acredito que você que lê esse texto já fez, ao menos uma vez, uma aula de natação e percebeu que a prática é bem diferente da teoria. É complexo nadar. Movimentos como borboleta e costa exigem muita coordenação motora, algo que nunca tive. Mas o cheiro de piscina, ahhhh… é o cheiro de recordação.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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