Estou com dificuldade para dormir. Não é só por conta do calor das noites de Brasília. Quando, enfim, pego no sono, vira e mexe tenho sonhos bizarros. Na maioria das vezes não lembro deles quando acordo. Ontem, por exemplo, tive um sonho estranho. Eu estava em casa, sem nada para fazer. Liguei a televisão em um canal esportivo. Passava um daqueles milhares de programas de mesa redonda.
No primeiro momento, tudo aparentava ser uma mesa redonda típica de canais de tevê por assinatura que não tem direito de transmissão de quase nenhum campeonato de futebol e, mesmo assim, passam o dia debatendo sei lá mais o quê dos campeonatos que eles não transmitem.
Quatro jornalistas, três homens e uma mulher, falavam sobre a carreira do nadador Cesar Cielo. Na legenda do programa estava a pergunta: Cielo parou ou não a carreira? Eles passaram mais de 30 minutos debatendo sobre o assunto. Um dos comentaristas chegou a dizer que Cielo era um mito. Outro, ressaltou que o atleta era o maior nadador da história deste país, o maior velocista da natação mundial em todos os tempos, nosso único campeão olímpico, atual recordista mundial dos 50 e 100 metros nado livre, maior medalhista do Brasil em Campeonatos Mundiais, maior atleta brasileiro medalhista em Mundiais. Ao ver aquele debate, imaginei que o assunto estava rendendo uma audiência alta ao programa.
Eles mudaram de assunto no segundo bloco. Foi a vez da jornalista ressaltar as escolhas do técnico Washington Nunes na campanha histórica da Seleção Brasileira de Handebol, no mundial de 2019. Ela comentou as cinco vitórias, em oito jogos, que garantiram o nono lugar geral. No meio na análise, o jogador brasileiro Haniel Langaro foi entrevistado ao vivo, por meio de link. O jogador, de 23 anos e 1,98m, comentou a sua participação no mundial e a recém contratação pelo Barcelona.
Depois de mais de 60 minutos de programa, o último bloco começou com o bicampeonato do mesa-tenista Hugo Calderano na Copa Pan-Americana, disputada em Porto Rico. Segundo os comentaristas, o carioca, de 22 anos, venceu o norte-americano Kank Jha por 4 sets a 1. Eles comentaram também sobre o novo contrato do canoísta Isaquias Queiroz para o clube do Flamengo, da seleção masculina de vôlei, das escolhas da Seleção Brasileira de hóquei sobre a grama, os desafios da temporada do Caio Bonfim, da marcha atlética, e como será o processo de classificação olímpica na escalada.
Foi quando passou um carro com som alto na rua e acordei, no susto. O sonho parecia tão real que ficou fresco na minha memória. Levantei da cama, tomei banho e escovei os dentes. Enquanto preparava o café da manhã, liguei a televisão. No primeiro momento pensei que era um Déjà vu. As imagens mostravam uma mesa redonda parecida com a do meu sonho. Porém, eles estavam falando do parça Neymar. Falaram sobre a fratura do quinto metatarso do pé direito (seja lá o que isso quer dizer), do período de recuperação do jogador, da rotina fora de campo, do comportamento do jogador, do cabelo do jogador, de que a Bruna Marquezine parou de seguir o jogador no Instagram. Era uma mesa redonda real. Depois, eles falaram sobre futebol, futebol e futebol. Lembrei que estou no país do futebol. Eu preferia ficar sonhando.