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Crônicas Olímpicas

Aperto de mãos histórico

Divulgação

Atletas, técnicos, dirigentes e jornalistas colocavam o papo em dia em meio aos garçons servindo sucos, refrigerantes, drinks e salgadinhos. O clima era de comemoração na entrada do teatro Bradesco, no Rio de Janeiro. Foi ali que tive a certeza de que os bastidores são o que têm de melhor no Prêmio Brasil Olímpico. Antes da cerimônia oficial, as pessoas estavam chegando, ainda tímidas. Depois, com muitos atletas satisfeitos pelo reconhecimento e exibindo seus troféus, a descontração foi garantida.    

Mesmo acostumado em ver diferentes esportes durante o ano, são muitos rostos que a gente confunde com tanta maquiagem, cabelos cortados, ternos e vestidos. É difícil identificar as pessoas em meio a tanta produção nessas cerimônias de gala. Confesso que foi difícil reconhecer alguns atletas sem os uniformes de trabalho.

Diferente de outras festas, foi comum encontrar mulheres com a mesma roupa. Olha, elas nem reclamaram. Ana Marcela Cunha estava com o tradicional uniforme da Marinha: saia e terninho branco, com gravata preta. Mesma roupa de Laís Nunes (luta olímpica), Ágatha Rippel (vôlei de praia), Kahena Kunze (vela) e Beatriz Ferreira (boxe). Arthur Zanetti estava com um terno preto e camisa social e gravata rosa. O ciclista Henrique Avancini optou por algo mais descolado, com terno azul na medida e sem gravata. Já a carioca Ingrid de Oliveira (saltos ornamentais) arrancou suspiros ao passar com o vestido longo vermelho, com corte aberto até a altura da coxa da perna esquerda.

Com tantas distrações, quase ninguém percebeu a cena mais importante da noite. Já no final, quando muitos estavam pedindo Uber para ir embora, o velejador Torben Grael passou cerca de cinco minutos observando, de longe, o jovem Isaquias Queiroz, que conversava com a imprensa após receber o prêmio da noite de Melhor Atleta de 2018. Com uma paciência de velejador experiente esperando o vento certo, Torben aguardou a oportunidade para avançar e interromper o baiano.

Torben se aproximou e as mãos de duas gerações do esporte brasileiro se tocaram. Nunca antes um aperto de mão teve tantos significados. Isaquias tem tudo para igualar o velejador Torben Grael em número de medalhas em Jogos Olímpicos. Torben, ao lado do também velejador Robert Scheidt, conta com cinco pódios. Os dois são os maiores medalhistas do Brasil. Isaquias soma três pódios (duas pratas e um bronze). Elas foram conquistados em 2016, nos Jogos do Rio de Janeiro. Ele já pode igualar a marca em Tóquio 2020. Com 24 anos, o baiano tem tudo para se tornar o maior medalhista olímpico do país em número de pódios.

O diálogo entre Torben e Isaquias foi curto. O velejador parabenizou o canoísta pelo prêmio e fez questão de profetizar que Isaquias vai ultrapassá-lo em número de medalhas. Os olhos de Isaquias transbordavam gratidão. Lisonjeado, agradeceu. Ele acolheu as palavras como uma criança que recebe um grande presente de Natal.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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