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Crônicas Olímpicas

A difícil arte de perder

Esquecemos que o esporte é mais do que uma medalha de ouro. Na verdade, o esporte é ganhar uma partida, perder outra, se superar na seguinte e voltar a ganhar ou perder. Não se engane, a vida também é assim.

Boxe Robson Conceição
Mike Ehrmann/Getty Images

Os esportes lidam com pessoas que perdem, perdem e perdem. Não se engane, a vida também é assim. Crescemos aprendendo que o importante é vencer, mas esqueceram de avisar que, na balança da vida, teremos mais derrotas do que vitórias. Pois é. No caminho até o pódio, o GPS vai nos levar, necessariamente, pelas trilhas das perdas. Acredito que valorizamos tanto as vitórias porque na nossa mente as conquistas são sinônimas de alegria. O que está em jogo na verdade é a busca pela felicidade.

Dizem que esta geração cresceu achando que merece tudo, que é campeã sem sair do berço e que tudo será conquistado de forma fácil, espontânea e rápida. De certa forma a culpa de valorizar as glórias é nossa, jornalistas. Dedicamos manchetes de jornais, horário nobre na TV, capas de sites e posts nas redes sociais para os que terminam em primeiro.

Esquecemos que o esporte é mais do que uma medalha de ouro. Na verdade, o esporte é ganhar uma partida, perder outra, se superar na seguinte e voltar a ganhar ou perder. Imagina se a vida fosse somente levantar troféu, não existiriam competições. Esquecemos que a derrota é mais interessante que a vitória fácil. Ela cria a persistência, testa a fidelidade e produz sonhos.

Pensa na Copa do Mundo de Futebol. O evento na Rússia contou com 32 seleções em campo. Depois de 30 dias de jogos, o goleiro Hugo Lloris foi o único que levantou a taça de campeão mundial depois dos franceses vencerem a Croácia por 4 a 2 em Moscou. Se no mundial de futebol é difícil, imagina nas Olimpíadas? Os Jogos do Rio de Janeiro, por exemplo, contaram com mais de 10 mil atletas e foram distribuídas mais de 300 medalhas de ouro. Não crie expectativas. A vitória é para poucos. É melhor ir se acostumando.

O mestre Millôr Fernandes (esse sim um campeão das palavras) já brincava que “o pior do espírito esportivo é que a gente só pode demonstrá-lo na derrota”. Nela que o ser humano revela ao mundo quem verdadeiramente é. Perder no Brasil é diferente de perder no resto do mundo. O músico e compositor Tom Jobim já tinha falado que o brasileiro não gosta de quem faz sucesso. Não sei se isso é verdade, mas eu sempre tive dificuldade em lidar com perdas, seja nas partidas de dominó, jogando truco com a família, ou nos jogos de FIFA no PS4, com os amigos. O gosto da derrota sempre será amargo.

Conversando com o pugilista baiano Robson Conceição, ele soltou essa frase com toda a sua voz calma, tranquila e sotaque carregado de baianidade: “Eu falo para os outros atletas nunca desistirem. Se fosse pela derrota, eu não estaria aqui. Quando comecei no boxe, fiz dez lutas e perdi todas. Pense no quanto apanhei. Mas, se tivesse desistido, hoje não seria campeão olímpico”. O baiano conquistou ouro no Rio 2016. A persistência é uma de suas características marcantes. Robson subiu ao ringue em Pequim, em 2008, e em Londres, em 2012. Em ambas, perdeu na luta de estreia.

Escrevo isso porque não podemos ignorar as derrotas, mas respeitá-las. Acredito que quem não compreende as perdas não valoriza os processos, o crescimento e a evolução. Quem tem medo da derrota não entra na disputa, não vive; sobrevive.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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