É fácil ouvir por aí que o esporte transforma vidas. O difícil é encontrar as vidas que foram transformadas pelas modalidades. No Brasil temos algumas histórias no esporte de alta performance, quando jovens sem condições financeiras têm a oportunidade de viajar pelo mundo, conhecer novas culturas e conseguir a tão sonhada estabilidade financeira. Nesta semana, conheci um exemplo totalmente diferente dos convencionais, de um garoto de Florianópolis, Santa Catarina.
Vi o Lucas Gabriel Fernandes Antunes, de 14 anos, pela primeira na pista de atletismo da Universidade Federação do Rio Grande do Norte (UFRN). Baixinho, forte e muito veloz, ele deixou todos os adversários para trás na prova de classificação dos 74 metros dos Jogos Escolares da Juventude. Foi tão rápido que bateu um dos recordes mais antigos dos Jogos Escolares. Ele marcou 8s63 na categoria 12-14 anos. A marca anterior era de 8s66 de Paulo César Junior, registrada, em Brasília, em 2005.
Fiquei curioso com o desempenho e, assim que a prova terminou, fui correndo conversar com o garoto. Estudante do colégio Santa Terezinha, já fui perguntando desde quando ele corria. Na minha cabeça, com tanta força e velocidade em comparação aos outros adversários, esperava outra resposta dele e não de que tinha começado no atletismo há somente sete meses. Aos poucos, ele foi contando a história que o fez chegar até a cidade de Natal para disputar a principal competição escolar do País.
Lucas sempre gostou de correr. Tanto que no futebol ele jogava na lateral direita. A velocidade virou rotina no dia a dia e tudo surgiu como raio desde quando começou a praticar o atletismo. Adotado aos 6 anos, ele vivia tranquilo com a nova família que o acolheu. Trocou as chuteiras de futebol pelas sapatilhas, no último mês de abril, quando foi parar na União Catarinense de Atletismo (UCA), em São José. Já no primeiro dia de treinos o irmão biológico Douglas da Silva Ribeiro, 21 anos, o reconheceu depois de oito anos de separação.
“Ele olhou para mim e falou que eu era o irmão dele. Ele conversou com a minha treinadora, já que ele tinha medo de tocar no assunto com o meu pai adotivo, com receio dele não querer a nossa convivência. Como fui adotado aos 6 anos, eu não lembrava dos meus pais e irmãos biológicos. Foi emocionante. Um dia inesquecível na minha vida. Se não fosse o atletismo eu talvez nunca tivesse a chance de conhecê-los”, relembrou Lucas.
Desde que reencontrou o irmão, eles passaram a treinar juntos. “Passei a treinar com ele, e como é bem mais velho, têm 21 anos, ele me puxa. Melhorei muito as minhas marcas e agora bati o recorde da competição. Pena que na final eu me desequilibrei na largada. Mesmo assim ainda vou sair com a medalha de prata na prova e quem sabe eu não conquisto outro pódio”, disse.
A história de Lucas é de encontros que o esporte pode proporcionar na vida das pessoas. Esses poucos meses de atletismo mostraram as possibilidades que a prática esportiva poderá proporcionar na vida dele. O próximo desafio de Lucas será em dezembro, durante os Jogos Sul-Americanos Escolares, que serão disputados em Lima, no Peru. Será a sua primeira viagem internacional. O ano de 2018 ainda não terminou, mas já deixou marcas profundas na história de vida de Lucas Gabriel.