Há 8 meses, as campeãs olímpicas italianas Sofia Goggia e Michela Moioli vivam a glória de discursar em frente a 100 membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e ajudar seu país a conquistar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. Hoje, as duas têm de encarar em Bergamo o confinamento e a morte trazida pelo coronavírus.
Trancadas dentro de suas respectivas casas, região no norte da Itália, a mais afetada pela pandemia do novo coronavírus no país, as duas atletas estão rodeadas pelo mais puro desespero.
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A avó da atleta do snowboard Michaela Moioli faleceu após contrair o Covid-19 e seu avô, que também testou positivo, permanece em tratamento intensivo.
“Parece uma guerra. A cidade está completamente deserta. Os únicos sons que você escuta vêm dos sinos das igrejas e das ambulâncias. Fora dos cemitérios, caixões estão empilhados porque não há ninguém para enterrá-los,” disse Moioli, medalhista de ouro no ski nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang-2018, em entrevista a Associated Press. “Todas as famílias têm ao menos uma pessoa infectada com o coronavírus,” acrescentou.
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Corpos em caminhões militares
Bergamo é o epicentro da província mais atingida da Itália, a da Lombardia, que já contabilizou 2.168 mortes e quase 20 mil casos da doença. Famílias não têm direito de dar adeus aos seus amados, ou mesmo ter um funeral adequado, e o cemitério da cidade segue sem capacidade de receber mais mortos, fazendo com que caminhões militares atravessassem o centro da cidade transportando dezenas de caixões de vítimas do novo coronavírus para cremação em outros lugares.
“É isso que nós escutamos das nossas casas. Os sinos tocando e ambulâncias passando rápido,” tuitou Sofia Goggia, medalhista de ouro em 2018 no ski nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, após a procissão dos caminhões militares com os corpos na quinta-feira (19).
Rintocchi di campane e ambulanze che sfrecciano.
— iamsofiagoggia (@goggiasofia) March 19, 2020
Questo è ciò che si sente da casa. https://t.co/Vabx9gdcTI
“Os hospitais italianos, especialmente na área de Bergamo, estão prestes a colapsar. A ideia de que tantos idosos estejam passando por tantos dias difíceis destrói o meu coração. Eles estão lidando com uma devastadora solidão e depressão. Nós temos que ser resilientes,” declarou Goggia em seu Instagram
Moioli foi forçada a deixar sua casa em Bergamo no início de janeiro quando o coronavírus atingiu a Itália pela primeira vez e se mudou para tendas em Courmayer, cidade localizada a 287 km de Bergamo, para terminar os treinos para a temporada da Copa do Mundo de snowboard e evitar de ser colocada em quarentena.
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Ainda que já tivesse garantido o seu terceiro título da Copa do Mundo, Moioli não se mostrou abatida e venceu a última prova da temporada em Veysonnaz, na Suíça, uma semana atrás. Após a conquista, a atleta se debulhou em lágrimas durante a entrevista após a corrida, ao dizer que ela havia competido “por sua cidade natal”.
“1,2,3… VITÓRIA!!! No fim, vence quem persevera. Três italianos no pódio na Copa do Mundo. Que dia, que temporada! Esse título é pra você, Itália”
Dias depois, sua avó faleceu por conta do coronavírus.
“O funeral durou só cinco minutos, sequer houve tempo de reunir a família. Agora estamos nos preparando para o meu avô Antônio.” disse a atleta.
Apesar de tanta tristeza, a campeã olímpica vê um raio de esperança por dias melhores para o seu país.:
“Quando tudo isso terminar, será melhor ainda ser italiano. As pessoas serão melhores, menos egoístas”.