“Na história do basquete feminino, nunca vi uma situação como essa. E em um momento de profissionalismo. Antigamente era coração. Hoje não. Hoje, muito mais, é de se estranhar uma situação dessa. Conseguiram a medalha de ouro de ineditismo”
As palavras acima, registradas pelo repórter Felipe Domingues, do LANCE!, trazem uma mistura de ceticismo com decepção e dão uma pequena amostra do tamanho do desafio que o experiente técnico Antonio Carlos Barbosa terá pela frente a partir de agora, ao reassumir o comando da seleção brasileira feminina, a poucos meses da participação da equipe nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. E mesmo sem deixar claro, Barbosa sabe que tem pouco a fazer nesta queda de braço entre a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e os clubes da LBF (Liga de Basquete Feminino) que não seja trabalhar.
Nesta quarta-feira, Barbosa iniciou o trabalho de preparação da seleção para o evento-teste do basquete para as Olimpíadas, entre os dias 15 e 17 deste mês, convivendo com um inacreditável boicote das equipes, contrárias à gestão claudicante da CBB, que vetaram a presença de suas atletas. Apenas um clube, o Sampaio Correa, furou o boicote proposto pelo Colegiado de Clubes da LBF. Da lista inicial, Adrianinha, Tainá e Tatiane (América-PE), Gilmara e Joice (Corinthians/Americana), Jaqueline e Tássia (Santo André) enviaram cartas à CBB pedindo a liberação por problemas pessoais.
A única a furar o boicote foi a pivô Clarissa, do Corinthians/Americana, que decidiu se apresentar para defender a seleção no evento-teste.
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Com 50 anos dedicado ao basquete, Barbosa sabe que entrou no meio de um furacão e terá que usar toda a sua habilidade política para trafegar nos dois lados conflitantes e tentar evitar um prejuízo maior, que será atrapalhar a preparação brasileiro rumo aos Jogos do Rio 2016. O momento para esta crise é o pior possível, até porque os resultados obtidos pela seleção feminina nos últimos anos são decepcionantes.
O fato é que em relação ao basquete feminino, a atual gestão da CBB simplesmente fracassou. Isso vem desde o Mundial de 2010, quando deixou a equipe nas mãos do desconhecido espanhol Carlos Colina, passando pelo período em que a diretora e ex-jogadora Hortência Marcari trocou nada menos do que três vezes de técnico na seleção adulta, culminando com a decepcionante campanha nos Jogos de Londres 2012, terminando em 9º lugar (1 V/ 4 D). Neste ciclo olímpico, sob o comando de Luiz Zanon, naufragou no Mundial de 2014, sendo eliminado nas oitavas de final, e nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, ao terminar na quarta colocação, apresentando um jogo sofrível.
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Brigas políticas, geração sem grandes talentos e uma preparação para lá de confusa. O desafio de Antonio Carlos Barbosa à frente do basquete feminino brasileiro na Rio 2016 é enorme e com risco elevado de acumular mais uma decepção. O veterano treinador terá muito trabalho pela frente.