Coluna Diário Esportivo, publicada na edição de 19 de março do Diário de S. Paulo
Pense um pouco e reflita com honestidade: você imaginou que seria possível um dia o Brasil formar um campeão mundial no salto com vara? O que dirá então do salto com vara feminino, modalidade que mal completou duas décadas de existência em competições oficiais e que tem uma hegemonia quase imbatível da russa Elena Isinbayeva, um verdadeiro mito do esporte. Por tudo isso, tem que se tirar o chapéu para o feito da paulista Fabiana Murer, que no último domingo garantiu a inédita medalha de ouro no Mundial Indoor (pista coberta) de Doha, no Qatar. E se pensarmos que há exatos dez anos Fabiana saltou 3m79 em uma prova indoor nos Estados Unidos, é impressionante ela ter conquistado o título mundial com 4m80, marca inclusive inferior ao seu próprio recorde sul-americano, que é de 4m82.
O evidente salto de qualidade na carreira de Fabiana Murer só não é maior do que sua postura realista. “Quando a Isinbayeva está bem, a gente entra para disputar a prata”, reconheceu a nova campeã mundial ao repórter Alessandro Lucchetti, do DIÁRIO, no dia em que voltou ao Brasil. Fabiana tem a verdadeira noção de suas qualidades e defeitos. Sabe que tem que treinar muito mais do que suas concorrentes, até para superar a diferença física existente entre elas. Para completar, a má fase da estrela russa um dia irá acabar. Além de passar em branco em Doha, Isinbayeva já havia fracassado no Mundial de Berlim no ano passado. Alheia à tudo isso, Fabiana Murer segue em frente. E cada vez mais alto.
A coluna Diário Esportivo, assinada por este blogueiro, é publicada às sextas-feiras no Diário de S. Paulo